Estudo oferecido no Centro Espírita Casa do Caminho (Guará II), em 12 de dezembro.
Áudio do estudo oferecido (mp3) – O “Mas” e os Discípulos
Por vezes, na jornada terrena nós nos flagramos inseguros, com muitas dúvidas e sem condição de assumirmos tarefas e compromissos.
Há algo em nós que impede sermos ativos e produtivos. Ficamos à margem dos acontecimentos, contemplando a vida sem empenho em agir, reagir e até mesmo produzir.
Quando somos chamados a realizar algo, por vezes encontramos motivos para não fazê-lo e, nessas ocasiões, colocamos um “mas” para justificar a nossa não ação. Algo como: gostaria muito de realizar esta tarefa, mas agora não tenho tempo; muito interessante esta ideia, mas não tenho conhecimento suficiente para concretizá-la; nossa, este projeto parece-me muito útil e seria muito bom empenhar-me para implementá-lo, mas não tenho dinheiro nem condições no momento.
Diz-nos Emmanuel em o livro Pão Nosso:
“O discípulo aplicado assevera:
– De mim mesmo, nada possuo de bom, mas Jesus me suprirá de recursos, segundo as minhas necessidades.
– Não disponho de perfeito conhecimento do caminho, mas Jesus me conduzirá.
O aprendiz preguiçoso declara:
– Não descreio da bondade de Jesus, mas não tenho forças para o trabalho cristão.
– Sei que o caminho permanece em Jesus, mas o mundo não me permite segui-lo.”
Muitas vezes pensamos que trabalhar, agir ao longo da nossa jornada, requer grandes conhecimentos, alguma soma de dinheiro, capacidade intelectiva de expressão, competência para tomadas de decisão, acesso a recursos da mais variada ordem.
É um engano pensar assim, pois temos em mãos algo de muito valor que nos permitiria agir e realizar: força de vontade, desejo de ser útil. O que nos falta, muitas vezes, é a coragem, a confiança, a fé em nossa capacidade pessoal e no poder do Pai.
Há vários olhares que podemos ter a respeito desta questão.
Em nosso estágio evolutivo, muitas vezes mantemos tão só o desejo de realizações imediatistas e por vezes não conseguimos visualizar a possibilidade de resultados, ainda que a longo prazo, a partir de realizações hoje.
Diante desta forma de pensar, preferimos não agir por entender não valer a pena envidar esforços, não acreditando em seu efeito prático. Agindo assim, poderemos agir com indiferença e mantermo-nos anestesiados o que nos leva a um estado de tédio.
No entanto, em algum momento, algo promove um despertamento para a necessidade de outros valores. É quando a consciência, presente no Eu íntimo, começa a despertar para a necessidade de buscar novos conceitos.
A partir de então, percebendo as novas emoções que brotam dentro de si, percebe a beleza do realizar, do ser útil, não consegue mais interromper esse processo e busca projetos cada vez mais condizentes com a sua proposta de aprendizado; compromissos certamente assumidos quando de seu preparo para o retorno na vida física.
Não é só por causa do despertar intelectual, emocional e ético. É, essencialmente, pelo despertar espiritual, mesmo que ainda de forma incipiente. É a fase de transição entre o Ser conectado às suas condições ainda primitivas e o Ser que amplia seus horizontes. Vislumbra um futuro mais enriquecido pela beleza da consciência de que há algo além de si mesmo. Começa a abandonar a sua forma egoísta de olhar e observa um universo de oportunidades a serem descobertas e experimentadas. Essa vivência irá proporcionar, a cada momento, mais e mais vigor para a jornada e, a cada sucesso nesse caminhar, mais confiança e determinação em continuar.
Adquirindo mais saber sobre o mundo, as pessoas e sobre si mesmo, suas capacidades, este Ser se permite investir em novas jornadas descortinando um universo de possibilidades.
Paralelamente a este despertar, há o desvelar para o valor moral da vida. É o perceber que tem deveres a cumprir com seus companheiros de jornada e com a própria vida. Não pode mais ficar inoperante, nem usufruir quase tão-somente do trabalho de seus semelhantes. Precisa empenhar-se em realizações que lhe proporcionem melhores condições, bem como àqueles com quem partilha esse momento na eternidade.
Citando a parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16), interpretada no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX – Os trabalhadores da última hora -, itens 2,3 e 5.
- Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!””
Interessante sempre pensar na transformação do Planeta em um mundo de regeneração. No entanto, precisamos estar conscientes de que a regeneração do nosso orbe ocorrerá na medida em que nós nos mobilizarmos para a nossa própria regeneração.
Queremos viver em um mundo melhor, mais ético, uma sociedade mais justa? Precisamos, em primeiro lugar, buscar isto dentro de nós.
A partir do momento em que despertamos para essa realidade, para a necessidade de participarmos do processo de resgate da nossa espiritualidade e cumprimento dos compromissos que assumimos no plano espiritual, mudamos nossa atitude perante o que ocorre à volta. Percebemos a necessidade de ações mais efetivas na busca pela real transformação – nossa e do Planeta.
Encontramos em o texto Acordar e erguer-se (Fonte Viva, Emmanuel, por Chico Xavier):
“Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará.” Paulo na carta aos Efésios 5:14
“Esforcemo-nos por alertar os nossos companheiros adormecidos, mas não olvidemos a necessidade de auxiliá-los no soerguimento. (…)
Não basta recomendar.
Quem receita serviço e virtude ao próximo, sem antes preparar-lhe o entendimento, através do espírito de fraternidade, identifica-se com o instrutor exigente que reclama do aluno integral conhecimento acerca de determinado e valioso livro, sem antes ensiná-lo a ler.”
Diz-nos ainda Emmanuel:
“Há milhares de companheiros nossos que dormem, indefinidamente, enquanto se alonga debalde para eles o glorioso dia de experiência sobre a Terra. (…)
Percebem vagamente a produção incessante da Natureza, mas não se recordam da obrigação de algo fazer em benefício do progresso coletivo. (…)
Chega, porém, um dia em que acordam e começam a louvar o Senhor, em êxtase admirável…
Isso, no entanto, é insuficiente. (…)
É preciso que os corações despertos se ergam para a vida, se levantem para trabalhar na sementeira e na seara do bem, a fim de que o Mestre os ilumine.”
Há momentos em que poderemos nos encontrar buscando respostas a inúmeras indagações e isto proporcionar uma certa ansiedade. Talvez até venhamos a buscar reflexões que nos possam proporcionar entendimento que venha a pacificar-nos internamente.
Um estágio em que poderemos afirmar que acreditamos no Evangelho, queremos ser úteis à luz dos ensinamentos do Mestre. No entanto, ficamos pensando nas pessoas e no como poderíamos amenizar suas dores com o conhecimento e a fé que acolhemos em nossos corações.
Há uma reflexão muito oportuna para o estudo em questão (desconheço o autor): “O primeiro passo não o leva para onde você quer ir, mas tira você de onde você está.”
Precisamos dar o primeiro passo, mesmo que dele resulte algo que não nos é ainda perceptível, mas será o alavancar de um novo processo de descobertas de valores e conquistas.
Lendo o texto todo, percebe-se um crescendo de orientações, afirmações para se chegar ao primeiro passo que não leva para onde se quer ir… mas tira a gente de onde se está…Ótima reflexão amiga!
No áudio há algumas reflexões complementares que enriquecem o texto. Abraços fraternos, amiga.