Posted por em 11 jun 2013

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Áudio (mp3) quando proferida no Centro Espírita André Luiz (Guará II) – Palestra – Não vim trazer a paz, mas espada

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” Mateus 10:34

Seria muito interessante começarmos a nossa reflexão a partir do contexto em que as palavras de Jesus foram ditas.

O Mestre chama seus doze discípulos e dá-lhes algumas orientações e missões a serem cumpridas:

– pregar a Boa Nova aos filhos de Israel e falar sobre o reino de Deus;

– curar os enfermos, ressuscitar os mortos, limpar os leprosos e autoridade para libertar os doentes do espírito;

– depender unicamente do seu próprio trabalho e não aceitar pagamento pelos benefícios que porventura ofereçam – “(…) de graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8);

– saber por onde e com quem anda e, em sendo dignos hospedagem e hospedeiro, abençoar a casa em que venham fazer morada, oferecendo a paz;

– serem “prudentes como as serpentes e simples como as pombas.” (Mateus 10:16);

– serem cautelosos e, quando forem retidos pelas autoridades, não se preocuparem com o que haveriam de falar, “porque naquela hora vos será dado o que haveis de dizer. Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.”;

– não temer os que matam o corpo, pois não podem matar a alma.

Jesus diz mais: “Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.” (Mateus 10:40)

Antes de Jesus proferir essas orientações, percorrera cidades e aldeias ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho e curando doentes e enfermos.

Observara as multidões enternecendo-se delas por se acharem perdidas, sem rumo “como ovelhas que não têm pastor.” (Mateus 9:36)

Disse ele aos seus discípulos: “a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mateus 9:37 e 38)

Muitos que leem este texto do Evangelho perguntam como Jesus poderia dizer que não veio trazer a paz e sim a espada (ou a divisão, como está em algumas traduções). Por certo é incabível pensar de o Mestre, um Ser de amor, compassivo, acolhedor, ser capaz de se expressar desta forma.

Jesus, o Cristo, estaria naquele momento indo além das simples palavras. Precisamos ir além da letra para compreender o verdadeiro sentido da mensagem que estaria querendo nos passar.

Por isso é importante refletirmos sobre o contexto em que está inserida essa passagem no Evangelho.

Os discípulos precisavam estar preparados para o exercício do apostolado e conhecer um pouco das dificuldades que iriam enfrentar e como procederem nessas circunstâncias. Por isso Jesus, sabedor dos obstáculos a serem vivenciados, oferecera tantas recomendações, orientações e alertas, inclusive quanto à hostilidade dos opositores à nova doutrina.

Uma das missões dos discípulos era a de propagar a Boa Nova às ovelhas perdidas de Israel. Àqueles que ainda não haviam acolhido os novos ensinamentos trazidos por Jesus. Alguns desses ainda não seguiam o Mestre por não terem tido a oportunidade de tê-lo conhecido, mas outros tantos não haviam acolhido os ensinamentos por não terem ainda, em seus corações, sensibilidade para compreenderem o quão importante seriam esses em suas vidas.

Muito difícil para todos nós acolher sem restrições o que nos é novo. Estando arraigados a antigos conceitos, nós resistimos muito em aceitar a mudança, principalmente quando esses conceitos representam alterações radicais em nossas vidas.

Quando uma nova ideia se apresenta sem importância ou validade, ninguém se importa com ela e segue como se nada houvesse acontecido.

No entanto, quando as ideias apresentadas, os novos conceitos e valores, se mostram como bases sólidas para um futuro mais promissor e divergente do “status quo”, seus antagonistas, por pressentirem o perigo que possam representar para o poder, a autoridade vigente, reagem e se lançam contra ela e aqueles que representam a promoção dessas mudanças.

Os ensinamentos de Jesus proporcionavam reflexões profundas e interferiam intensamente nas convicções religiosas, comportamentos sociais e legais da época.

Quanto mais profundas e intensas são as novas ideias, mais resistência e oposição promovem na sociedade em que são apresentadas. As pessoas procuram desqualificar, denegrir e expulsar aqueles que buscam promover os novos conceitos, novos valores.

Não é difícil compreendermos isso considerando que Jesus, o Cristo, foi negado, julgado e condenado por seus próprios pares, representantes do Sinédrio, o tribunal judaico.

A mensagem do Mestre abria um novo horizonte para aqueles que estavam sensíveis a acolher o amor, o respeito, a compaixão, a ética nas relações interpessoais, justiça, igualdade, inclusão, harmonia. No entanto, aqueles que detinham o poder, por não quererem abrir mão do prestígio, da autoridade, da supremacia sobre os menos favorecidos, tentaram a anulação das novas ideias matando o idealizador.

Não compreenderam que estavam diante de algo muito maior do que o próprio propagador da ideia. A Boa Nova tinha vindo para ficar e fincar raízes profundas no mundo não só daquela época, mas por toda a eternidade.

Matar o homem não implicou em matar a ideia. Pelo contrário, muito mais força proporcionou à mensagem que fora exposta. A grandeza do espírito de Jesus, o Cristo, a brandura como vivenciou toda a experiência a ele imposta, a compaixão expressa em todos os momentos em que viveu, em corpo, no Planeta, só fez com que sua mensagem se mostrasse verdadeira, se fizesse mais confiável e crível para todos, naquela ocasião e até hoje entre nós.

Os apóstolos experimentaram também, enquanto cumpriam as recomendações do Cristo, muitas dificuldades, restrições, oposições, violências físicas e emocionais. Todos eles dispostos a morrer pela confiança que tinham nos ensinamentos de Jesus, o Cristo. Tiago e Mateus foram mortos pela espada; Pedro e André foram crucificados; o outro Tiago foi espancado até a morte ao se recusar a negar sua fé em Cristo; Bartolomeu (também chamado Natanael) foi chicoteado até a morte; Tomé foi atingido por uma lança durante uma de suas viagens missionárias; Matias foi apedrejado e decapitado; Paulo foi torturado e decapitado.

Os que detêm o poder da autoridade e dos valores materiais receiam novos ideais que possam proporcionar um novo olhar para aqueles que lhes estão sujeitos, pois, ao se lhes abrirem os olhos, uma nova semente germina, um novo horizonte se descortina, uma nova força geradora lhes surgem e a mudança se faz clara e promissora.

Por muitos séculos o mundo vivenciou situações de extrema violência. Violência essa em nome de uma doutrina denominada, por seus dirigentes, de Cristã. Longe disso, na verdade, pois o Cristo só pregou o amor, a fraternidade, a caridade; vivenciou ele mesmo, intensamente, todos estes preceitos, sem nunca abdicar dos seus princípios, em qualquer circunstância.

Quando Jesus afirmou: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.”, ele tão-somente anteviu o que viria acontecer, pois esses acontecimentos eram inevitáveis em razão do nível de espiritualização em que a Humanidade terrena ainda se encontrava.

Podemos observar, ainda hoje, que a Humanidade mantém um nível de espiritualização muito aquém do que seria desejável. Estamos vivendo, por enquanto, em um Mundo de Expiação e Provas, desejando migrar para o de Regeneração. Muito temos a aprender e exercitar os ensinamentos do Cristo, nosso Mestre maior.

Ainda podemos encontrar dissenções religiosas, onde cada um se acredita detentor da verdade e dos meios de salvação das almas. Muitos se acham com o poder de revogação dos chamados pecados, quando todos nós, com raríssimas exceções, estamos ainda trilhando o caminho do aprendizado básico, elementar, e cometemos os mesmos tipos de erros decorrentes do nosso orgulho, vaidade, falta de compaixão, exercício incipiente da fraternidade e da caridade.

Após dois milênios, com relação à Boa Nova temos muito a aprender, apreender e a aplicar em nossas vidas.

Jesus disse: “Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa.” (Mateus 10:35 e 36).

Faz-nos crer que ele já previra situações em que pessoas de uma mesma família fariam opções diferentes sobre que religião, conceitos, valores e princípios filosóficos seguir. A vaidade e o orgulho ainda arraigados em nós promoveriam discordâncias e dissenções – a espada ou a divisão.

Não respeitamos as diferenças e cremos ter o domínio sobre a verdade. Não percebemos que cada um de nós está em um patamar evolutivo distinto dos demais companheiros de jornada. Alguns mais intelectualizados, outros mais sensíveis emocionalmente, outros mais espiritualizados.

O importante é compartilhar o que temos de melhor em nós e aprender com os irmãos de caminhada o que eles têm para nos oferecer e ensinar. Seguirmos juntos, de forma harmoniosa, em nossa jornada de evolução.

A paz tão almejada por todos nós, e pregada pelo amado Mestre Jesus, acontecerá quando a fraternidade universal suceder ao ódio; a luz da fé iluminar as mentes por ora nas trevas do fanatismo. Quando o Consolador se fizer verdadeiramente presente em nossos corações e nos conscientizarmos da essência do sentido das palavras do Cristo e os homens, então esclarecidos, compreenderão que somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai… Deus.

2 Comentários

  1. 14-6-2013

    Boa tarde!
    Muito bom o texto. Objetivo e elucidativo. Como a autora coloca em determinado momento, ideias novas implicam em não aceitação, depreciação, inelasticidade em compreender e praticar.
    Ainda hoje, atentemos para os comentários a respeito de determinados vídeos espíritas ou espiritualistas, constatamos da simples negação ao absurdo da agressão…
    Esse estágio para o planeta de regeneração ainda leva muito tempo!!!

    • 14-6-2013

      Boa tarde, amigo. Realmente ainda estamos muito longe de entrarmos no estágio da Regeneração. O processo de transição ainda perdurará por um longo tempo. Abraços fraternos.

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