Posted por em 11 jul 2023

“Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, esse tal será bem-aventurado em seus feitos.” – TIAGO, 1 :25.

Este tema é extremamente atual. Vale refletir sobre o texto de Emmanuel em o livro “Fonte Viva”, capítulo “Obreiros atentos”:

“O discípulo da Boa Nova, que realmente comunga com o Mestre, antes de tudo compreende as obrigações que lhe estão afetas e rende sincero culto à lei de liberdade, ciente de que ele mesmo recolherá nas leiras do mundo o que houver semeado. Sabe que o juiz dará conta do tribunal, que o administrador responderá pela mordomia e que o servo se fará responsabilizado pelo trabalho que lhe foi conferido. E, respeitando cada tarefeiro do progresso e da ordem, da luz e do bem, no lugar que lhe é próprio, persevera no aproveitamento das possibilidades que recebeu da Providência Divina, atencioso para com as lições da verdade e aplicado às boas obras de que se sente encarregado pelos Poderes Superiores da Terra.

Caracterizando-se por semelhante atitude, o colaborador do Cristo, seja estadista ou varredor, está integrado com o dever que lhe cabe, na posição de agir e servir, tão naturalmente quanto comunga com o oxigênio no ato de respirar.”

O que estaria Emmanuel querendo ensinar com suas palavras?

Todos somos chamados a cumprir o que nos cabe como tarefa. Somos todos obreiros, não obstante as diferentes áreas de nossos compromissos. Poderemos ser administradores, em posição de mando e controle, ou simples operários destinados a cumprimento de tarefas básicas. Não importa, estamos todos destinados a realizar algo previamente determinado e devemos procurar cumpri-lo da melhor forma possível, pois teremos que prestar contas das nossas ações quando formos chamados a isso.

Nossa jornada como espíritos em processo de aprendizado e evolução exige-nos responsabilidade e dedicação para melhor podermos cumprir o que nos compete. Remete Emmanuel à reflexão sobre a lei de liberdade e, para este estudo, trazemos algumas reflexões oferecidas por desta Lei, contida no Livros dos Espíritos, Cap. XX, questões de 825 a 850.

Vivemos em sociedade e, por isso, dependemos uns dos outros; não usufruímos de plena liberdade pois os direitos referem-se a todos e cumpre-nos respeitar. As pessoas que costumam exercer a força e o autoritarismo, seja no lar, seja com seus subordinados, têm a noção da lei natural, no entanto, não cumprem os princípios dos direitos individuais.

Quanto mais consciente é o homem, mais responsável é pelas atitudes que assume e, por isso mesmo, com menos ou mais indulgência será avaliado pela justiça divina, dependendo se suas ações são menos ou mais condizentes com os ensinamentos evangélicos.

Poder-se-á dizer que ao homem é dado o direito de livre pensar, como também afirmar que é responsável pelo que pensa, Deus o avalia pelo que pensa, pois Deus sabe todas as coisas.

A consciência é um pensamento íntimo, pelo que temos, então, a liberdade de pensar. Deve ser respeitada e só Deus tem o direito de julgar a consciência do homem. A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.

Toda crença sincera e que conduz ao bem deve ser respeitada. Constranger alguém quando age em desacordo com o nosso modo de pensar é atentar contra a sua liberdade de pensar.

Em sendo livres para pensar, temos também a liberdade de agir. O viver em sociedade, no entanto, exige de nós responsabilidade no agir.

Interessante lembrar aqui o que nos diz a parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16), interpretada no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX – Os trabalhadores da última hora -, itens 2,3 e 5.

  1. Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” 

Vê-se nestas duas referências a importância do nosso comprometimento com as tarefas que nos foram delegadas, não importando seu grau de dificuldade ou de expressão no meio em que estamos inseridos. Todas elas são relevantes e devem ser cumpridas com responsabilidade e determinação.

Mais um registro de suma importância, no texto de Emmanuel “Sabe que o juiz dará conta do tribunal, que o administrador responderá pela mordomia e que o servo se fará responsabilizado pelo trabalho que lhe foi conferido.” (1)

Muitos de nós têm olhar mais para o que se refere ao companheiro de jornada levantando críticas e julgamentos. No entanto, muito se percebe que poucos se detêm no que se lhe compete cumprir, deixando à margem muitas de suas próprias responsabilidades.

Devemos, como salientado por Emmanuel, deixar a cada um sua própria tarefa, confiando que serão responsáveis e cumpridores de seus deveres. Se assim não acontecer, a cada um caberá a responsabilização dos seus atos, seja pela justiça terrena e certamente o será pela justiça divina.

Quando nos deixamos tomar conta das ações dos nossos semelhantes, tomamos do nosso próprio tempo e deixamos de cumprir parte do que nos cabe realizar.

Como disse no início, esta reflexão se faz muito atual.

Estamos vivenciando um período conturbado, social e politicamente. Observamos que muitos querem impor o seu modo de pensar, assumindo o papel de julgadores, condenando e impondo-se com violência – emocional ou até mesmo física -, mesmo que não estejam em condição de competência, sob o ponto de vista policial ou jurídica.

Mobilizações sociais, desacatos, violência verbal, destruição de patrimônios individuais e públicos.

Observamos na mídia turbulência e desarmonia.

Tudo isso deverá fazer parte do nosso mundo, considerando-se que ainda vivemos em um mundo de expiação e provas.

A grande questão é refletirmos: como estamos lidando com esta realidade; que tipo de atitude observamos em nós mesmos?

Quando buscamos inteirarmo-nos dos acontecimentos, através de qualquer meio de comunicação, ou até mesmo em conversa com amigos, como agimos, ou reagimos?

Conseguimos manter o nosso equilíbrio emocional ou o perdemos e passamos a ter posicionamentos semelhantes àqueles dos quais está se falando naquele momento?

Assumimos posturas de julgamento e condenação, ou tentamos alcançar um estado emocional equilibrado para refletir de forma isenta sobre os acontecimentos?

Importante lembrarmos que somos responsáveis pelo que pensamos, sentimos, bem como falamos e pela nossa forma de agir. Temos liberdade de expressão e de ação, mas iremos prestar conta de nossas atitudes.

Uma outra reflexão que deveremos ter é de que nossos pensamentos são agentes realizadores. O que estaria pretendendo ao dizer isso? Quando nos envolvemos por energias desarmonizadoras, pensamos de forma violenta, falamos agressivamente, estamos vibrando em níveis muito densos, fazemos conexão com sintonias de baixo padrão espiritual.

Conhecedores da Lei de ação e reação, podemos inferir que receberemos o reflexo do que oferecermos. Seremos os primeiros a serem atingidos por nossas próprias ações.

Mais do que isto, estaremos emitindo ondas de pensamento em direção àqueles que estamos julgando ou condenando e fragilizamo-nos a ponto de permitir sermos atingidos na mesma medida em que oferecemos o nosso pensar e falar. Contaminamos o ambiente que nos cerca com as “toxinas” produzidas pelas nossas atitudes.

Enfim, estaremos prejudicando a nós mesmos, àqueles a quem nos dirigimos em pensamento ou atitudes desarmonizadas, como também ao próprio ambiente em que estamos inseridos – família, ambiente de trabalho, amigos etc.

É isto mesmo que estamos buscando? Ou não estamos perceptivos a esta realidade? Talvez estejamos agindo de forma irrefletida e irresponsável.

Alguns podem então perguntar: o que fazer?

É saudável que estejamos atentos e acompanhemos os acontecimentos. Estamos inseridos em um mundo ainda vibrando em níveis densos. No entanto, isto não quer dizer que devamos vibrar na mesma sintonia.

Podemos tentar emitir ondas de pensamento positivas a favor daqueles que estão agindo de forma inadequada, envolvendo-os em prece, por exemplo. Estaremos beneficiando o ambiente em que estamos inseridos, a nós mesmos, e proporcionando oportunidades de reflexão àqueles para quem estamos dirigindo nossos pensamentos e prece. Imaginem se todos nós, que conhecemos a Lei de ação e reação e os efeitos da prece e das vibrações de tolerância, indulgência e amor, fizermos este exercício! Certamente participaríamos de um trabalho de transformação do nosso mundo, até mesmo mais além.

Aguardamos que o Planeta se transforme em um mundo de regeneração, mas devemos ter a consciência de que ele irá regenerar-se na medida em que nós nos mobilizemos em direção à nossa própria regeneração.

Diz-nos Paulo em sua carta aos efésios: “Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará.” (Efésios 5:14).

Acrescenta-nos Emmanuel:

“Há milhares de companheiros nossos que dormem, indefinidamente, enquanto se alonga debalde para eles o glorioso dia de experiência sobre a Terra. (…)

Percebem vagamente a produção incessante da Natureza, mas não se recordam da obrigação de algo fazer em benefício do progresso coletivo. (…)

Chega, porém, um dia em que acordam e começam a louvar o Senhor, em êxtase admirável…

Isso, no entanto, é insuficiente. (…)

É preciso que os corações despertos se ergam para a vida, se levantem para trabalhar na sementeira e na seara do bem, a fim de que o Mestre os ilumine.” (2)

A partir do momento em que despertamos para essa realidade, para a necessidade de participarmos do processo de resgate da nossa espiritualidade e cumprimento dos compromissos que assumimos no plano espiritual, mudamos nossa atitude perante o que ocorre à volta. Percebemos a necessidade de ações mais efetivas na busca pela real transformação – nossa e do Planeta.

Citando mais uma vez Emmanuel:

“Esforcemo-nos por alertar os nossos companheiros adormecidos, mas não olvidemos a necessidade de auxiliá-los no soerguimento. (…)

Não basta recomendar.

Quem receita serviço e virtude ao próximo, sem antes preparar-lhe o entendimento, através do espírito de fraternidade, identifica-se com o instrutor exigente que reclama do aluno integral conhecimento acerca de determinado e valioso livro, sem antes ensiná-lo a ler.” (2)

Queremos viver em um mundo melhor, mais ético, uma sociedade mais justa? Precisamos, em primeiro lugar, buscar isto dentro de nós.

Finalizaremos também com Paulo e Emmanuel:

“Disse Paulo: – “Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará.”

E nós repetiremos: – “Acordemos para a vida superior e levantemo-nos na execução das boas obras e o Senhor nos ajudará, para que possamos ajudar os outros.” (2)

  1. – Fonte viva, cap. 8 – Obreiros atentos, Emmanuel, por Chico Xavier

– Fonte viva, cap. 66 – Acordar e erguer-se, Emmanuel, por Chico Xavier

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *