Posted por em 22 maio 2021

O Ageísmo é uma realidade. Encontramos como definição: “atitude que os indivíduos e a sociedade têm frequentemente com os demais, em função da idade” (1). Embora nos pareça muito sutil a diferença entre atitude e a discriminação, esta refere-se tão somente ao fator idade. Pode ser até difícil identificar a diferença entre uma e outra – atitude e discriminação:

Atitude – “comportamento ditado por disposição interior; maneira, conduta;

Discriminação – “Ação ou efeito de separar, segregar, pôr à parte”.

Buscando mais entendimento, no caso entre preconceito e discriminação, encontramos ainda:

– “Preconceito e discriminação

Apesar de socialmente ligados, os termos preconceito e discriminação têm significados diferentes. Enquanto o preconceito é o pré-julgamento, a discriminação é o ato de diferenciar, de dar tratamento diferente. A discriminação é a ausência de igualdade ou a manifestação das preferências, causando cisões sociais entre os indivíduos.” (2)

Diz-se que a origem do termo se deu quando houve proposta de criação de um centro residencial para idosos no EUA… Houve manifestação contrária ao empreendimento. Provavelmente está aí a origem ao termo – Age (idade em inglês) e o sufixo ismo (designa conceitos ou ideias, de ordem geral).

O preconceito é apresentado sempre, ou quase sempre, como um sentimento de alguém com relação ao outro. No entanto, há um outro enfoque para esse olhar para o idoso. É o auto olhar, o ver a si mesmo como alguém sem condições de continuar a ser um idealizador, um realizador, um artista da vida. 

Podemos observar várias pessoas, ainda com capacidade de criar, produzir, sonhar, sentirem-se acanhados diante de oportunidades incríveis. Absorvem para si o que outros dizem a respeito daqueles que avançaram na idade, no seu tempo na vida, e se constrangem a seguir com seus ideais e processos criativos. Investiram muito na aplicabilidade do que conquistou com determinação e afinco e, de repetente, por alguns lhes dizerem ser hora de se recolherem, por não terem mais a mesma capacidade de antes, acolhem esse conceito e deixam de ser produtivos e criativos. Mesmo com muita experiência para compartilhar e auxiliar na sociedade e área profissional em que atuou por anos. 

O Ageísmo, como auto conceituação preconceituosa, é talvez mais perigoso do que aquele que lhe é dirigido por outrem. 

Quando alguém identifica um preconceito, dirigido a si por outra pessoa ou pela sociedade em que está inserido, pode ter duas atitudes: 

– acolher como verdade, entregar-se e desistir; ou

– olhar para o fato, deixar passar, simplesmente assim, e seguir em frente, confiante na sua capacidade de atuação, realização e criação.

No caso de esse preconceito ser dirigido a si mesmo, só se identifica uma opção, a que já acolhemos em nós ao nos entregarmos à auto discriminação. Desistimos de ser ativos, criativos e produtivos.

Os preconceitos, na sociedade, se sustentam, tomam fôlego e permanecem porque nós permitimos que aconteça. 

Não existem por si sós, precisam de reforço para criarem raízes. 

Precisamos, todos nós, de sermos mais conscientes do que somos e valorizarmos mais nossos valores – culturais, intelectuais, éticos, morais. 

Nós, idosos, temos um arcabouço de conhecimento de grande valor e é importante que valorizemos esses valores conquistados e desenvolvidos ao longo de anos, décadas.

Fazem parte da herança que deixamos para filhos, netos, amigos. Para a sociedade em que vivemos, enfim. 

Quanto mais nós nos conscientizarmos desses valores, mais ativos e úteis seremos para o meio em que vivemos.

Também um particular importante… quanto mais nos apresentarmos como alguém que se dá o devido valor, mais respeitados e produtivos seremos entre aqueles que nos são caros, como também para a sociedade em que estamos inseridos.

Ainda refletindo sobre o comportamento preconceituoso, com relação aos idosos, tentar fazer uma retrospectiva sobre relações familiares em épocas remotas, como também em diferentes grupos sociais.

Vamos nos restringir ao contexto em que estamos inseridos – Brasil –, ainda que possamos encontrar várias situações, principalmente identificarmo-nos por expressiva influência na diversidade de raças – invasões e conquistas (heterogeneidade nas etnias) –, conceitos, tradições, em decorrência da nossa ampla extensão territorial.

Há alguns anos observávamos mais respeito e reconhecimento do valor de nossos antepassados. Atualmente identificamos, em boa parte da nossa sociedade, a não valorização de nossos idosos, havendo, no entanto, exceções que são muito bem-vindas.

Como observadora e não como profissional na área da psicologia e de relações sociais, vejo parte de nossos jovens sem vínculo afetivo e reconhecimento dos valores que poderiam arregimentar junto a seus pais e avós. Alguns por se acharem contemplados com conhecimento suficiente e não precisarem da ajuda de seus familiares mais idosos. Talvez também pudéssemos creditar à própria mídia por veicular esses conceitos e preconceitos sem se preocuparem com a repercussão desses entre os jovens e idosos. No caso dos jovens, supervalorizando suas capacidades intelectuais, no caso dos idosos, salientando a desatualização nos conhecimentos – ciência, tecnologia, vocabulário usual etc.)

Há também um aspecto que creio intervir nesse particular, a falta de interconexão entre as gerações e investimento na integração afetiva nas camadas de faixa etária.

É com a convivência que podemos observar a interação e a integração, podendo ajustar eventuais dificuldades e ampliar horizontes para uma maior valorização dos relacionamentos, onde todos podemos compartilhar o que sabemos, sentimos, o que pode nos fazer falta, o que podemos oferecer ao outro.

Há um aspecto nessa articulação que creio viria a proporcionar, positivamente, uma reviravolta nessas relações – conhecimento do outro, autoconhecimento, com a auto-observação diante da experiência oportunizada.

Muitas vezes colocamos nos jovens a responsabilidade de eventuais desajustes nessas relações. No entanto, deveríamos, nós os idosos, buscarmos em nós mesmos o que teríamos a oferecer aos nossos jovens, sem que lhes parecesse uma exposição de sabedoria que lhes falta.

Os idosos, ao longo de suas existências, adquiriram sim conhecimento, experiências, valores, importantes e devem sim ser compartilhados.

Os jovens também têm conhecimentos que lhe são oferecidos todos os dias por inúmeros meios de comunicação, nas escolas, como também na convivência com outros jovens. Esse elenco de informações também se fazem importantes aos idosos para se atualizarem e terem novos olhares para a vida e para a própria sociedade.

Um caminhar juntos, sem preconceitos, sem resistência, com tolerância, humildade, respeito, carinho e amor.

(1) Oxford Languages)

(2) BrasilEscola.uol.com.br

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