Posted por em 16 maio 2012

495“Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.” (1) Mateus 5:26

Muito devemos pensar a respeito dessas palavras do Mestre.

Em nossas vidas, pensamos muitas vezes que nossos atos não têm consequências. No entanto, mesmo as pequenas ações, como também nossos pensamentos, têm implicações em nossas vidas, a curto, médio e longo prazos.

Nossas atitudes deixam marcas que muitas vezes não percebemos e acabamos por nos esquecer delas e, em determinado momento, somos surpreendidos com ocorrências em nossas vidas que nos parecem injustas, acreditamos não merecê-las, por exemplo: doenças ou perdas materiais.

Jesus, a todo momento, nos remete à reflexão sobre nossos atos e sentimentos. Lembra-nos todo tempo que devemos inserir o amor em nossas vidas. Precisamos refletir mais sobre o que representa essa chamada do divino Mestre à vida com amor.

Diz-nos Joanna de Ângelis em o livro “Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda” com relação aos convites que Jesus nos faz a todo tempo: “A base estrutural de todo o convite é o amor que dimana de Deus e que se encontra… nas criaturas humanas que, por sua vez, deverão conscientizar-se do seu significado e valia, constituindo a regra de vida em todos os momentos, de tal forma impregnando-se da certeza da sobrevivência da alma e da Justiça Divina,…”

O Evangelho é a luz libertadora que promove o encontro do Ser com a sua essência espiritual, promovendo a sua reforma íntima, a sua superação frente ao egoísmo e vaidade, resultando na vitória do seu espírito, seu verdadeiro Eu.

No passado, o perdão era apresentado como “conquista mediante retribuição.” (Joanna de Ângelis). Quando havia a ofensa fazia-se necessária a reparação mediante oferta de algo, muitas vezes pelo sacrifício de animais ou através de retribuição em dinheiro.

Jesus respeitou os costumes da época, mas apresentou a alternativa da “ética do amor como mecanismo superior a quaisquer outras expressões de ordem material ou de imposição estabelecida pelos legisladores terrestres, nem sempre em condições de elaborar princípios nobres, por lhes faltarem valores de dignidade e exemplo.” (Joanna de Ângelis) Legislar com princípios nobres exige assunção de comportamentos éticos e morais decorrentes da verdadeira aceitação e internalização da Lei de Deus.

Jesus trouxe uma nova perspectiva de vida que dignifica o homem e permite o viver em harmonia.

A Lei de Amor tem sua origem em Deus e pode ser encontrada em toda parte, é isenta de favoritismos, impessoal. Soberana sobre todas as injunções humanas. Os árbitros de nossas ações não são os susceptíveis de erros ou com inclinações personalistas, mas a nossa própria consciência que nos inspira “e tem como modelo a natureza Cósmica.” (Joanna de Ângelis)

Ter a capacidade de perdoar é superar a falta de ação renovadora, superar a mágoa, o ódio, integrando-se o ser em si mesmo, “sem deixar-se ferir por ocorrências afligentes dos relacionamentos interpessoais.” (Joanna de Ângelis)

Manter-se tranquilo, não obstante os problemas e desgastes naturais da vida. Não se perturbar, estar confiante nas próprias realizações e enfrentar os desafios que o viver lhe impõe.

A mágoa e o ressentimento resultam em amargura e desconforto, afastando o ser da essência de que deveria estar impregnado para não se instalar-lhe esses conflitos enfermiços.

Desenvolvendo a autoconsciência podemos identificar e superar esses conflitos interiores, próprios de espíritos ainda na infância de seu processo evolutivo.

Mantermo-nos nessa energia de desarmonia resulta em processo de imantação que vai além da vida na carne. Ressentimentos que levamos para outras encarnações sem oportunidade de libertação. São processos enfermiços de mão dupla que conectam os agentes envolvidos.

A origem de muitas doenças psíquicas está na presença de cobradores espirituais, já sem a roupagem da carne, que se mantêm com sentimento de vingança, de transtorno mental, ainda sem oportunidade ou interesse na própria reabilitação. Muitos distúrbios são decorrentes desses processos mentais doentios que a morte não eliminou.

A Lei da Liberdade (Livro dos Espíritos) nos remete a compreender que nós temos o livre-arbítrio, como também nos conscientiza de que colhemos o que plantamos. Somos responsáveis por nossos atos e respondemos pelas consequências do que fazemos.

“Sob o aspecto espiritual, interessante observar os vínculos que se formam entre vencedores e vencidos, ditadores e submetidos à sujeição. Aqueles que vencem as batalhas pela violência e brutalidade acabam por se fazerem servos daqueles que violentaram e brutalizaram. Formam-se laços invisíveis que imantam as partes envolvidas, fortalecidos pelo ódio, pelo rancor, pela mágoa, pela dor e sofrimento sem perdão.

Esses laços se mantêm, muitas vezes, por séculos, impedindo o progresso espiritual desses seres. Esse processo só será interrompido a partir da conscientização de, pelo menos, uma das partes, pois, a partir de então não haverá a realimentação do ódio, da mágoa e aquele que conseguiu compreender a necessidade de buscar a liberdade, através do perdão e do entendimento, envidará esforços para partilhar esse aprendizado com seu adversário do passado, levando até ele o sentimento de fraternidade e, quem sabe, até mesmo de amor. “(2)

A beleza do que a Doutrina nos ensina está na compreensão de que Deus proporciona oportunidades de aprendizado na convivência entre algozes e vítimas, levando-os a aprender que devem se amar e conceder condições de reparação, sem o domínio da sombra que os leva à infelicidade e perturbação.

Aquele que se prende a sentimentos inferiores não consegue libertar-se do ir-e-vir em razão de a luz do amor ainda não brilhar em seu íntimo. Essa luz sim é a chave para a felicidade e depuração.

Esses sentimentos aprisionam as partes envolvidas nesse processo, causando dor e sofrimento recíprocos. No entanto, quando uma das partes consegue superar seus sentimentos doentios, ele se libertará dessa prisão encontrará claridade e vida. É o resgate pelo amor àquele a quem feriu ou por quem foi ferido, buscando reabilitar-se.

Deus nos oferece, através do livre-arbítrio, a alternativa de repararmos nossos erros e, na falência de nossos propósitos renovadores, recursos “vigorosos que são ao mesmo tempo terapêuticos para o Espírito rebelde.” (Joanna de Ângelis).

A Sua justiça dispõe-nos parâmetros que, observados, proporcionam condições de alcançarmos a harmonia e plenitude.

Devemos nos lembrar sempre de que as situações de confronto e desajustes devem ser acertadas antes da morte física, para que não sejam transferidas para outro plano ou até mesmo outra existência o desconforto de suas implicações e oportunidades de reparação e de paz.

Essa paz decorre da prática do amor e do perdão: oferecer ao outro o mesmo direito e oportunidade facultados a si pelas Soberanas Leis da Vida.

Esse é o fundamento de todo o ensinamento do Mestre. Nosso espírito é imortal e sobrevive a todas as circunstâncias, sejam positivas ou negativas, implicando em consequências das quais prestaremos conta algum dia “até o último ceitil”.

Reflexão a partir do texto “Reconciliação”, de Joanna de Ângelis, no livro “Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda”
Tema de palestra no Grupo Fraternidade Espírita, SGAS 909, Brasília (DF), em 18 de maio de 2012
  • (1) Moeda referente ao Novo Testamento que tem o valor de 1/16 denário. Denário era uma moeda de prata usada pelos romanos durante os períodos da República e do Império. Os romanos puseram em circulação pela primeira vez os denários por volta de 269 a.C. (fonte Wikipedia)
  • (2) Capítulo “Lei da Liberdade”, do livro “Reflexões Evangélicas II”, de Elda Evelina, Bookess Editora

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