Um olhar sem preconceitos sobre algumas Religiões não Cristãs

Posted por em 19 mar 2016

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– Reflexões oferecidas em um estudo sobre o tema, em 17-Mar-2016 –

Para entendermos os conceitos oferecidos por essas filosofias como o Taoísmo, Confucionismo e outras, precisamos procurar o desapego a alguns conceitos criados por nós ocidentais.

São percepções muito abstratas, mais mentais e não materiais. Ouso dizer que está mais para percepções do Espírito, do Corpo Mental.

A razão, o Ego, devem ser afastados para que se possa alcançar seus significados. Precisamos nos desapegar de conceitos no concreto.

Tendo como referência o texto sobre o Taoísmo (1) e (2):

  •  “O Tao não transcende o mundo; o tao é a totalidade da espontaneidade ou “naturalidade” de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz. Por isso, o tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o Tao. Por isso, o Tao “faz tudo ao fazer nada.”(1)

“O Tao produz as coisas e é o Te que as sustenta. As coisas surgem espontaneamente e agem espontaneamente. Cada coisa tem o seu modo espontâneo e natural de ser. E todas as coisas são felizes desde que evoluam de acordo com a sua natureza. São as modificações nas suas naturezas que causam a dor e o sofrimento.”(1)

          “Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,

          Na busca do tao, todos os dias algo é deixado para trás.

          E cada vez menos é feito até se atingir a perfeita não-ação.

          Quando nada é feito, nada fica por fazer.

          Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.”(2)

“Para conseguirmos entender o curso natural das coisas, e seguirmos o caminho, temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para podermos desaprendê-los é preciso que antes os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estávamos antes de o termos aprendido.” (1)

“O tao que pode ser expressado, não é o tao absoluto”.(1)

“Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem descodificou o que se está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise, sempre imperfeita, da realidade.” (1)

Podemos perceber o quanto precisamos nos desapegar do concreto para absorver os conceitos do Taoísmo. É um olhar panorâmico, perceber o todo sem nos determos no detalhe que reduz a nossa capacidade de aprender o que seja o Caminho e apreender seus verdadeiros valores.

Esses filósofos já tinham aprendido a olhar com os olhos da intuição.

Ao longo dos séculos que se sucederam, o Ser Humano, em sua grande parte, foi perdendo essa capacidade e se apegou ao Ego, à percepção pelas sensações físicas.

Podemos expandir esses conceitos para levá-los ao encontro do que expõe o Espiritismo.

Certamente vocês perguntarão: Como é isso?

Pensemos juntos.

Para compreendermos o que é Deus não podemos nos fixar em uma imagem antropomórfica. Esse olhar foi o dos povos primitivos que não tinham percepção abstrata, ainda precisavam de ver com os olhos físicos, sentir com o tato, o olfato e o sabor.

Nós já deveremos ter passado dessa fase, pois sabemos que o perceber o invisível está além dos olhos físicos, está no olhar com a Alma.

Quando nos entregamos a uma atividade mediúnica precisamos estar prontos a perceber o mundo espiritual com os olhos da Alma, termos o olhar espiritual. Este olhar proporciona a nós percepções muito mais abrangentes do que o dos olhos do corpo, este muito mais limitado, restrito em suas percepções muitas vezes “contaminadas” pelos preconceitos e valores do dia-a-dia.

Se queremos ser bons médiuns, trabalharmos com o Cristo de forma mais efetiva, precisamos nos abstrair e estarmos conectados aos valores envangélicos do amor, do perdão, do desapego, da profunda compreensão das Leis de Deus, dentro da nossa capacidade atual, mas tentando ampliar, cada vez mais, essa capacidade na busca pelo “ser um verdadeiro cristão, verdadeiro espírita”.

Lembrando reflexões levadas em o documentário Janelas da Alma (entrevistas com pessoas que têm deficiência visual – plena ou parcial): A experiência de se perder a visão física pode trazer desconforto, mas ao mesmo tempo pode ser enriquecedora porque passamos a ter um “olhar” mais aguçado para o que nos acontece. O enxergar pode proporcionar uma limitação para a percepção do mundo. O conhecimento nasce do incômodo, que nos faz procurar novas alternativas e percepções.

Neste mesmo documentário, Oliver Sacks, neurologista de grande conceito na sua área de atuação (falecido há pouco tempo) traz a seguinte reflexão:

“Se dizemos que os olhos são a janela da Alma, sugerimos, de certa forma, que os olhos são passivos e que as coisas apenas entram. Mas a Alma e a imaginação também saem. O que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura, pelas teorias científicas mais recentes.

Acredito que… Se alguma vez vimos raspas de ferro sobre um ímã e qual o comportamento de um campo magnético, acredito que isso entra no imaginário de certa maneira e posso ver o campo invisível do imã. Eu posso vê-lo, sem o ver. Posso vê-lo com os olhos da mente.”

No Confucionismo também observamos valores importantíssimos para o nosso caminhar: (3)

“Conhecido pelos chineses como junchaio (ensinamentos dos sábios), o princípio básico do confucionismo é a busca do Caminho (Tao), que garante o equilíbrio entre as vontades da terra e as do céu.

Segundo seus preceitos, a sociedade deve ser regida por um movimento educativo, que parte de cima e equivale ao amor paterno, e por outro de reverência, que parte de baixo, como a obediência de um filho. O único sacrilégio é desobedecer à regra da piedade. De acordo com a doutrina, o ser humano é composto de quatro dimensões: o eu, a comunidade, a natureza e o céu – fonte da autorrealização definitiva. As cinco virtudes essenciais são amor ao próximo, a justiça, o cumprimento das regras adequadas de conduta, a autoconsciência da vontade do Céu e a sabedoria e a sinceridade desinteressadas. Somente aquele que respeita o próximo é capaz de desempenhar seus deveres sociais.”

Também aqui podemos observar o quanto esses valores nos fazem lembrar os preceitos evangélicos, também espíritas. Vejam o quanto esses preceitos nos levam aos mandamentos oferecidos pelo Cristo, enquanto entre nós como Jesus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Podemos até mesmo interpretar as cinco virtudes essenciais do Confucionismo como sendo as Leis de Deus que estão “impressas” em nossa consciência.

Também a noção de Nirvana nos impele a nos abstrairmos para poder alcançar o que venha a ser este estado do espírito.

Citando a definição (4):

“De acordo com a concepção budista, o Nirvana seria uma superação do apego aos sentidos, do material e da ignorância; tanto como a superação da existência, a pureza e a transgressão do físico a qual busca a paz interior e a essência da vida.

A palavra significa literalmente “apagado” (como em uma vela) e refere-se, no contexto budista, a imperturbável serenidade da mente após o desejo, a aversão e a delusão terem sido finalmente extintos.”

Creio que podemos afirmar que há duas possibilidades quanto a atingir o Nirvana:

– atingimento temporário, quando conseguimos alcançar um estado de meditação profunda. Alguns iogues atingem esse estado e conseguem mantê-lo por algum tempo. Mas não o conseguem por muito tempo, pois o corpo ainda está em estágio rudimentar para suportar tal estado da Alma;

– o antingimento pleno, quando o Espírito não mais precisará reencarnar. É o que poderíamos chamar, no Cristianismo, de salvação, alcançarmos o estado de Anjos, alcançarmos a condição de habitantes de o Mundo Celeste ou Divino.

O Xintoísmo, já tem um formato diferente, apesar de também valorizar a relação do ser humano com a natureza, em suas mais variadas expressões, chamados de Kami.

Também aqui, de certa forma, podemos encontrar alguma similaridade com o espiritismo. Sei que vocês vão estranhar esta minha afirmativa. Vamos ver então.

Citanto o que contém o texto sobre o Xintoísmo (5):

“Considerado como consistindo de energias e elementos “sagrados”, o Kami e as pessoas não são separados, mas existem num mesmo mundo e partilham de sua complexidade inter-relacionada.”

Façamos uma reflexão. Nós, espíritas, acreditamos nos espíritos (almas desencarnadas) e temos consciência da relação cotidiana e intensa desses espíritos com o mundo físico. Sentimos, muitos de nós até veem esses espíritos, somos influenciados por eles – em o Livro dos Espíritos: somos influenciados por eles muitos mais do que imaginamos ser. Vivemos todos no mesmo Universo, ainda que em dimensões diferentes.

Está dando para perceber que no fundo é a mesma coisa? O conceito é o mesmo?

E quanto ao Totemismo? Diz uma definição (6) :

“O conceito refere-se a uma ampla variedade de relações de ordem ideológica, mística, emocional, genealógica e de veneração entre grupos sociais ou indivíduos específicos e animais ou outros objetos naturais, que constituem o totem.

A inserção num grupo totêmico, que é, num certo sentido, hereditária e perpétua, regula as relações da criança com seus parentes de sangue e designa as famílias que podem oferecer parceiros aceitáveis para a procriação. Totem, tabu e exogamia (o casamento fora do grupo) estão inextricavelmente entrelaçados. Nenhuma sociedade conhecida atende a todos os critérios do totemismo ideal, mas em muitos grupos os fenômenos característicos estão presentes em número suficiente para garantir a designação de totêmicos.”

Em que podemos observar semelhança entre o Totemismo e as nações ou grupo regionais de nossos dias?

Que tal observarmos os costumes de alguns povos como: sou brasileiro, sou americano, sou europeu, sou asiático e assim por diante. Não é uma maneira de nos definirmos como fazendo parte de uma “tribo”? Ou de um grupo “totêmico”?

Vamos ampliar a reflexão. Será que nos identificamos, como grupos, com animais, plantas, ou objetos naturais? Basta observarmos as bandeiras que representam as nações: o sol (Japão, Taiwan e Argentina), a folha de bordo (Canadá), a lua e estrela (Turquia e Tunísia), coqueiros (Rio Grande do Norte), águia (México), Cruzeiro do Sul (Brasil) como exemplos.

Podemos mesmo expandir para grupos jovens – tribos – que se identificam por símbolos ou figuras outras.

Mesmo algumas religiões que usam símbolos para se identificarem de outras: a cruz vazia (protestantismo), o crucifixo (Catolicismo), por exemplo.

Não pretendo desqualificar o uso de símbolos ou figuras, só estou refletindo o quanto ainda temos necessidade em nos identificarmos como “tribos”, como grupos que não se misturam com outros grupos e querem ter identificação própria.

Eu me lembro de uma música, do nosso companheiro Alexandre Paredes, que muito nos remete a esta necessidade que temos de manter fronteiras e nos leva à reflexão de que estas fronteiras só  desaparecerão com a mensagem do amor . – Cidadão do Mundo, do CD Era de luz.

Definição de Emile Durkheim em As formas Elementares da vida Religiosa: O sistema Totêmico na Austrália (7):

“Uma força, uma influência de ordem imaterial e, em certo sentido sobrenatural; mas é pela força física que ela se revela ou então por toda espécie de poder e de superioridade que o homem possui.”

Encontramos esta definição sobre o Islamismo (8):

“O Islamismo é uma religião monoteísta, ou seja, acredita na existência de um único Deus; é fundamentada nos ensinamentos de Maomé. (…) Conforme a tradição, o Arcanjo Gabriel revelou-lhe a existência de um Deus único.

A palavra islã significa submeter-se e exprime a obediência à lei e à vontade de Alá (Allah, Deus em árabe).

Seus principais ensinamentos são a onipotência de Deus e a necessidade de bondade, generosidade e justiça nas relações entre os seres humanos.”

Percebemos aqui a semelhança com o Cristianismo no que se refere a ser uma religião monoteísta e estar fundamentada em ensinamentos revelados por Deus. No caso do islamismo, ao profeta Maomé.

Obediência à lei e à vontade de Deus. Creem na onipotência de Deus e professam a necessidade da bondade e justiça nas relações humanas.

Muito há de preconceitos quanto aos muçulmanos. No entanto, precisamos ter em mente que os fundamentos do Islamismo estão em consonância com os do Cristianismo. Os desvios observados nos seguidores dessa doutrina são inerentes ao ser humano ainda na fase de os Mundos de expiação e provas. É a expressão do orgulho, da vaidade, do sentimento de poder sobre os demais.

Não é o que prega a religião islâmica. É fato que muitos conceitos foram acrescidos aos princípios fundamentais do Islamismo, mas consideraremos aqui os prefeitos primeiros sobre a religião em questão.

Também vemos desvios semelhantes entre os seguidores do Cristianismo.

Precisamos sempre rever os nossos conceitos que nos levam ao preconceito e à segregação religiosa e racial.

Quanto ao Zoroastrismo.

Encontramos esta definição (9):

“O Zoroastrismo é uma religião fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam de Zoroastro. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. De acordo com historiadores da religião, algumas das suas concepções religiosas, como a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.Deixou traços nas principais religiões mundiais como o judaísmo, cristianismo e islamismo através das seguintes crenças:

(…)não representam seus deuses em esculturas e têm templos.

Como o próprio texto já registra, muito se vê no judaísmo características do Zoroastrismo, bem como veio a influenciar o próprio Cristianismo, religião abraçada por nós espíritas por seus fundamentos no Evangelho do Cristo.

(1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Tao

(2) https://pt.wikipedia.org/wiki/Tao_Te_Ching

(3) https://pt.wikipedia.org/wiki/Confucionismo

(4) https://pt.wikipedia.org/wiki/Nirvana

(5) https://pt.wikipedia.org/wiki/Xinto%C3%ADsmo

(6) http://www.dicionarioinformal.com.br/totemismo/

(7) DurKheim, Emile. As formas Elementares da vida Religiosa: o Sistema Totêmico na Austrália, (1989), Ed. Paulus

(8) http://brasilescola.uol.com.br/religiao/islamismo.htm

(9) https://pt.wikipedia.org/wiki/Zoroastrismo

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