Posted por em 5 nov 2018

Estudo oferecido na FEB Federação Espirita Brasileira, no dia 5-11-2018

Folheto distribuído ao público (PDF) – Reino de Deus – Esforço para tomar o Reino de Deus

Áudio do Estudo (mp3) – Esforço para tomar o Reino de Deus

“Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12)

O Ser, em sua jornada, vivencia processos de reformulações materiais e espirituais

Enquanto um ser primitivo em sua forma, passou por profundas transformações através de milênios, considerando sua jornada terrena.

Este Ser, ainda sem seus princípios intelectuais consolidados, recebe um instinto de preservação.

Esse instinto muitas vezes o leva a ações embrutecidas. Não fosse assim, não resistiria por muito tempo em sua existência material

Se considerarmos o que nos conta a ciência, são bilhões de anos decorridos  nessa jornada, ainda sem alcançar a condição de um Ser com capacidade cognitiva, emoções mais elaboradas e finas como o sentimento de coletividade, solidariedade, fraternidade, por exemplo.

Seus instintos, fundamentalmente, tinham como função principal a sua autopreservação. Uma busca constante em manter sua existência e, nela, aprender a sobreviver.

Passou por uma constituição unicelular, em meio líquido/aquoso, enfrentando intempéries. Desenvolveu, nesse ambiente, capacidade de defesa imprescindível à sua existência.

A ciência nos mostra, por pesquisas e observações, a ocorrência de diversificação das características desses seres, não só por adaptações às próprias mudanças por que passou e passa o Planeta, como também por aquisições que levam ao refinamento de seu modo de ser, de viver, de conviver e de sentir.

Hoje, podemos fazer essas observações por decorrência dessas qualificações adquiridas aproximadamente entre 400 mil e 100 mil de anos atrás.

Se considerarmos que o Planeta, também tendo como referência os dados científicos disponíveis, tem aproximadamente 4,6 bilhões de anos, a nossa participação como seres humanos conscientes é muito recente nesse contexto.

Em A Gênese, no Capítulo X Gênese Orgânica, encontramos:

“Formação primária dos seres vivos

  1. Tempo houve em que não existiam animais; logo, eles tiveram começo. Cada espécie foi aparecendo, à proporção que o globo adquiria as condições necessárias à existência delas.”
  2. (…) a lei que preside à formação de todos os corpos da Natureza. A inumerável variedade deles resulta de um número pequeno de princípios elementares combinados em proporções diferentes.
  3. Alguns exemplos comuns darão a compreender as transformações que se operam no reino orgânico, pela só modificação dos elementos constitutivos.
  4. As diferentes combinações dos elementos, para formação das substâncias minerais, vegetais e animais, não podem, pois, operar-se, a não ser nos meios e em circunstâncias propícias, fora dessas circunstâncias, os princípios elementares estão numa espécie de inércia. Mas, desde que as circunstâncias se tornam favoráveis, começa um trabalho de elaboração; (…)

Princípio vital

  1. Dizendo que as plantas e os animais são formados dos mesmos princípios constituintes dos minerais, falamos em sentido exclusivamente material, pois que aqui apenas do corpo se trata.

            Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há na matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível e que ainda não poder ser definido: o princípio vital.  (…)

O Homem corpóreo

  1. (…) Acompanhando-se passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior. (…)
  2. Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra. Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar.

Todavia, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, tanto mais cresce de importância o princípio espiritual. Se o primeiro o nivela ao bruto, o segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite extremo do animal; não vemos o limite a que chegará o espírito do homem.”

Estamos em constantes processos de transformação, sejam pelas características físicas – aparência e conformações orgânicas -, como também emocionais.

Não obstante já observarmos uma evolução razoável do ponto de vista dos sentimentos colaborativos, ainda há muito a conquistar nesse particular.

Identificamos, em muitas ocasiões, deixarmo-nos levar por reações instintivas de busca pela supremacia, sobrevivência, não compreendendo ainda a necessidade da convivência com a diversidade, fator que nos proporciona aprendizados importantes na construção do nosso Ser, em evolução.

Capítulo XI Gênese espiritual

  1. É inata ao homem a ideia da perpetuidade do ser espiritual; essa ideia se acha nele em estado de intuição e de aspiração.
  2. Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a eternidade tem havido seres que atingiram o ponto culminante da escala. (…)
  3. (…) O corpo e, pois, simultaneamente, o envoltório e o instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste outro envoltório apropriado ao novo gênero de trabalho que lhe cabe executar, (…)
  4. Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital, não mais encontrando elemento para suas atividades, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida se tornar inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável.”

Há de convir que, observando esse processo, mais ainda, vivenciando-o, temos a impressão d e transitarmos por sofrimentos, dado o nosso apego ao corpo e à vida. Isso se deve por ainda não internalizarmos o princípio inerente ao progresso espiritual.

Como vimos no texto de A Gênese, a evolução do Espírito exige a reformulação do corpo físico. Quanto mais aquele se desenvolve na escala evolutiva, mais o outro precisa ser reorganizado em suas propriedades para acompanhar e proporcionar condições de trabalho e cumprimento das tarefas de que aquele está incumbido..

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Interpretarmos, desta forma, a passagem objeto deste Estudo:

“Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12)

O Reino dos céus, ou Reino de Deus, é alcançado no burilamento do Espírito que somos. Exige de nós empenho, persistência, determinação, entendimento, sem os quais não alcançaremos nossos propósitos.

A esse processo poderemos, dada a nossa condição ainda de “meninos espirituais”, denominar de esforço, ou até mesmo de violência (da Natureza).

Quando alcançarmos o entendimento necessário, perceberemos que todo esse processo é natural e necessário. Seremos gratos por proporcionar a nós o alcance de patamares mais elevados na morada espiritual e o atingimento, de futuro, à condição de Espíritos Puros e a convivência estreita com nossos semelhantes.

Lembrando Emmanuel em o livro Fonte Viva (1):

“Vale ressaltar devermos, sempre que nos for oferecido alguma orientação ou ensinamento, buscar na sua essência o que diga respeito a nós próprios.

É comum lembrarmo-nos dessa ou daquela pessoa e de como precisaria ouvir alguns ensinamentos quando nos chega alguma palavra de alerta sobre comportamento e valores. No entanto, é imprescindível que, nesses momentos, lembremo-nos de nosso próprio modo de vida e em que essa palavra cabe no nosso processo de aprendizado e crescimento espiritual.”

Precisamos “arar” o terreno que somos nós para que venhamos a produzir bons frutos. Lembrando outro texto de Emmanuel (2):

“É necessário, pois, que o discípulo sincero tome lições com o Divino Cultivador, abraçando-se ao arado da responsabilidade, na luta edificante, sem dele retirar as mãos, de modo a evitar prejuízos graves à “terra de si mesmo”.

Meditemos nas oportunidades perdidas, nas chuvas de misericórdia que caíram sobre nós e que se foram sem qualquer aproveitamento para nosso espírito, no sol de amor que nos vem vivificando há muitos milênios, nos adubos preciosos que temos recusado, por preferirmos a ociosidade e a indiferença.

Examinemos tudo isto e reflitamos no símbolo de Jesus. Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no prato e celeiros guarnecidos.”

Este texto de Emmanuel poderá remeter-nos ao entendimento de que o acesso ao Reino de Deus, ou Reino dos Céus, exige de nós o exercício constante, árduo e determinado. Este está fundamentado na seguinte passagem do Evangelho(5):

“E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus.” — (Lc 9:62.)

Resgatando mais um pouco das reflexões de Emmanue(3):

“Interessante notar que João não apresenta o Senhor empunhando leis, cheio de ordenações e pergaminhos, nem se refere a Ele, de acordo com as velhas tradições judaicas, que aguardavam o Divino Mensageiro num carro de glórias magnificentes. Refere-se ao trabalhador abnegado e otimista. A pá rústica não descansa ao seu lado, mas permanece vigilante em suas mãos e em seu espírito reina a esperança de limpar a terra que lhe foi confiada às salvadoras diretrizes.

Todos vós que viveis empenhados nos serviços terrestres, por uma era melhor, mantende aceso no coração o devotamento à causa do Evangelho do Cristo. Não nos cerceiem dificuldades ou ingratidões. Desdobremos nossas atividades sob o precioso estímulo da fé, porque conosco vai à frente, abençoando-nos a humilde cooperação, aquele trabalhador divino que limpará a eira do mundo.”

“No turbilhão das tarefas de cada dia, lembrai a afirmativa do Senhor: – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida“. Se vos cercam as tentações de autoridade e poder, de fortuna e inteligência, recordai ainda as suas palavras: – “Ninguém pode ir ao Pai senão por mim“. E se vos sentis tocados pelo sopro frio da adversidade e da dor, se estais sobrecarregados de trabalhos no mundo, buscai ouvi-Lo sempre no imo d’alma: – “Quem deseje encontrar o Reino de Deus tome a sua cruz e siga os meus passos“.Emmanuel(4)

Buscamos nosso crescimento espiritual sem percebermos que o processo evolutivo não está no procurar e sim no exercer, a cada dia, com determinação, confiança e fé, os ensinamentos trazidos pelo Mestre, Cristo-Jesus.

Para alcançarmos a graça de fazermos contato com o Reino de Deus que está em nós, precisamos conhecer a nós mesmos, empreendermos a tarefa do autoconhecimento. Sem o que não encontraremos o caminho que nos possibilitará esse encontro.

Se olhamos para nós como seres perfeitos, não procuraremos nos melhorar, pois já nos acharemos em condição de saber sobre tudo e não precisaríamos rever atitudes, agregar conhecimentos, enfim, reformarmo-nos espiritualmente.

Só vamos buscar um caminho de reforma íntima, de revisão de valores, sentimentos e comportamentos, se identificarmo-nos como seres frágeis, que cometem erros e precisam mudar, evoluir.

É o autoconhecer-se.

Em um dos livros de Madre Teresa de Ávila há reflexão interessante, algo assim: Deus criou a todos nós à sua imagem e semelhança. Muitas vezes sentimos dificuldade em saber quem é Deus.

Se Deus nos criou à sua imagem e semelhança, nós só conheceremos Deus no dia em que nós nos conhecermos. Enquanto não nos conhecermos (que somos à imagem d’Ele), como poderemos conhecer Deus? (releitura do que consta do livro Moradas do Castelo Interior)

Esta reflexão remete-nos a algo que a própria doutrina espírita nos coloca. Precisamos nos conhecer, mudar os nossos conceitos e nos aproximarmos da perfeição que Jesus espera de nós.

Aconselha-nos Paulo em II Coríntios 13:11: “Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco.”

Este é o convite que Mestre Jesus apresenta a todos nós: “Sede perfeitos como perfeito é nosso Pai celestial.”

(1)       Capítulo “Diferença”, Fonte Viva, Emmanuel, por Chico Xavier, FEB

(2)       Capítulo “Arado”, Pão Nosso, Emmanuel, por Chico Xavier, FEB

(3)       Capítulo “O trabalhador divino”, Pão Nosso, Emmanuel, por Chico Xavier, FEB

(4)       Questão 225, O Consolador, Emmanuel, por Chico Xavier

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