Posted por em 28 jul 2014

Decors-Evangelho-extra

Palestra proferida no Grupo Fraternidade – áudio da palestra disponível em mp3 – Caracteres do verdadeiro profeta

Ser um divulgador do Evangelho do Cristo

As referências históricas a respeito de profetas sempre remetem a personalidades com dom da adivinhação.

No entanto, no Evangelho profeta tem uma significação mais ampla e profunda – aquele que tem como missão instruir os homens e lhes falar sobre os ensinamentos maiores.

É uma missão muito importante, muito especial, à qual deveríamos nos engajar todos nós – sermos porta-vozes das mensagens evangélicas, sermos propagadores dos ensinamentos do Amado Mestre Jesus.

Mais do que meros propagadores por palavras, sermos exemplos vivos desses ensinamentos em todos os momentos, através das nossas ações.

Podemos observar muitas vezes pessoas que aparentemente querem nos falar a respeito do Evangelho e dos prodígios do Amado Mestre enquanto entre nós como Jesus, arvorando-se no papel de profetas do Cristo. No entanto, poucas vezes podemos observar essas mesmas pessoas exercitando de forma verdadeira os princípios evangélicos em suas vidas. Essas pessoas são falsos profetas, pois não mantêm a essência dos ensinamentos em seus corações e por isso não conseguem agir como verdadeiros apóstolos do Cristo.

Podemos reconhecer o verdadeiro profeta através de suas ações. Como diz o Evangelho “são as obras que deveis examinar. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.” (Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. XXI, item 8)

Compaixão para com os que estão na infância espiritual

Aqui uma reflexão importante sobre nossas atitudes diante das pessoas que ainda se mostram infantis na lide evangélica.

Quando observarmos alguém com atitudes não condizentes com os ensinamentos evangélicos, sejamos compassivos. Compassivos sim, mas nunca coniventes. Oremos por esses irmãos compartilhando com ele energias do plano maior para que possam ser sensibilizados pela luz e encontrem seus verdadeiros caminhos.

A não condenação foi um dos ensinamentos que o Mestre nos deixou. Ele sempre demonstrou compaixão por todos aqueles com quem conviveu, crendo na capacidade de cada um encontrar o seu verdadeiro caminho algum dia. A condenação é um sentimento que afasta, que agride. A compaixão, por sua vez, é um sentimento que expressa acolhimento, amparo, amor.

Emmanuel, na mensagem “Meninos Espirituais”, no livro Caminho, Verdade e Vida, diz:

“Jamais prescindamos da compreensão ante os que se desviam do caminho reto. A estrada percorrida pelo homem experiente está cheia de crianças dessa natureza. Deus cerca os passos do sábio, com as expressões da ignorância, a fim de que a sombra receba luz e para que essa mesma luz seja glorificada. Nesse intercâmbio substancialmente divino, o ignorante aprende e o sábio cresce.

Os discípulos de boa-vontade necessitam da sincera atitude de observação e tolerância. É natural que se regozijem com o alimento rico e substancioso com que lhes é dado nutrir a alma; no entanto, não desprezem outros irmãos, cujo organismo espiritual ainda não tolera senão o leite simples dos primeiros conhecimentos.

Toda criança é frágil e ninguém deve condená-la por isso.”

Como cristãos e espíritas precisamos não só nos comportarmos dentro dos princípios evangélicos e doutrinários. Faz parte da nossa jornada, como espíritos já de alguma forma esclarecidos e comprometidos com os ensinamentos do Mestre, compartilhar o conhecimento que já conseguimos alcançar. Precisamos assumir o nosso papel de evangelizadores, de propagadores do Evangelho e da doutrina. Como disse o Cristo “ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”.

No entanto, esse trabalho deve ser feito com amor. Precisamos ser compassivos ao levar os ensinamentos aos nossos companheiros de caminhada. O compartilhar deve ser feito com carinho e respeito pelo estágio evolutivo de cada um. Cada um de nós tem a sua própria forma de percepção, limites de aceitação e cada espírito está em seu próprio grau de desenvolvimento e compreensão.

Precisamos estar atentos às nossas atitudes. Muitas vezes pensamos estar agindo de forma cristã com relação ao próximo quando queremos impor a eles a mensagem do Evangelho e a doutrina. Queremos impor-lhes conceitos e exigir-lhes comprometimento com o que ainda não lhes é possível compreender e muito menos ainda cumprir.

Devemos reconhecer que cada um tem o seu próprio tempo para aceitar e assumir novos caminhos que, no caso dos ensinamentos do Cristo, eles nos exigem mudanças muitas vezes radicais em nossos valores, conceitos, atitudes e até mesmo pensamentos.

As mudanças ocorrem de forma gradual, muitas vezes lenta, pois cada um tem o seu próprio movimento e devemos saber respeitá-los.

Uma das características do verdadeiro cristão, e por conseguinte do verdadeiro espírita, é a de ter a capacidade do não julgamento, a de respeitar os direitos dos seus semelhantes, suas crenças e direito de escolha.

Todos temos nossos momentos de aceitação plena do exercício dos ensinamentos do Mestre. Devemos ser compreensivos ao perceber no outro as dúvidas e os desacertos.

É nosso dever compartilhar o que já conseguimos amealhar durante nossa jornada. Levar ao próximo os ensinamentos do Cristo que já conseguimos compreender e internalizar em nossas vidas. No entanto, não temos o direito de impor ao outro um modo de vida a que ele ainda não está preparado, ainda não tem condições de assumir.

Como nos diz André Luiz no livro “Mensageiros”, devemos orientar e passar. Devemos levar o Evangelho do Cristo àqueles que ainda não o conhecem e seguir adiante em novas frentes de trabalho, deixando a cada um a opção de escolha e de aceitação. A cada um o seu próprio momento de ter a capacidade de compreensão e assunção dos ensinamentos como propósitos de vida.

Compartilhar é nossa meta. O que Jesus fez enquanto esteve conosco? Ele compartilhou o que sabia, aquilo que queria que aprendêssemos – amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.

O amar ao próximo como a si mesmo está nesse ato de compartilhar. Porque se eu amo o outro eu quero que o outro tenha as mesmas condições que eu tenho e que considero saudáveis para mim. Isso não quer dizer que eu tenha de impor ao outro o que eu sei, porque aí não é amor, é orgulho de achar que sabe tudo e é dono da verdade.

Precisamos compartilhar, sermos úteis, para termos as duas asas equilibradas – o conhecimento e a moral. Adquirirmos o conhecimento dentro do possível, o melhor que pudermos e buscar a nossa evolução moral para aplicar o nosso conhecimento intelectual de forma útil, amorosa.

Quando falamos de evolução moral nós estamos falando é de amor. A essência da evolução moral a que Jesus se refere é amor. Esse é o grande ensinamento.

Autoconhecimento, desapego, abandonar preconceitos, adquirir novos valores, virtudes. Amar o próximo depois de nos amarmos. Quando conseguirmos alcançar essa meta teremos conseguido cumprir o segundo grande mandamento. Com a conquista desse objetivo, consequentemente estaremos amando a Deus.

Este é o nosso maior objetivo. Amando a Deus, dessa forma, estaremos nesse grande manancial de Amor Divino.

Imersos na energia Divina nós já estamos, a dificuldade é nós percebermos e sentirmos esta bênção.

Quando nós conseguirmos alcançar esse amor maior, aí nós iremos sentir essa energia de Deus que nos envolve em todos os momentos de nossas vidas.

separador-2

Lembrando uma crônica de Rubem Alves – É assim que acontece a bondade. Ele diz que a solidariedade, como a beleza, está além das palavras.

Menciona que Fernando Pessoa sabia que a mensagem do poeta é percebida no vazio que existe entre elas, as palavras. Pois nas pausas existentes entre as palavras pode-se ouvir uma música e esta música não é o poeta que a toca. Pergunta então de onde viria essa música se não foi tocada pelo poeta!

Há também uma reflexão sobre coisas que estão “enterradas” em nossos corpos, imaginando o corpo como um grande canteiro onde se encontram sementes aguardando serem despertadas para desabrochar. Uma dessas sementes seria a solidariedade.

E com relação à solidariedade ele conta uma história sobre seu encontro com um garoto que vendia balas perto de um semáforo. É quando ele, Rubem Alves, que até aquele momento se mostrava alegre, com sentimentos descontraídos, passa a sentir os sentimentos do garoto que daquele momento em diante estão dentro de si.

Ele diz que, “pela magia do sentimento de solidariedade” seu corpo passa a ser morada do outro e afirma: “é assim que acontece a bondade”.

 separador-2

Que reflexão eu gostaria de trazer com o que disse Rubem Alves?

Sob o olhar poético da crônica, alguns caracteres que poderemos imaginar para o divulgador do Evangelho do Cristo:

1 – Procurar fazer ouvir, naqueles a quem se dirige, aquela música que se mostra no espaço vazio entre as palavras – tocar o sentimento, fazer expandir a emoção existente em cada um.

2 – Fazer brotar a semente que foi enterrada em nossos corpos. Ela está ali presente aguardando ser estimulada para fazer-se brotar e transbordar, nascendo e florescendo. Esta semente poderemos, por analogia, dizer que é a luz divina que existe em cada um de nós que precisa ser despertada para que se expanda e ilumine o mundo à nossa volta.

3 – Despertar naqueles, que estão a ouvir a mensagem de Jesus, o sentimento que possibilite ao próprio corpo ser morada do outro e saber levar a mensagem de forma a poder despertar no outro o gérmen que poderá fazer florescer nele os ensinamentos do Evangelho do Cristo.

Um Comentário

  1. 25-7-2016

    Texto muito claro, didatico que nos leva a reflexão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *