Posted por em 18 abr 2018

A Lavadeira (história escrita por uma criança de nove anos)

A lavadeira acabara de sair do trabalho, à noite. Ninguém na rua. Sozinha. Sem medo. Mas por que sem medo? Pois já estava acostumada. Todo dia saía às 5:30 de casa e só voltava nove ou dez da noite.

Normalmente era tranquilo, ninguém na rua, só ela. O ônibus vazio, só ela. Mas nesse dia, observou uma criatura diferente com ela dentro do ônibus. Chapéu em cima do rosto. Roupas brancas. Parecia estar dormindo. Joana (como se chamava a lavadeira) já conhecia o motorista, eram amigos de infância e ela resolveu lhe perguntar:

—Tonho, quem é o senhor de chapéu que está dormindo ali atrás?

— Ora, eu não sei. Mas hoje de manhã ele entrou aqui no ônibus. Não disse uma palavra. Está aí desde então. Que é esquisito é, mas não sei quem é não… Se quiser a minha opinião — abaixou o tom de voz — É um espião!

Ela não pediu mais opinião. Dormiu no ônibus. Quando acordou o tal homem já não estava mais lá.

No dia seguinte Joana pegou outro ônibus e:

— Ah!!

— O que foi, senhora? Tudo bem?

— Hã? Tá, tá sim.

O sujeito do ônibus do dia anterior, de outro ônibus, estava lá!!! Que doideira! Como era possível?

Os próximos dias foram assim. Em todos os ônibus em que ela ia, lá estava ele. As próximas semanas também, dois meses assim. Ela havia cansado. Havia algo nele que lhe despertava curiosidade.

Um dia ela tomou coragem e lhe perguntou:

— Porque sempre que eu estou em um lugar você está junto comigo?

— Olá! Prazer, Joana, sou Thomas. Vim convidar você a fazer uma viajem. Gostaria de vir comigo?

— Eu? Uai, é claro que não! Eu nem conheço você!

— Ha!Ha! É claro que me conhece. Vamos!

Tomou-a pela mão e um vento forte soprou.

Quando Joana acordou estava num lugar belíssimo: cheio de flores, frutos com gostos maravilhosos. Tudo nesse lugar era perfeito. Joana observou à sua volta e viu Thomas olhando para ela e sorrindo:

— Onde estou? Que lugar é esse?

— Bem-vinda, Joana. Esse é o “paraíso”, pelo menos como você o imagina.

— É… Realmente é…

— Mas, sabe, Joana, eu acho que você está errada. Eu acho que o paraíso é a Terra.

— Mas como assim, a Terra? A Terra é cheia de guerras, mortes, dores, frio, fome. A Terra não é o paraíso!

— A Terra está assim porque os homens a deixaram assim. A Terra pode ficar como seu sonho, é só você começar fazendo sua parte. Já está mais do que na hora de começar, não acha? Sabe, a maioria das pessoas fica imaginando a Terra como um lugar melhor, mas nunca faz nada, só fica pensando: “Ó, como seria bom se as pessoas cuidassem da Terra, ó, ó!” e não movem um músculo para ajudar! Temos que a ajudar a Terra! Antes que seja tarde demais!

— Eu prometo que farei a minha parte!

— Ótimo! Adeus!

— Aonde você vai?

— Ajudar outras pessoas que ainda não têm consciência de que correm um grande perigo. Adeus Joana, e obrigado!

Ela se viu de volta ao ônibus, mas não do jeito como entrou. Diferente, mais confiante de que, talvez, seus netos vissem o paraíso, se ela começasse agora.

AVP

Em o livro Alegria do Natal e outras histórias, Bookess Editora

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