Posted por em 9 abr 2017

ExpressaoPascal-2017

Um olhar sobre a Páscoa e seus costumes ao longo dos séculos

A celebração da Páscoa existe há muitos séculos, podemos afirmar que é milenar.

Há muitas lendas que nos remetem a interpretá-las como sendo referências a ritos de passagem, como sendo a Páscoa. Essas lendas surgem em regiões onde o inverno é extremamente rigoroso, a vegetação coberta pela neve e quase não há a luz do sol.

A passagem da estação do inverno para a primavera proporciona a sensação de uma nova esperança pelo ressurgimento do vigor da natureza, possibilitando o reaparecimento das flores, dos frutos; os animais voltam a se movimentar pelos campos e o calor do sol dá novo ânimo para o movimento da vida.

Esse momento de beleza e esperança promove o processo criativo e leva alguns povos a imaginarem histórias que simbolizam esse processo de transformação para a expectativa de um novo despertar.

Em uma dessas lendas encontramos o simbolismo que explica a cultura da distribuição de ovos decorados por ocasião da entrada da nova estação, por ocasião do equinócio da Primavera – momento em que o Sol incide com maior intensidade na linha do Equador e de igual maneira sobre o hemisfério norte e sobre o hemisfério sul..(1)

A Páscoa judaica e a Cristã têm representações bem diferentes e não poderia deixar de mencioná-las, por ter significação importante entre vários povos da Humanidade terrena.

Os hebreus já tinham em sua cultura os seus ritos, conforme consta do livro Êxodo 12:1 a 11 – a primeira referência bíblica à Pascoa:

“Ora, o Senhor falou a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo:

Este mês será para vós o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.

Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Ao décimo dia deste mês tomará cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família.

Mas, se a família for pequena demais para um cordeiro, tomá-lo-á juntamente com o vizinho mais próximo de sua casa, conforme o número de almas; conforme ao comer de cada um, fareis a conta para o cordeiro.

(…)

Assim pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a páscoa do Senhor.”

Também encontramos em Êxodo 23:15:

“A festa dos pães ázimos guardarás: sete dias comerás pães ázimos como te ordenei, ao tempo apontado no mês de abibe, porque nele saíste do Egito;”

A celebração mencionada no livro Êxodo, no Velho Testamento (acima transcrito), foi denominada como a Páscoa do Senhor. Foi instituída na noite que antecedeu à ordem, pelo Faraó, de liberação do povo que estivera escravizado no Egito, durante aproximadamente 400 anos. Esta libertação é lembrada com muita intensidade, durando as celebrações da Páscoa por uma semana.

Quando da entrada de Jesus em Jerusalém, iniciava-se a semana da Páscoa entre os judeus. É celebrada no mês de Nissan (mês de abril do nosso calendário). Esta seria a última Páscoa de que Jesus participaria.

A celebração da Páscoa era complexa. O pão ázimo deveria ser embebido em líquido amargo antes de comê-lo. Era uma forma de serem lembradas as experiências difíceis vivenciadas no Egito, por ocasião da escravidão.

A chamada última ceia, ou Santa Ceia, foi a celebração da Páscoa por Jesus e seus discípulos. Esta passagem é de suma importância, principalmente porque ali Jesus transmitiu várias orientações e proporcionou profundos ensinamentos a seus discípulos e, por decorrência, a todos nós.

Jesus, de forma humilde, mostra-se como servo em demonstração de amor.

Lavou os pés dos discípulos e enxugou-os com a toalha com que envolvera o seu corpo.

Com ternura e emoção, sentiu seu rosto molhado pelas lágrimas, não de sofrimento, mas de felicidade.

O ato simples, mas de grande significado, oferece uma mensagem que emociona. Prestativo e silencioso servira a seus discípulos, colocando-se como humilde servo. Disse-lhes ele em certo momento:

“Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” (João 13: 13 e 14)

Amélia Rodrigues, em seu livro Sou Eu (2), diz que a noite se mostrava salpicada de estrelas, como cristais luminosos.

Cânticos e Salmos, de acordo com a tradição.

Um vento suave penetra o cenáculo. Melodia entoada por um coral invisível se faz presente. O ambiente como se expande ao infinito.

Recomenda Jesus a seus discípulos:

” Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as praticares.” (João 13;20)

Disse-lhes, ainda:

“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros.

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos. Se tiverdes amor uns aos outros.” (João 13:34 e 35)

Ainda com relação à última ceia, gostaríamos de dar ênfase à passagem contida no Evangelho de Lucas 22:19 e 20:

“E tomou um pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória. E, depois de comer, fez o mesmo com a taça, dizendo: Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.”

Entendemos ser um chamamento à oração – dar graças. Expressar a gratidão pelo pão à mesa, em memória do Mestre. Sabemos que ao orar somos envolvidos por energias benéficas, salutares. Podemos interpretar como sendo a busca pelo alimento espiritual ao tempo em que nos alimentamos para a sustentação do corpo físico. 

A versão atual da Páscoa, entre os cristãos, surge algum tempo após a morte de Jesus e sua ressurreição. É com a consciência da importância que teve a passagem do Mestre entre nós, os ensinamentos que Ele nos deixou e o despertamento de que somos, na essência, seres imortais. Deixou-nos Ele a percepção de sermos espíritos eternos.

Hoje, os Cristãos – católicos e protestantes – oficiam a Páscoa como celebração à ressurreição de Jesus, o Ser Crístico, Salvador da humanidade.

Para os Católicos e Protestantes, Jesus é o Salvador por ter morrido na cruz, em cumprimento às profecias. Salvar seus fiéis seguidores, através do derramamento do seu sangue.

Para o Espiritismo, no entanto Jesus, o Cristo, é o Grande Mestre, nosso modelo e guia, como está em o Livro dos Espíritos, na questão 625: Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? “Jesus.”. Veio ensinar-nos, a toda a Humanidade, o caminho da salvação – evolução espiritual e atingimento à condição de Espírito Puro vindo então a poder habitar o Mundo Celeste ou Divino. Proporcionar a nós a consciência de que devemos buscar o autoconhecimento; proceder à nossa caminhada de forma a alcançar a plenitude como Espíritos que somos; corrigir nossas falhas e encontrarmo-nos com Deus, ao atingirmos a condição de espíritos que não mais necessitam reencarnar.

Nós, espíritas, não comemoramos a Páscoa, institucionalmente falando. Não há festividades relacionadas a esta data.

No entanto, respeitamos todas as formas com que a Páscoa é comemorada, tanto pelos judeus, católicos, protestantes, como também pelos evangélicos.

Importante valorizarmos a lembrança de que os judeus tenham sido libertos da escravidão no Egito; o recebimento das Tábuas da Lei – os Dez Mandamentos – que, por ser um código “… de todos os tempos e de todos os países essa lei e tem, por isso mesmo, caráter divino”. (ESE Cap. I, item 2); a ressurreição de Jesus, que representa a vitória sobre a morte do corpo físico, anuncia a imortalidade e a sobrevivência do Espírito em outra dimensão da vida.

Vale ressaltar que os discípulos do Mestre se viram expressivamente transformados após sua ressurreição, conscientizando-se de que o amor e a justiça regem o ser além do túmulo.

Tomando como referência as passagens contidas no Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. XVII, item 4, a Páscoa, como princípio da transformação moral, nós espíritas devemos comemorá-la todos os dias, no esforço diuturno de vivenciar o Evangelho de Jesus, o Cristo.

“… o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro.”

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”

Lembrando o testemunho de Paulo em Gálatas 2:20:

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”

A Páscoa, como podemos observar, tem grande importância para grande parte dos povos que habitam a Terra, cada a um a seu próprio modo.

Estejamos nós conscientes da necessidade de buscarmos, como nos orienta a Doutrina Espírita, nossa transformação pessoal, a partir do autoconhecimento, da reforma íntima.

Poder dizer como o apóstolo Paulo: “e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;”Separador-Evange

(1)           Conta uma lenda que Eostre, ou Ostara era uma deusa relacionada à aurora e associada à luz crescente da Primavera, quando trazia bênçãos à Terra. Bom lembrar que a região, de onde se origina a lenda, passa pela estação do Inverno em condições difíceis, pelo frio extremo. Para esses povos, profundamente prazerosa é a chegada da Primavera, como a proporcionar novamente a vida a todos os seres.

Um dia Eostre estava sentada em um jardim acompanhada de muitas crianças, suas companheiras preferidas pelas quais tinha especial afeto. Era por elas seguida e adorava cantar e entretê-las com sua magia. Em certo momento, um pássaro voou sobre elas e pousou na mão da deusa. Esta, dizendo algumas palavras mágicas, transformou-o em uma lebre, animal favorito de Eostre.

De momento, este encantamento alegrou as crianças. No entanto, estas observaram, ao longo de um tempo, que a lebre não estava feliz com a transformação, pois não mais podia voar.

Pediram então, à Eostre, que desfizesse o encantamento, mas ela não conseguiu. Sentiu que seus poderes estavam enfraquecidos pelo Inverno. Disse então que esperaria o retorno da Primavera, quando teria novamente seus poderes revitalizados.

Assim fez. Quando chegou a Primavera ela alcançou seu intento e deu à lebre a oportunidade de se expressar na forma de pássaro, como em sua origem, apenas por algum tempo.

Enquanto na forma de pássaro, agradecido, ele botou alguns ovos em homenagem a Eostre. Em celebração à sua liberdade e às crianças que haviam pedido sua libertação, pintou os ovos e os distribuiu pelo mundo, já em forma de lebre. (*)

Eostre reconheceu a sua ingenuidade e tolice ao interferir no livre-arbítrio de alguém

(*) na nossa cultura, assumiu-se a figura do coelho.

(2)   Sou Eu, Paixão de Cristo, Amélia Rodrigues, por Divaldo Franco, organizado por Álvaro Chrispino

Folheto abordando o tema Paixão de Cristo e Páscoa (PDF) – Paixão de Cristo – Palestra 11-04-2014

Um Comentário

  1. 9-4-2017

    Muito bom o texto, prima! Sua exposição a respeito da Páscoa foi bem extensiva e profunda, abordando desde o aspecto histórico/cultural, numa contextualização muito bem fundamentada, expondo os aspectos religiosos em suas mais diversas manifestações, ressaltou sua fé kardecista com propriedade e respeito e ressaltou, pertinentemente as mensagens de Jesus Cristo!!!
    Isto tudo ainda embalado pela sua forma poética e pedagógica!!!
    Obrigado, Elda, por sua boa vontade!!! Fiquem com Deus!!!

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