Posted por em 29 out 2015

Decors-EvangeÁudio do estudo oferecido no Grupo Fraternidade, no dia 11-11-2015 (mp3) – O Verdadeiro Holocausto (Sacrifício mais agradável a Deus)

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Um estudo sobre texto do livro “Nas pegadas no Mestre” (1). De início podemos estranhar o título – O Verdadeiro Holocausto.

Sempre que ouvimos ou lemos a referência ao Holocausto somos remetidos ao que ocorreu aos judeus na época do nazismo.

No entanto, a palavra holocausto consta do Velho Testamento (Bíblia) em vários de seus livros.

A palavra é derivada de uma raiz que significa “ascender”, aplicava-se à oferta que era inteiramente consumida pelo fogo. Exercícios expiatórios, oferecidos para libertação dos pecados, sacrifícios por ação de graças, como também constituíam atos de adoração. No caso de oferta por holocausto, o animal a ser oferecido deveria ser puro, sem defeito, consumido pelo fogo por inteiro, nada se aproveitando de qualquer parte dele.

Há outras formas de oferendas: sacrifício – só seriam consumidas pelo fogo as partes não aproveitáveis do animal (vísceras, sangue, casco, gordura, por exemplo). A carne seria utilizada como alimento e as peles entregues aos sacerdotes para que as utilizassem como vestuário. Na forma de oblação, só cereais eram oferecidos.

Primeiras menções da palavra holocausto no Velho Testamento:

Em Gênesis 22:2-3, 6-8 e 13

“Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei de mostrar.

Levantou-se, pois, Abraão de manhã cedo, albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque, seu filho; e, tendo cortado lenha para o holocausto, partiu para ir ao lugar que Deus lhe dissera.

Tomou, pois, Abraão a lenha do holocausto e a pôs sobre Isaque, seu filho; tomou também na mão o fogo e o cutelo, e foram caminhando juntos.

Então disse Isaque a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?

Respondeu Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. E os dois iam caminhando juntos.

Nisso levantou Abraão os olhos e olhou, e eis atrás de si um carneiro embaraçado pelos chifres no mato; e foi Abraão, tomou o carneiro e o ofereceu em holocausto em lugar de seu filho.”

Em Êxodo 18:12 e 29:18 e 25

“Então Jetro, o sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus.

Assim queimarás todo o carneiro sobre o altar; é um holocausto para o Senhor; (…)”

Podemos, assim, compreender a razão de a morte de Jesus na cruz ser interpretada como sacrifício para expiação dos pecados da Humanidade – como o “cordeiro que tira os pecados do mundo” (referência na liturgia da igreja católica, por exemplo) -, pois que ele representaria a oferenda pura, sem mácula elevada a Deus. Vale lembrar que Jesus não perdera, em momento algum, a oportunidade para mencionar as Leis e os Profetas, pois ele afirmara que não viera para revogar as Leis e sim para cumpri-las.

Ele veio para exemplificar o que significa apresentar a si mesmo como dádiva a Deus, a favor de todos nós. Ofereceu-se por amor, fez-se exemplo permanente para que entendêssemos o sentido da relação com o Pai, obediência, respeito, dedicação.

Buscara elevar nossos conceitos de vida espiritual; alterar o nível mental dos homens. Dedicou-se a mostrar-nos a essência dos ensinamentos maiores, fiel à missão a ele delegada pelo Pai.

Jesus, com a doação de si mesmo como sacrifício, acabou por propiciar o entendimento de se suspender esses rituais, deixando de prevalecer a necessidade de novos e contínuos sacrifícios de animais.

Com o advento do Espiritismo, podemos fazer uma interpretação interessante a respeito dessas práticas e seus significados hoje. Podemos mesmo afirmar que os sacrifícios não foram extintos, mas transformados.

Se antes sacrificavam-se os animais para expiação dos pecados, hoje o sacrifício é pessoal, individual. Jesus colocou-se como exemplo dessa proposta de transformação.

Tomemos seu sacrifício como proposta de reflexão. Não exatamente a morte do corpo de que se utilizara para encarnar entre nós, mas toda a sua vida no planeta: as tarefas que tomou sobre seus ombros; as inúmeras viagens para propagar seus ensinamentos; as dificuldades que enfrentou junto a seus próprios pares, na Judeia; sua dedicação, sem limites, aos pobres, doentes; os enfrentamentos com os fariseus para fazer prevalecer o bem, o respeito, o cumprimento das Leis em sua maior expressão; o empenho em defesa dos marginalizados daquela sociedade e dos menos favorecidos.

Na prática do holocausto sob esse novo enfoque, os sacerdotes somos todos nós. Os altares de pedras são os nossos corações. Os novilhos ou cordeiros a serem imolados nos altares são nossas paixões; nossos vícios; o egoísmo que ainda guardamos e a vaidade que expressamos; nossas ambições, hipocrisias. Enfim, nossos inimigos interiores que ainda nos mantêm na retaguarda da jornada em direção à nossa evolução.

Sentimentos menos nobres e comportamentos não condizentes com as Leis Divinas são a nossa sombra, na interpretação à luz da psicologia. Precisamos enfrentá-la, reconhecer sua existência dentro de nós e promovermos seu expurgo, proporcionar a nós mesmos a oportunidade da libertação através da libertação desses adversários que ainda mantemos vivos em nós.

Devemos colocá-los como nossas oferendas nas piras ardentes e fazê-las serem consumidas pelo fogo purificador do amor, do perdão e do autoperdão.

Disse-nos o apóstolo Paulo em sua epístola aos romanos:

“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Romanos 12:1)

Lembremo-nos da Lei do Progresso – tudo obedece ao processo evolutivo. Podemos dizer que o vocábulo Progresso significa ter em conta o processo pessoal no contexto da vida: conquista de novos horizontes, êxito, proficiência, evolução.

A nossa evolução moral, espiritual, depende do como buscamos o progredir em nossas vidas.

Há um instrumento, uma fonte de saber importantíssima, imprescindível para todos nós: Evangelho do Mestre, seus ensinamentos e exemplos de vida. O progresso passa inevitavelmente pela autotransformação, pela proficiência, pelo êxito na nossa jornada terrena como seres em busca da evolução moral e espiritual. Esta conquista só se fará através do conhecimento e pela internalização dos ensinamentos evangélicos.” (2)

Neste estudo sobre o holocausto também se aplica esta Lei. Podemos dizer que, do sacrifício de oferendas exteriores, passamos ao sacrifício da oferenda de si mesmo. A autotransformação é a oferenda viva mais agradável a Deus.

Trazemos à reflexão, também, a Parábola do festim das bodas, quando Jesus disse que o reino dos céus se assemelhava a um rei que preparou uma grande festa para as bodas de seu filho. Para que os convidados pudessem participar dos festejos precisariam estar vestidos com a túnica nupcial. A interpretação desta parábola é a de que, para entrarmos no reino dos céus faz-se necessário estarmos vestidos com a túnica nupcial, isto é, termos purificado nossos corações e cumprirmos a leis divinas.

Diante desta parábola, podemos afirmar que o holocausto de nossas imperfeições é a forma mais expressiva do vestirmo-nos com a veste nupcial para merecermos estar no festim oferecido pelo Pai Celestial.

Interessante referirmo-nos, também, a algumas interpretações a partir do livro do Apocalipse (Novo Testamento). Não obstante o texto de João referir-se à humanidade como um todo, podemos estendê-las para uma reflexão sobre nós mesmos, como individualidade. Na passagem, João é levado ao plano espiritual e lhe é concedida a oportunidade de observar o trabalho da espiritualidade maior no auxílio a nós, espíritos encarnados, visando nosso processo evolutivo:

“Precisamos, no entanto, compreender que este processo deflagrado é, tão-só, o prenúncio de um novo despertar da consciência do homem e o seu renascer para uma nova vida – o filho das estrelas. (…)

A renovação da Terra é precedida por tempos em que vivenciaremos crises, dores e espasmos como se fossem dores do parto, como quando uma mulher está para dar à luz. (…)

Por mais difíceis possam parecer as dores e dificuldades, simples colheitas pelos nossos atos, devemos ter em Jesus a nossa âncora sublime em que confiar. Ele não nos abandona, é o timoneiro do barco cósmico que nos abriga, e guia a nave terrestre ao porto seguro do seu amor.” (2)

Elda Evelina Vieira – do livro Evangelho é Amor II, Bookess Editora

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(1) Livro Pegadas do Mestre, capítulo O Verdadeiro Holocausto de Pedro de Camargo (Espírito Vinicius)

(2) Do livro Evangelho é Amor II – Reflexões Evangélicas, Capítulo “Progresso e Evolução”, Elda Evelina, Bookess

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