Posted por em 26 jan 2015

Decors-Evangelho-04

Estudo oferecido na FEB em 26 de janeiro de 2015

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia

O que é ser misericordioso? É ter compaixão.

Muitas vezes entendemos compaixão e pena como sentimentos iguais. No entanto, alguém disse certa vez que existe fundamental diferença entre eles. Isto porque, quando sentimos pena de alguém nós nos colocamos em condição superior, como se nos encontrássemos em situação melhor por não estarmos passando pelo mesmo sofrimento; é não reconhecê-lo como alguém que pode encontrar um novo caminho e melhorar sua condição.

Compaixão, em contrapartida, é compreender o outro, acolher sem julgamento; é reconhecer no outro um Ser com condições de se reerguer, de aprender e evoluir; é envolvê-lo de forma a proporcionar oportunidade de superar suas dificuldades.

Assim, concluímos que o sentimento mais adequado em relação às pessoas e às suas limitações e dificuldades é a compaixão. É quando reconhecemos no outro alguém que, apesar de ser frágil espiritualmente ou intelectualmente e ter comportamentos inadequados, tem ainda muito a evoluir, tem potencialmente capacidade de se reerguer e encontrar o seu caminho.

Devemos ter pelo outro o sentimento de compaixão, reconhecer no outro alguém com capacidade própria para mudar, necessitando talvez só de um pequeno impulso. Oferecer a ele uma ajuda, seja na forma de uma palavra amiga, de um livro que possa levar a ele um aprendizado ou um simples abraço.

Passemos a sentir compaixão pelas pessoas, acreditar que elas têm capacidade de mudar. Vamos ter compaixão por nós mesmos, acreditando que somos capazes de fazer uma grande mudança em nossas próprias vidas. Vamos reconhecer em nós Seres com condições de buscar a sua evolução seja intelectual, seja espiritual.

Ter compaixão, ou ser misericordioso, é sentir: eu estou em você e você está em mim; eu sinto o que você sente e você sente o que eu sinto. É perceber, com um simples olhar, quando o outro está triste ou alegre. Quando eu sinto uma dor não é só eu quem a sente, sentem todos os que estão conectados pelo sentimento da compaixão. Sentem a mesma emoção, têm a mesma percepção.

Se formos mais perceptivos quanto ao que ocorre à nossa volta estaremos em condição de promover um mundo melhor. Não é fácil, no estágio em que ainda nos encontramos, mas poderemos tentar promover mudanças que nos impulsionem a melhores condições de convívio. Sempre é tempo para alcançar novas metas e encontrar novos caminhos, mesmo que seja um pequeno passo de cada vez.

Vamos nos reconhecer humildes de espírito e reconhecer a nossa potencialidade de promover a nossa mudança. (parte do texto “Jesus consolador em as Bem-aventuranças)”, do livro Reflexões Evangélicas, Bookess Editora)

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Perdão das ofensas

O caminho para o perdão passa por sentimentos como o respeito, a tolerância, a compreensão, a compaixão.

Quando chegamos à consciência da necessidade do perdão e efetivamente conseguimos alcançar essa graça, chegou o momento de seguirmos em frente, pois há, ainda, um caminhar mais firme e condizente com os ensinamentos do Mestre – o caminho do amor.

Ao alcançarmos essa meta, que certamente ainda está algo distante de muitos de nós, a necessidade do perdão não mais terá lugar.

Por qual razão estaríamos a fazer tal afirmativa? Como não precisaríamos mais da aplicação do perdão se é uma das maneiras de demonstração de estarmos livres do orgulho nos relacionamentos interpessoais?

Para responder trago a seguinte reflexão:

– por que razão o perdão se faz necessário nesse estágio em que nos encontramos?

Nós falamos em perdão tendo em vista a ocorrência da mágoa, do ressentimento, do sentirmo-nos feridos por atitudes de outrem em relação a nós.

Falamos em perdão face à incompreensão, intolerância, raiva, que chegam até mesmo a dilacerar nossa alma, como muitas vezes ouvimos algumas pessoas dizerem.

Falamos em perdão quando da ocorrência de agressões que podem até mesmo marcar o nosso corpo físico.

Falamos em perdão porque ainda ocorre em nós o sentirmo-nos ofendidos. Pelo egoísmo que ainda existe em nós valorizamos o nosso próprio Ser em detrimento do bem-estar daqueles com quem convivemos. É o Eu se sobrepondo ao Nós.

O perdão ainda se faz necessário porque nós ainda não conseguimos nos libertar das amarras trazidas pelo orgulho, pela vaidade.

Precisamos expressar, seja com palavras, seja com atitudes como o perdoar, que estamos dispostos a demonstrar o quanto já conseguimos caminhar nessa jornada de progresso espiritual. Faz-se necessário que intencionalmente queiramos demonstrar nossa tentativa de nos melhorarmos, de buscar sermos humildes, mansos e pacíficos, puros de coração, como Jesus nos recomenda ser.

A expressão do perdão simboliza o quanto já conseguimos quebrar a armadura que construímos ao nosso redor para nos protegermos do mundo exterior que vemos como inimigo do nosso bem-estar, do nosso conforto físico e emocional.

Voltando ao início de nossa reflexão. Dissemos ali que o caminho para o perdão passa por sentimentos como o respeito, a tolerância, a compreensão, a compaixão.

Se alcançarmos a etapa do respeito mútuo dificilmente haverá agressões, sejam emocionais, sejam físicas.

Seguindo nesse caminhar, ao alcançarmos a etapa da compreensão e da tolerância teremos iniciado o processo de libertação do ressentimento, da incompreensão. Entenderemos que, na realidade, não foi o outro que nos ofendeu, não foi a agressividade do outro que nos machucou, nós mesmos é que nos permitimos sentir ofendidos por causa do nosso orgulho e vaidade.

Chegando à etapa da compaixão teremos alcançado o patamar da libertação da mágoa, da raiva, do impulso pela reação e chegamos até mesmo a buscar o acolhimento, ainda que tão-somente emocional e intencional, daquele que agiu com desamor contra nós.

Prosseguindo nesse processo de valorização e internalização dos ensinamentos do Mestre, estaremos com o olhar direcionado ao amor por excelência, o sentimento incondicional.

Quando efetivamente alcançarmos essa etapa da nossa jornada quaisquer atitudes de nossos companheiros de jornada serão acolhidas pelo nosso espirito como compatíveis com as fragilidades espirituais e emocionais desses irmãos. Estarão de acordo com nível de evolução espiritual em que eles se encontram. Compreenderemos que estão ainda em fases de sua jornada que não lhes permitiram encontrar o respeito, a compreensão. Ainda se orientam pelo orgulho que os cegam com relação aos próprios erros e só tem o olhar para os defeitos alheios. Como dizia o Mestre, o homem que tem uma trave dificultando sua visão e, no entanto, vê o cisco no olho do seu próximo.

Compreenderemos nossos companheiros de jornada porque reconheceremos neles o Ser que fomos anteriormente e saberemos o quão importante se tornou para nós essa mudança interior. Acolheremos esses companheiros de forma espontânea, sem precisarmos pensar para assim agir. Nossa emoção e atitudes serão reflexo do que já passou a fazer parte de nós, do nosso verdadeiro Ser – o Espírito.

O amor nos liberta de todas as amarras que nos impedem de viver com serenidade, lucidez, fraternidade, confiança. O amor preenche-nos de esperança, paz interior, de fé.

Quando o amor fizer parte de nossas vidas não mais precisaremos do perdão, pois não mais seremos afetados negativamente pelas atitudes alheias; não mais nos sentiremos ofendidos. Seremos só tolerância, compreensão e compaixão.

Nesse caso, alguém poderá nos perguntar: como fica nosso companheiro de jornada que agiu de forma indevida para conosco? Se ele não recebe o nosso perdão ele poderá ter dificuldade em se reerguer; seria prejudicado espiritualmente; manteria sua relação de desafeto para conosco?

Vale aqui mais uma reflexão a respeito dos nossos sentimentos com relação àquele que, de alguma forma, tentou nos prejudicar. O não explicitar o nosso perdão não implica em sentimento de indiferença, pelo contrário, é o acolher amorosamente esse irmão em nosso coração. A energia que estaremos vibrando em sua direção proporcionará a ele bem-estar e permitir-lhe-á perceber o carinho especial que estamos sentindo e o nosso desejo de que ele encontre um novo caminho em sua vida.

Nossos laços de desafeto se romperão e formar-se-á uma relação de confiança, de gratidão, de elevação espiritual que auxiliará a ambos ao longo de suas jornadas. (do livro Reflexões Evangélicas II, Bookess Editora)

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