Posted por em 10 out 2017

Fogo e dor

Fogo que incendeia as matas.
Mata as vidas que nelas há.
Raízes que são ressequidas,
Folhas e cascas que estalam
Como bombas de São João.
Queima seus frutos e animais.
Aqueles que fogem são seres assustados.
Buscam socorro ondem conseguem alcançar.
Quando conseguem sair do ardor
Que lhes provocam o calor, ou o próprio fogo
A lhes queimarem a pele,
Ou até mesmo suas entranhas.
Fogo que se rasteja pelo chão
Como uma serpente sem piedade.
Tão só cumpre a missão de correr
E expandir-se, em forma de labaredas.
Metem medo a quem as vê
E imagina a dor que provocam.
Dor também eu sinto em meu coração,
Em forma de profunda tristeza
Ao imaginar as cenas que aqui expresso,
Em palavras sentidas e sofridas.
Há muitas madrugadas sou tocada pelo cheiro de fumaça
E penso no que ali pode estar a ocorrer.
No Parque Nacional, tão perto de casa!
Fica difícil deixar o sono me tomar.
Como dormir se há tantos a sofrer?!
Dor intensa, morte certa sem piedade.
Piedade?
O fogo não tem sentimento
Não é um ser, apesar de parecer vivo
A correr pela mata, em labaredas.
Fumaça que ascende pelo ar e escurece o céu.
Sufoca, queima por dentro
Daqueles que aspiram o ar denso pelas cinzas.
Água sagrada!
Onde você está?
Sua falta é tamanha!
Clamamos todos os dias pela sua presença.
O que há são lágrimas,
Salgadas a escorrerem pelas faces de muitos.
Que fizemos nós?
Desmatamos florestas,
Aterramos ricas minas de águas corredeiras.
À busca por sonhos de progresso.
Por expansão de estradas, de vias públicas.
Muitas vezes por desejos egoístas – orgulho, vaidade.
Sonhos esses a que custo?
Custo da dor de tantos, da vida de muitos.
Sofrer dos nossos corpos,
Como também das nossas almas.
Almas daqueles que tão valor à vida.
Vida de todos nós,
Da Natureza de que fazemos parte.
Será que conseguiremos aprender?
Um dia, quem sabe?

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