Margaridas

Esta arte foi visualizada antes mesmo de ser criada pelos pinceis.

Por muitos dias ela esteve presente em minha mente, mas minhas mãos não encontravam o momento de trazê-la para o papel.

Ela, a arte, se expressava como se não estivesse pronta a mostrar-se para o mundo… nem mesmo para sua criadora. Era como se ainda quisesse estagiar em plano sutil. Se envergonhada, eu não sei. Se quisesse mais um tempo, também não sei.

Veio chegando devagar.

Primeiro como desenho. Simples, só contornos. Sem expressão definida. Contornos… tão só contornos. No entanto, em minha mente eu já visualizada as cores com as quais ela, a arte, gostaria de se expressar.

Foram dias a deixar-se ver no plano sutil.

Passado um tempo, deixou-se colorir. Primeiro o verde, rabiscos como folhagem. Traços sutis como pequenos galhos que iriam sustentar minúsculas flores brancas, quase invisíveis. Depois se mostraram como que pontos a iluminarem aquele recanto verde.

Depois foi o momento dos galhos e folhas das flores.

Mais um momento de pensar e buscar sua expressão. Pediu o azul, como fundo para o contraste das pétalas que viriam depois.

Começou como um azul claro, suave.

No entanto, pareceu querer mostrar-se mais exuberante e pediu um azul intenso. E eu deixei que ela, a arte, decidisse e desse seu tom.

Bem, a partir de então, acolhi as pétalas como próximo passo. Brancas, simplesmente brancas. Singelas e meigas.

Por fim… os tons de amarelo a se expressarem. Um toque aqui e ali de marrom. Quando eu pensei haver terminado, pediu-me alguns pontos, salpicados de tom negro.

Olhei, pensei, tentei “ouvir” algo mais que me pudesse sugerir.

A arte havia se recolhido e silenciado.

Então… só me restava deixar a assinatura, simples, pequena. Deixei-me a olhar e permitir que ela se expressasse, simplesmente por ser uma arte que pediu existir no papel e ser colorida pelos pinceis e pelo meu carinho.