O caminhar do sentimento e da intelectualidade e sua relação com a crença

Posted por em 2 mar 2012

499Se observarmos bem a História e as manifestações culturais dos povos, podemos encontrar a essência da mensagem evangélica nas diferentes épocas da Humanidade. Desde mesmo das eras de pinturas nas cavernas, com suas expressões de conexão com seus deuses, relações familiares, convivência e interação com a Natureza, por certo reconhecendo as limitações culturais e intelectuais da época.

Todos os povos, de alguma maneira, têm noção do que seja certo ou errado; da existência de outros níveis de consciência; de haver Seres em outros planos além do físico; de poderem contar com instruções desses Seres para o encaminhamento de suas vidas.

Ao longo do desenvolvimento cultural e intelectual do Homem, bem como de sua religiosidade, podemos observar vários aspectos dessa sua relação com o mundo, da sua crença, de seus conceitos e valores morais.

Jesus, o Cristo, veio fortalecer a crença em um Deus único, trazer conceitos renovados de compaixão, moral, amor; mostrar evidências de uma vida futura, da eternidade do Espírito; fortalecer a percepção do certo e do errado, da transformação que deveremos promover em nós como Seres especiais, filhos de Deus; desenvolver um novo Ser merecedor de um mundo melhor, mais justo e sábio.

As reformas religiosas, que ocorreram após a passagem do Cristo entre nós, tiveram a intenção de fortalecer a religiosidade em nossos corações. No entanto, o Ser Humano, ainda frágil e impregnado de sentimentos menos nobres, como vaidade, orgulho, mesquinhez, acabou por desviar-se dos fundamentos evangélicos oferecidos pelo Cristo e contaminou o coração daqueles que buscavam seguir os princípios oferecidos pelos movimentos religiosos.

Entendeu a Espiritualidade Maior, por certo, tomar providências no sentido de promover o nosso esclarecimento, à luz dos ensinamentos maiores, para que possamos reencontrar o caminho original e reformular nossos conceitos e valores em direção à religiosidade verdadeira em nossos corações.

Além do que já existia em culturas da antiguidade, o Cristianismo Redivivo nos trouxe, através das mensagens oferecidas por nossos amigos do Plano Maior, a consciência da necessidade de compreendermos com profundidade os ensinamentos deixados pelo Mestre, pois, só assim alcançaremos o que nos foi prometido pelo Mestre – O Reino de Deus.

Na Introdução ao Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos: “o roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será objeto exclusivo desta obra”. Essa afirmativa nos conduz à expectativa de um caminhar com esperança e firmeza.

O Evangelho de Jesus tem essa finalidade – a felicidade vindoura e o esclarecimento sobre o propósito de nossas vidas. No entanto, ao longo de alguns séculos, nós nos esquecemos desses princípios e nos afastamos desses ensinamentos. Veio então o Cristianismo Redivivo renovar essa expectativa.

Vale a pena refletir também sobre as dificuldades que vivenciamos, no decorrer desses séculos, com limitações ao acesso às mensagens evangélicas, bem como a restrição à interpretação dos textos aos dirigentes de instituições religiosas. Resultou em seguidores no sentido literal da expressão – crentes sem visão pessoal sobre os ensinamentos. Pessoas que admiram a mensagem e pronunciam a sua fé muitas vezes baseadas tão-somente no que ouvem dizer ou se apegando aos textos sem compreender o verdadeiro sentido do que ali está dito. Passa-lhes despercebido o conteúdo moral, o verdadeiro caminho oferecido pelo Mestre. Poucos procuram estudar e compreender a fundo as mensagens e torná-las instrumentos de reflexão e meditação.

Tudo isso resulta em pessoas com dificuldade para se encontrarem efetivamente com os anseios de sua alma, pois todo Ser aspira conhecer de onde veio e para onde vai. Ele quer crer, pois é da sua natureza esse sentimento e ele se encontrará na medida em que o os princípios da religião por ele escolhida corresponda ao seu nível espiritual e suas necessidades intelectuais.

Se o que lhe é oferecido não corresponde às suas aspirações, à ideia que ele faz de Deus, tampouco aos dados positivos que lhe fornece a Ciência; se defronta com a imposição de condições cuja utilidade sua razão contesta, ele se afasta e até mesmo se reconhece como incrédulo, sem perspectivas de se manter no caminho sob orientação de instituições religiosas. É importante salientar que, apesar de muitas vezes se encontrar nessas condições de contestador e incrédulo, esse Ser terá em seu íntimo uma religiosidade genuína, existente em sua memória primordial, fazendo com que ele continue a sua busca para conforto do seu próprio Espírito – caminhar ao encontro de um futuro que lhe seja lógico, digno da grandeza, da justiça e da infinita bondade Deus.

Um outro aspecto interessante a ser observado é o de por qual razão Jesus não ter revelado todos os seus ensinamentos de forma precisa, e sim através de parábolas e simbolismos. Apesar de o seu exemplo de vida – principal ensinamento que nos deixou – ter sido a maneira mais contundente e expressiva de nos oferecer o caminho da verdadeira vida à luz do amor.

Precisamos ter em mente que a evolução da Humanidade é um processo constante que teve início com o Ser Humano em sua infância intelectual. O conhecimento é proporcionado à medida que o Ser tem condições de absorvê-lo. Não se ensina à infância o que se ensina à idade madura. A mensagem de Jesus, à época, foi compatível com o nível intelectual e espiritual daqueles com quem ele conviveu.

Considerando que somos espíritos eternos, com oportunidades de renovação pela reencarnação, podemos afirmar que aqueles a quem foram oferecidos os ensinamentos há dois mil anos são os mesmos espíritos que hoje, crescidos em Inteligência e em religiosidade, requerem mais conteúdo e consistência nos ensinamentos evangélicos. A eles são insuficientes os fundamentos elementares que se oferecem aos espíritos na infância intelectual e espiritual.

Os ensinamentos de Jesus não se modificaram, são importantes desde sempre, o que se modifica é a nossa consciência sobre a essência da mensagem que nos foi oferecida por ele. O caminhar do nosso sentimento e intelectualidade é que avançou e nos exige mais reflexão e amplia nossa percepção consciencial. A interpretação pessoal se mostra necessária e a compreensão se expande. Tornamo-nos mais inteiros, mais integrados com o que nos cerca, e nossa capacidade de nos envolver com o Todo se faz mais explícita, mais sólida.

Importante também refletirmos sobre o que nos diz Jesus em João 8:43 – “Por que não entendei a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra.”

A prática religiosa muitas vezes se dá pelo simples comparecimento aos templos ou grupos de estudo evangélico sem, no entanto, comprometimento com o efetivo exercício dos ensinamentos. Envolvidos na lide do dia-a-dia, afazeres profissionais e domésticos, nós nos esquecemos das obras a que nos remete Tiago em 2:17 – “a fé, se não tiver as obras é morta em si mesma.”

Quando o seguidor do Cristo fortalece o seu aprender; aprimora-se no ajudar os outros, através da sua dedicação ao trabalho no mundo em que vive; proporciona oportunidades de compartilhamento do que conseguiu amealhar como aprendizado visando à prosperidade e elevação do bem comum, ele passa à categoria de obreiro, penetrando na seara sublime do Apostolado.

Compreendendo a importância do exercício dos ensinamentos do Mestre em nossas vidas, nós teremos aprendido que o Evangelho “é o mais belo poema de esperanças e consolações de que se tem notícia… precioso tratado de psicoterapia contemporânea para os incontáveis males que afligem a criatura e a Humanidade.” Joanna de Ângelis em “Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda”

Gostaria de refletir, nesse momento, sobre o quanto deveríamos ser gratos àqueles que nos proporcionaram a oportunidade do contato com os ensinamentos maiores. Seja aos evangelistas, apóstolos, profetas, como a tantos outros que se dedicaram ao exercício da palavra – escrita ou falada – no compartilhar de tudo o que presenciaram e aprenderam. Esse sentimento de gratidão poderia ser uma constante em nossas vidas.

Esse exercício de aprender e compartilhar poderia ser tomado como missão de todos nós, transformando nossa fé através da mais bela atitude de fraternidade e compaixão por aqueles que fazem parte desse nosso momento na eternidade.

Do livro “Reflexões Evangélicas II”, de Elda Evelina Vieira, Bookess Editora

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