Posted por em 23 nov 2016

Textos em contextos

Diante das notícias sobre profundas mudanças na Empresa Banco do Brasil, tenho sentido imensa tristeza ao imaginar inúmeras famílias desabrigadas de suas funções e ideais… sim, porque creio ainda existirem nessa Empresa aqueles que mantêm os sonhos e os ideais dos antigos funcionários do BB.

Ao longo dos anos, muitos foram se aposentando, seja por atingirem seu tempo regulamentar de Casa, seja por impossibilidade de se manterem por motivos de saúde e outros por terem optado há alguns anos, a partir de 1995, a acreditarem em uma proposta de Demissão Voluntária que de voluntária tinha pouco, considerando as condições que a Diretoria à época apresentava para seus funcionários. A partir desse momento, a Empresa perdeu muitos de seus lutadores pela integridade do BB, vendo seus sonhos ruírem, buscaram outras alternativas de trabalho. Muitos desses desencantaram-se com o mercado de trabalho externo ao Banco e acabaram por retornarem sem conseguirem reaver suas condições anteriores.

Tem havido, ao longo desses anos, desencantamentos e desesperanças.

Os funcionários “antigos”, como costumamos nos identificar, tínhamos uma expressão que era de ação verdadeira  – suamos a camisa do BB -, por vezes podíamos até acrescentar… e sangramos por ele.

O Banco do Brasil foi, e creio que ainda pode estar sendo para alguns, uma verdadeira escola de vida. Eu, por exemplo, quando me perguntam qual é a minha formação eu respondo: “Sou formada em Banco do Brasil”. Ali eu aprendi não só sobre minhas atribuições funcionais e profissionais. Aprendi sobre relações humanas; ética no trabalho; respeito pelos colegas; amor pelo que fazia, com determinação pelo fazer bem o que me era atribuído, dando o melhor de mim; ter meus colegas (aí inseridos todos os funcionários, independente de os conhecer pessoalmente) como verdadeiros companheiros. Tive oportunidade de participar de treinamentos que muito enriqueceram meu elenco de conhecimentos.

A partir de certo momento, depois de 1995, vimos a Casa passar por inúmeras tentativas de se desacreditar o seu corpo funcional, seja pela imprensa, seja por manifestações políticas de toda ordem. Tentou-se sua privatização não só uma vez.

No entanto, nós os funcionários à época fomos às ruas em defesa da Casa, da Empresa à qual dedicávamos não só oito horas diárias de trabalho, muitas vezes ficávamos dez, doze horas cumprindo tarefas, pela vontade de vermos a Empresa cumprir seus compromissos a tempo e com qualidade. Verdadeiramente gritamos em defesa da nossa Casa. Por vezes, durante dias de paralização e mobilização. Éramos unimos em ideias e ideais, éramos uma só voz por todo o Brasil.

Creio que essa dedicação não se encontra mais por lá. Hoje podem ser verificados vários tipos de servidores, com vários tipos de direitos trabalhistas, diversidade impensável até os anos 90. Antes: isonomia salarial, direitos consolidados ao longo de mais um século.

Atualmente servidores com direitos diferentes, escala salarial diferenciada, exercendo funções iguais, em um mesmo local de trabalho. Como imaginar ser esse ambiente equilibrado emocionalmente e com expressão de companheirismo e, no que diz respeito às relações interpessoais, cordialidade, confidencialidade, confiança, quando há tratamentos diferenciados, sem vínculos trabalhistas isonômicos?

Não há como se manter integridade e coesão de ideias, ideais e comprometimento entre esses!

Tentou-se, há muitos anos, desestabilizar a Empresa divulgando-se inverdades sobre seus funcionários e sobre a própria integridade da Casa.

Hoje… onde estão aqueles que bradavam em defesa da Casa? Alguns já se foram para outros planos da vida; muitos estão na condição de aposentados e, desses, poucos em condições de se manterem em articulação para uma mobilização compromissada e efetiva; alguns encontram-se desencantados, sem energia para tal cometimento. Daqueles que hoje estão como servidores da Casa Banco do Brasil, creio que só uma minoria ainda deve manter esse elã, mas sabem ser uma minoria sem forças para se fazerem expressar com energia e efetividade.

Não se pode ter funcionários coesos em uma só ideia, uma só intenção, quando esses não têm vínculos efetivos de fraternidade, companheirismo. Uma empresa dividida, profundamente dividida, não tem como sobreviver! E é com isso que certamente a administração do País está contando.

Já se tentou fragilizar essa Empresa durante muitos anos, mas até poucos anos atrás não se havia conseguido, porque havia um grupo de funcionários verdadeiramente unidos em um só propósito.

Hoje não mais. Hoje há diferença de conceitos, diferenças de direitos, diferenças de intenções. Pessoas sem determinação, sem busca por algo pelo qual possam sonhar. É com isso que alguns governantes sempre contaram e agora alcançaram seus objetivos. Infelizmente.

Toma-me uma tristeza profunda com relação a isso. Uma dor, uma dor muito grande, de alguém que lutou muito por essa Empresa, trabalhou muito. Dedicou horas, dias. Muitas vezes deixando filhos com pessoas queridas, mas que não eram sua mãe, para fazer um trabalho digno, manter a cabeça erguida pelo dever bem cumprido. Sei que muitos pais e mães assim também se fizeram comprometidos com o trabalho no Banco do Brasil.

Meu coração pede que a situação atual possa ser revertida.  Minha alma sonha com novos tempos, mesmo sabendo que não podemos resgatar tempos de outrora, mas podermos, quem sabe, mudar a situação de agora e fazer dessa Empresa ainda uma empresa forte, que foi criada para atender a necessidades  do povo. Tem em seus fundamentos dar suporte financeiro, logístico, à Nação. Cumpriu um papel social importantíssimo abrindo agências em rincões inacessíveis há décadas e, em razão desses postos de atendimento, encontrou-se caminhos para o desenvolvimento não só econômico/financeiro, mas também social e intelectual. Levaram a regiões antes inóspitas a indústria, alavancaram a agricultura, construiu escolas, clubes recreativos e tudo isso veio a transformar a vida de milhões de famílias. Ações que acabaram por desenvolver a própria Nação como um todo, alavancaram o próprio País.

Hoje, essa Empresa enfraquecida não tem mais forças para cumprir seus fundamentos.

Meus olhos teimam em manterem-se úmidos pelas lágrimas, mas quem sabe possamos mobilizar um grupo representativo de pessoas para tentar reverter esse processo que já está tão adiantado.

Não custa sonhar, pois sem sonhos não se pode viver.

Em o livro Textos em Contextos, Elda Evelina, Bookess Editora

10 Comentários

  1. 18-6-2017

    Triste…

  2. 18-6-2017

    Desabafo real e concreto, vivi tudo isso na empresa.

  3. 19-6-2017

    Sou antigo funcionário, e filho de antigo funcionário. Desde criança estive envolvido com o Banco, e acompanhei seu gradativo desmantelamento, que acredito começou na metade dos anos 70 do século passado, quando perdermos a Conta Movimento.

  4. 19-6-2017

    Parabens pelo desabafo fui funcionario por 16 anos desta casa onde tambem muito aprendi foi minha faculdade da vida, e onde os funcionarios não apenas colegas e sim uma familia isto se perdeu ao longo do tempo que dificilmente vai voltar, concordo com tudo que foi dito parabens pela ideia.

  5. 19-6-2017

    Fui funcionária por quase 29 anos, me aposentei em 2011. Concordo em parte com o seu relato. Tentaram e ainda tentam diminuir o funcionalismo, mas ainda existem ali pessoas que são como éramos nós, os antigos funcionários. Posso garantir isso. Convivi com funcionários da nova era e que são tão comprometidos quanto éramos e sem as vantagens que tivemos. Acredito que que uma empresa pra ser competitiva neste mercado maluco tem que se reestruturar, como nem sempre segue a linha do que é melhor para todos, vai sendo rearrumada aos trancos e barrancos, mas tenho certeza de que uma hora acertam. Tem muita gente boa lá ainda! Tenho muito orgulho de ter trabalhado lá, sentimento que é compartilhado por novos funcionários e por pessoas da minha família que ainda estão trabalhando no BB, então, gente, sem desesperança, tudo a seu tempo, o BB pode não ser mais a “mãe”, mas tampouco é a madrasta má…

    • 19-6-2017

      Fico feliz em saber de haver pessoas comprometidas com a Empresa. Tenho imenso orgulho por ter trabalhado no BB. Estou aposentada há 21 anos. Dá para perceber de que época estou falando. Tenho tido contato com pessoas de antes e de há pouco, aposentados no em 2016 e 2017. São pessoas maravilhosas. O texto que escrevi foi trazido do fundo da Alma em momento de preocupação e tristeza pelo que vemos fazerem com o Banco e pelo que falam. Sempre tive orgulho por trabalhar no BB e costumo defendê-lo com muita paixão. Abraços fraternos.

  6. 19-6-2017

    Bom dia.
    Recebam o meu carinhoso abraço e gratidão por tantos comentários a respeito da mensagem que postei.
    Fico feliz em saber de ainda haver pessoas comprometidas com a Empresa. Tenho imenso orgulho por ter trabalhado no BB. Estou aposentada há 21 anos. Trabalhei tanto em agências no interior, como na Direção Geral, até mesmo na PRESI (nem sei se ainda têm estas denominações). Dá para perceber de que época estou falando. Tenho tido contato com pessoas de tempos de antes e de tempos não tão idos, alguns aposentados em 2016 e 2017. São pessoas maravilhosas. O texto que escrevi foi trazido do fundo da Alma em momento de preocupação e tristeza pelo que vemos fazerem com o Banco e pelo que comentam.
    Sempre tive orgulho por trabalhar no BB e costumo defendê-lo com muita paixão.
    Uma ótima semana e abraços fraternos.

  7. 19-6-2017

    Amiga, seu texto é impecável e emociona a quem viveu 30 anos dentro daquela Casa, como nos referíamos nas correspondências oficiais. Realmente, o PDV, de julho de 1995, foi um divisor de águas na história do BB. Digo isso com a autoridade de quem esteve no “olho do furacão”, uma vez que estava como coordenador de equipe em exercício no antigo Deasp/Prodi. Só eu sei o quanto de estresse e depressão aquele processo causou, não apenas a mim, mas a todos que dele participaram de uma forma ou de outra. Desde então, o Banco nunca mais foi o mesmo, até virar um “aparelho” nas mãos da organização criminosa que infelicitou o país de 2003 a 2016, e que talvez tenha sido substituída por outra ORCRIM, essa de viés privatizante. Considero difícil que as coisas voltem a ser como eram, mas, como você bem disse, não custa nada sonhar. Abraço fraterno.

  8. 19-6-2017

    Sonhar é de graça por mais caro que seja o sonho.

    • 20-6-2017

      O que seria de nós se não nos permitíssemos sonhar?! Não teríamos conseguido visualizar as estrelas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *