Posted por em 29 jun 2018

Estudo oferecido no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Estêvão – Sede do Paranoá, em 29-06-2018

Folheto distribuído ao público (PDF) – Tempo certo

Áudio do estudo oferecido (mp3) – Tempo certo

 

Jesus falava por parábolas e os exemplos de que se utilizava faziam parte da vida daqueles que o seguiam e ouviam; do dia-a-dia das pessoas, do que conheciam e viviam. Ele procurava exemplos que permitissem ao povo entender sobre a própria vida, sua esperança, suas tristezas, seus sonhos e sofrimentos. Falava a partir do amor.

Eis a parábola do semeador: Mateus 13:1-8 (Marcos 4:3-9 e Lucas 8:4-15)

1 No mesmo dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se à beira do mar;

2 e reuniram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco, e se sentou; e todo o povo estava em pé na praia.

3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.

4 e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram.

5 E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda;

6 mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.

7 E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.

8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.

Jesus saiu de casa. Isso é muito significativo, pois é necessário “sair de casa” para realizar algo. Muitas vezes nós ficamos fechados na casa da nossa vida, dos nossos interesses, do nosso egoísmo. Muitas vezes não somos capazes de sair de casa, sair da nossa segurança, sair do espaço e das coisas que controlamos.

Por receio do que nos possa acontecer nós nos trancamos no individualismo, não arriscamos.

Para semear, precisamos sair como Jesus saiu e como também saiu o Semeador.

O Semeador não guardou a semente, “ele saiu a semear”. A semente não deve ficar guardada, escondida, ela precisa ser lançada ao solo para que brote e produza frutos. A semente guardada pode perder-se por apodrecer ou por ficar velha e estéril.

Precisamos nos conscientizar de que a semente contém em si o mistério da frutificação. Ela contém tudo o que é necessário para a formação de uma árvore e sua capacidade de produção dos frutos.

Muitas vezes nós acreditamos que não vale a pena sair a semear por não valer a pena tentar mudar as coisas. Achamos que não iremos conseguir transformar o mundo à nossa volta e, por isso, não vale a pena o risco.

É quando nos fechamos no nosso egoísmo, ficamos enclausurados no nosso medo.

Precisamos sair desse casulo que formamos em torno de nós, precisamos “sair de casa” e acolher a esperança de conseguir transformar nossos caminhos.

Lembro-me de uma frase do Padre Júlio Lancellotti: “Nós acolhemos para transformar e nos transformamos para colher.” Diz ele ainda que quem confia “sai de casa” para semear.

A semente é um ótimo exemplo para essa reflexão. Ela acolhe a terra, acolhe a água e se transforma, exuberante. Torna-se uma árvore, ou mesmo um arbusto, e eclode os botões que surgem produzindo frutos que são colhidos para iniciar um novo ciclo de acolhimento, transformação e colheita. Acolhimento representa o amor em ação, caridade, responsabilidade e compromisso.

Colocando-se Jesus à beira do mar, “reuniram-se a ele grandes multidões…”.

Jesus se apresentou com autoridade moral por todo o tempo em que esteve conosco. A multidão se acercava dele atraída por sua vibração de amor.

Quando nos colocamos à disposição da renovação e do trabalho no bem, com o coração fraterno, nós percebemos a aproximação de pessoas, em torno de nós, à busca de aconchego, carinho, amparo, orientação e segurança.

Com essa constatação, mais responsáveis devemos nos reconhecer pelo que fazemos, falamos e demonstramos no dia-a-dia.

Ao sair a semear o semeador distribuiu suas sementes, independente do tipo de solo que estava pelo seu caminho. Não se preocupou se o solo era estéril ou fértil. Não ficou questionando se valia a pena o risco ou se o seu trabalho produziria resultados. Ele simplesmente cumpriu a missão a que se propôs – semear as sementes.

A semente é a mensagem do Evangelho, os ensinamentos de Jesus, o Cristo. Nós somos o solo em que as sementes são lançadas. Há vários tipos de pessoas e diferentes são seus níveis de evolução e de receptividade à mensagem do Evangelho do Cristo.

Os “semeados” à beira do caminho são os que ficam dispersos, insensíveis aos ensinamentos. Não estão em condições de compreender os ensinamentos contidos na semente do Evangelho do Cristo.

Protelam a oportunidade de aprender e internalizar os ensinamentos; preferem permanecer no comodismo e não percebem a grandiosidade e importância do viver com Cristo.

Os “semeados” em lugares pedregosos são superficiais na sua visão da vida. De pronto recebem a mensagem, mas logo a esquecem e seguem o seu caminho. Não deixam que os ensinamentos criem raízes. São pessoas que se encantam com a mensagem, respondem de imediato aos chamados ao trabalho. Apesar disso, diante de qualquer obstáculo se afastam e desistem de prosseguir com o aprendizado.

No entanto, vale ter também um outro olhar sobre essa questão. Mesmo nesses lugares há terra entre as pedras e pode haver sementes que ali se enraízem. Essas sementes representam pessoas que aceitam o Evangelho, apesar de eventuais circunstâncias adversas e embaraços que as envolvem. Normalmente são essas que mais se afirmam no acolhimento da semente em suas vidas, pois essas sementes que brotam entre as pedras fixam suas raízes de forma profunda e dificilmente se deixam arrancar.

Os “semeados” entre os espinhos são frágeis em seu entendimento e facilmente são envolvidos pela falsa luz das facilidades, pelo brilho dos falsos tesouros e acabam sufocados na busca pelas realizações fáceis e conquistas materiais.

Os “semeados” que frutificam são aqueles que acolhem a semente em seu coração, confiam e se transformam em novos semeadores. Colhem os frutos da semeadura e se comprazem com o resultado do seu trabalho. São aqueles que “acolhem para se transformar e se transformam para colher”.

Todos nós já nos encontramos, em algum momento, na condição de solos “à beira do caminho”, ou “pedregosos”, “entre espinhos” e até mesmo como de “boa terra”.

Há momentos em que estamos refratários a algum tipo de aprendizado por não querermos mudar a nossa rotina; preferirmos a facilidade do usufruir as conquistas materiais e protelamos o nosso caminhar à luz do Evangelho do Mestre.

Em outras circunstâncias, vemo-nos sufocados pela intolerância, autoritarismo; enfim pelo orgulho e pela vaidade. Valorizamos mais o Ter do que o Ser melhor.

Há, no entanto, a grande esperança na reformulação dos nossos conceitos e valores. Todos estamos em processo de crescimento espiritual e, em algum momento, iremos acordar para o que realmente importa em nossas vidas – reencontrar o Ser puro que existe em nós, a luz que brilha em nossa alma e agregar os ensinamentos maiores em nossas vidas.

Não só nos reconhecermos como solos férteis, mas também, e principalmente, transformarmo-nos em Semeadores da Boa Nova – acolher para se transformar e se transformar para colher.

Há o tempo da semeadura, como também da colheira

“A colheita não é igual para todas as sementes da terra. Cada espécie tem o seu dia, a sua estação.

Eis por que, aparecendo o tempo justo, de cada homem e de cada coletividade exige-se a extinção do joio, quando os processos transformadores de Jesus foram recebidos em vão. Nesse instante, vemos a individualidade ou o povo a se agitarem através de aflições e hecatombes diversas, em gritos de alarme e socorro, como se estivessem nas sombras de naufrágio inexorável. No entanto, verifica-se apenas a destruição de nossas aquisições ruinosas ou inúteis. E, em vista do joio ser atado, aos molhos, uma dor nunca vem sozinha.” (1)

Como afirma Emmanuel, para a colheita correta deve-se sempre respeitar o momento de cada semente.

Sabemos que algumas espécies de plantas medicinais, para que alcancemos de forma mais plena possível a finalidade a que nos propomos – produção do medicamento com a erva escolhida – devemos respeitar o seu momento de maturidade, a melhor forma da colheita, até mesmo se devemos colhê-la ao sol, ou no meio da noite. Se não observamos as especificidades de cada uma delas não conseguiremos alcançar nosso intento e a erva não será de valia na sua aplicação.

Assim ocorre também com a colheita na seara do Senhor. Precisamos alcançar nossa maturidade espiritual para que despontemos no campo e possamos ser identificados como plantas já em condições de cumprir a nossa missão.

Em não sendo assim, precisamos ainda passar por novos processos de depuração, aprendizado, conscientização e transformação no campo junto com outras sementes, onde compartilharemos o que já conseguimos apreender dos ensinamentos, bem como aprender com outros irmãos, companheiros de jornada, em um processo de acolhimento e doação constantes.

Encontramos em o livro “O Despertar da Consciência – do átomo ao anjo” (2), a seguinte reflexão:

“… quem avançou em amor e conhecimento, impulsionado pela sabedoria dos luminares da humanidade, tem por dever auxiliar os seus irmãos menos experientes, ou seja, a Lei determina que seremos auxiliados, na medida em que auxiliarmos.

Só alcança o perfeito equilíbrio e o sustenta quem se propõe trabalhar a benefício de todos, aperfeiçoando o processo evolutivo e dinamizando o progresso planetário: “A criatura que serve pelo prazer de ser útil progride sempre e encontra mil recursos dentro de si mesma, na solução de todos os problemas. (3)

(1)       Vinha de Luz, Cap. Joio, Emmanuel, por Chico Xavier

(2)       O Despertar da Consciência – do átomo ao anjo, de Sebastião Camargo, sob orientação de Léon Denis e Miramez

(3)       Fonte Viva, Cap. Quem serve, prossegue, Emmanuel, por Chico Xavier

 

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