Não vim trazer a Paz, mas Espada – um olhar sobre a paz e a esperança

Posted por em 12 maio 2020

Estudo oferecido na Federação Espírita do DF FEDF, em 12-05-2020

Folheto distribuído ao público (PDF) – Não vim trazer a Paz, mas Espada – Um olhar sobre a Paz e a Esperança

Áudio do Estudo (mp3) –

Não   vim trazer a paz, mas espada – um olhar sobre a paz e a esperança.

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” Mateus 10:34

A mensagem do Mestre abria um novo horizonte para aqueles que estavam sensíveis a acolher o amor, o respeito, a compaixão, a ética nas relações interpessoais, justiça, igualdade, inclusão, harmonia. No entanto, aqueles que detinham o poder, por não quererem abrir mão do prestígio, da autoridade, da supremacia sobre os menos favorecidos, tentaram a anulação das novas ideias matando o idealizador.

Não compreenderam que estavam diante de algo muito maior do que o próprio propagador da ideia. A Boa Nova tinha vindo para ficar e fincar raízes profundas no mundo não só daquela época, mas por toda a eternidade.

Se em uma família alguém aceita alguma ideia nova e diferente, mesmo hoje em dia nós percebemos isso, as outras pessoas que não estão familiarizadas com aquele novo conceito, seja religioso, seja filosófico, acabam por criar atritos, porque às vezes queremos impor nossas ideias e julgar os demais que as aceitam.

Quando Jesus disse que estaria trazendo a divisão, ele sabia que as novas ideias iriam promover dificuldades nas relações entre as pessoas. Sejam nas relações religiosas, filosóficas, políticas, de poder e mesmo familiares. Esta era a divisão a que Jesus se referira.

Quando Jesus afirmou: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”, ele tão-somente anteviu o que viria acontecer, pois esses acontecimentos eram inevitáveis em razão do nível de espiritualização em que a Humanidade terrena ainda se encontrava.

Precisamos estar atentos, pois ainda hoje nós nos comportamos assim. No convívio com nossos companheiros de jornada queremos que o outro pense como nós, porque ‘temos a verdade’, não é assim? Não respeitamos a crença ou as ideias do outro, sua verdade, sua maneira de perceber o mundo, a vida e o que existe à sua volta.

A diversidade tem sua razão de ser. É no conviver com as diferenças que aprendemos uns com os outros. A evolução passa pela troca de experiências e aquisições de conhecimento em seus vários níveis e aspectos. Nosso compromisso está no compartilhamento do que sabemos e sentimos. Precisamos proporcionar ao outro a oportunidade de elevar-se no que ele ainda prescinda para sua evolução, como também devemos observar e aprender com o nosso companheiro de jornada, para que possamos alcançar níveis muito próximos em múltiplos aspectos, evoluirmos juntos.

Muitas vezes ouvimos esta expressão: a evolução é um caminho solitário. Significa que devemos aprender e nos transformarmos, renovar nossos princípios e conceitos, no interior de cada um de nós. No entanto, o progresso individual se faz para que tenhamos condições de oferecer, uns aos outros, oportunidades de novos aprendizados, compartilhando experiências.

Não podemos ter um conhecimento estéril, mas um conhecimento útil, que produza frutos. É o nosso compromisso na jornada terrena.

Jesus nos disse que não veio trazer a paz, sim a divisão. No entanto, em outro momento ele nos disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá, não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14:27)

A paz verdadeira, Ele nos trouxe, aquela a que se referiu quando estava para deixar o plano material ̶ paz que o mundo não dá.

Como conseguiríamos alcançar essa paz que não é do mundo, mas que pode ser conquistada no mundo?

Há algumas reflexões que nos podem auxiliar na busca por uma resposta a esta indagação.

A paz que nós queremos tanto só vai ocorrer quando percebermos a real necessidade de vivermos de forma fraterna.

Enquanto estivermos com o olhar de julgamento, não teremos paz. É comum percebemos algo e nos incomodarmos com a forma como outro é. Se nos sentimos incomodados já deixamos de sentir paz. Esta falta de paz não seria por causa do outro, seria por nós mesmos! Nós é que nos permitimos sentir incomodados pelo fato de o outro ser diferente do que gostaríamos que fosse.

Qual o caminho para a nossa paz? Pela autotransformação, pelo autoconhecimento. Quando identificamos o que somos.

Não é simples identificarmos nossas fragilidades, imperfeições. Não queremos ver os nossos próprios erros, não queremos nos enxergar como realmente somos. Ainda somos orgulhosos e vaidosos. No entanto, não devemos nos sentir culpados por isso, é uma realidade que pode e deve ser transformada.

Se fôssemos perfeitos, não estaríamos vivendo em um mundo de expiação e provas, já estaríamos em um mundo de regeneração, pelo menos.

Precisamos nos conhecer mais. Quem eu sou, como me comporto perante a vida, qual é a minha atitude nas minhas relações com as pessoas?

Li certa vez uma frase que nos remete à seguinte reflexão: se eu partir amanhã, poderia dizer que estou satisfeito com o que sou? Será que estou fazendo o que deveria fazer? Ou preciso mudar algo em mim?

Caso tenhamos esta proposta como meta, certamente conseguiremos ser melhores a cada dia, transformando, pouco a pouco, o Ser que somos.

Todas as noites deveríamos fazer uma reflexão sobre como foi o nosso dia. Há algo que deveria ter sido diferente e por isso devo procurar mudar o meu comportamento?

No dia seguinte, antes das tarefas rotineiras, deveremos pensar: qual o compromisso que devo assumir hoje visando melhorar a minha vida, minhas atitudes?

Fazendo isso, vamos encontrando a paz aos poucos, começaremos a gostar mais de nós mesmos.

Quanto mais satisfeitos estivermos com o nosso comportamento, com o nosso olhar, com os nossos pensamentos, mais estaremos em paz. Não porque teremos encontrado a perfeição, mas saberemos que poderemos transformar a nós mesmos.

Quando estudamos a Boa Nova, precisamos trazer para o nosso contexto os seus ensinamentos.

Refletir sobre situações que nos possibilitaria perceber que podemos encontrar a paz nos dias de hoje.

Há um filósofo brasileiro que, em um de seus livros, traz-nos um olhar interessante sobre situações de nosso dia a dia. (1) Por exemplo: como nos comportamos com nossos filhos hoje em dia? Há pais que por vezes comentam algo como: o mundo não tem futuro; não há mais esperança para o mundo em que vivemos; o mundo está violento, não vamos ter paz…

Ele alerta para o fato de, quando nos comportamos assim, estamos dizendo a eles que o mundo não tem futuro, que eles não têm futuro! Este tipo de discurso poderá levar os jovens a acreditar que terão de aproveitar o hoje de forma intensa, remetendo-os, muitas vezes, ao uso de drogas, à violência, ao descrédito sobre suas próprias vidas, à desesperança e à depressão.

Essas pessoas normalmente acrescentam a esse discurso expressões como: não há o que fazer; não adianta agirmos, pois não conseguiremos mudar as coisas; o jeito é esperar que alguém surja para mudar a situação.

São pessoas que não têm atitude transformadora, só de manutenção do status quo.

Pergunto a vocês: será que realmente não temos futuro, a esperança não existe para nós, para a nossa família, para a nossa cidade, para o nosso país, para o mundo?

Se olharmos de forma diferente para os acontecimentos ao redor do mundo, identificaremos projetos, mobilização de grupos de pessoas que querem transformar o mundo, transformar a vida de algumas sociedades que vivem em situações bem precárias. São agentes de mudanças, mudanças para melhor.

O interessante é direcionar o nosso olhar para a verdadeira realidade em que vivemos: há violência, pobreza extrema, falta de saneamento básico e muitas outras coisas que precisam ser transformadas.

Há também promoções maravilhosas em todo o mundo com proposta para que tudo isso seja erradicado do planeta. É sobre isso que gostaria de refletir – podemos ser agentes de transformação. (2)

Certa vez li uma entrevista realizada com Satya Sai Baba onde ele diz que não há mais maldade no mundo, o que há é mais luz. (3) Estamos percebendo com mais clareza o que acontece no mundo. É sinal de que já atingimos um patamar que nos permite ver o que precisa ser mudado para que o mundo seja melhor.

Lendo esta entrevista eu me lembrei da passagem em que Jesus nos disse: Vós sois a luz do mundo. (…) Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus 5:14 e 16)

Nós somos luzes, mas não nos permitimos fazer brilhar.

Nós vamos encontrar a paz quando percebermos esse Ser de luz que somos e deixarmo-nos brilhar para iluminar o mundo.

O que aprendemos durante a nossa jornada deve ser tornado útil, não pode ser guardado.

Quando nós efetivamente percebermos isso e cada um de nós venha a fazer com que a luz própria brilhe, o seu conhecimento seja compartilhado, o mundo tornar-se-á melhor.

Um grande pensador e educador brasileiro – Paulo Freire –, disse certa vez: “não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo.” (1)

Precisamos ter persistência, mesmo quando não atingimos, de imediato, nossos objetivos. Quando queremos atingir uma meta, temos que promover atitudes que nos levam a alcançar essa meta.

Para alcançarmos a nossa paz e atingirmos aquilo a que viemos, devemos estudar, acolher o conhecimento, compartilhar, reconhecermos que somos luzes, fazer brilhar essa luz e agir. Se não agirmos, o mundo não muda, continuará sendo o mundo para o qual simplesmente olhamos.

Temos que olhar o mundo e tentar transformar esse mundo. Sermos agentes da autotransformação e da transformação da sociedade em que vivemos, do mundo em que estamos inseridos.

Vale a pena assistir a um documentário (DVD) cujo título é “Quem se importa”. É uma amostra da mobilização que há em várias partes do planeta visando a nossa conscientização sobre o que há no mundo e o que podemos fazer para melhorar as condições em que vivemos.

Precisamos ter esperança e olhar para o mundo como seres iluminados que somos. Porque a paz nós conseguiremos descobrindo que somos pessoas melhores do que imaginamos.

Vamos ter a esperança do verbo esperançar e sermos agentes da nossa transformação.

Voltando à paz e à divisão a que se refere o texto de Mateus. A divisão ali referida ocorreu porque as pessoas não tinham a conscientização que buscamos hoje: sermos abertos ao novo e olharmos o novo como algo que pode ser acrescido ao nosso conhecimento e à nossa vida. Não termos tantos bloqueios, nem ficarmos cristalizados em preconceitos.

Termos um olhar fraternal com relação às pessoas, de acolhimento a ideias que podem transformar o mundo, e sermos agentes dessa transformação. Assim nós alcançaremos a paz a que Jesus se referira: “Deixo-vos a Paz, a minha Paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14:27)

Será a nossa paz interior que vamos fazer brilhar no contexto em que estamos vivendo. Fazendo brilhar a nossa luz, seremos agentes dessa transformação.

(1) Não nascemos prontos-provocações filosóficas, Mário Sérgio Cortella, Editora Vozes

(2)  Um dia na Terra, da organização de mesmo nome, fundada por Kyle Ruddick e Brandon Litman, documentário em vídeo

(2) Quem se importa – “Um filme para quem acredita que pode mudar o mundo”, de Mara Mourão, DVD

(2) Universidade dos pés descalços, vídeo no Youtube – http://youtu.be/DoqQGU2ek3M e http://youtu.be/81j2ADXjm2k

(3) Entrevista com Satya Sai Baba – http://cepf-pilar.blogspot.com.br/2010/12/vis%C3%A3o-de-satya-sai-baba-sobre-2012.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *