Posted por em 15 set 2018

Estudo oferecido no Grupo Espírita Casa do Caminho, em 15-08-2018

Folheto oferecido ao público (PDF) – Ser o sal da Terra-Saber escutar 

Áudio do Estudo (mp3) – Ser o sal da Terra – Saber escutar (Suicídio)


A convite inesperado para falar, tendo a opção de livre escolha com relação ao tema, soube que a pessoa que iria fazer a palestra abordaria o tema Suicídio.

Refleti um pouco e escolhi acolher este tema sob um olhar em que admitisse algumas reflexões não ortodoxas sobre nosso papel nesse contexto, como:

 ser o sal da Terra

 saber escutar alguém

Pode parecer estranho. Em que essas duas abordagens levariam à temática Suicídio?

Vamos lá… Comecemos a pensar a respeito.

Estive buscando uma forma de abordar o tema Vós sois o sal da Terra para oferecer em um outro grupo.

O que seria exatamente “Ser o sal da Terra”?

Por muitas vezes temos ouvido e visto que ser o sal da Terra é buscarmos “temperar” o mundo com algo que seja incorruptível, que não perde a sua verdadeira essência em qualquer que seja a circunstância.(*)

O primeiro olhar que temos sobre o tema remete-nos a uma missão grandiosa que nos exigiria determinação e comprometimento.

Sabemos que o Mestre recomenda nossa participação nesse projeto, no entanto não sabemos bem o como fazer para atingir essa meta.

Lemos os textos evangélicos, buscamos apreender seus ensinamentos, podemos até mesmo propormo-nos à prática, mas… sermos o sal da Terra, do Planeta!?

Interessante buscarmos a interpretação e tentarmos encontrar o caminho mais promissor para o cumprimento dessa recomendação de Jesus.

Refleti por vários dias. Procurei inspiração em livros, em vídeos de outros palestrantes.

Sempre as ideias principais levam à proposta de tentarmos transformar o ambiente em que vivemos, termos o propósito até mesmo de tentar transformar o mundo!

Nós, crianças espirituais, na maior parte das vezes tendo como ambiente de “trabalho” uma pequena vizinhança, um grupo de estudos, a família… como levarmos os ensinamentos do Mestre para planos mais amplos?

Ocorreu-me então algo que é obvio – começando pelo que nos é possível fazer. Em um primeiro olhar pode parecer-nos razoavelmente simples… mas não é!

Precisamos também pensar na melhor forma de fazê-lo! Se não tomarmos esse cuidado poderemos fazer ruir o trabalho a que nos dispomos realizar.

O objetivo é – ser o sal da Terra

Por onde começar – pelos que nos são mais próximos.

Como realizar, que instrumentos temos à mão, que sentimentos nos impulsionam a esse trabalho, qual metodologia a seguir, quais são nossos prazos para alcançar o objetivo?

Ser o sal da Terra

Podemos dizer: ser um semeador. Espalhar sementes que, não obstante em contato com outros ingredientes, conservam suas características benéficas.

Diz-nos o espírito Vinicius (Prof. Pedro de Camargo):

“O sal jamais está inativo. Onde quer que se encontre, está como que agindo sempre, visto exsudar continuamente aquela essência que lhe é peculiar.” (*)

Também nos fala que o sal não se dá a conhecer pelo exterior (cor e aparência). Pode ser confundido, em um primeiro olhar, com outras substâncias. No entanto, tão logo fazemos contato com ele, percebemos haver grande diferença em relação a essas outras essências.

Função do sal – é um elemento “doador”. Oferece suas propriedades ao meio em que está inserido não absorvendo as propriedades dos elementos a ele misturados, conserva-se puro, sem se corromper.

Saber escutar alguém

Aqui começa a segunda parte da nossa reflexão.

Como temos sido em nossas vidas com relação a essa prática?

Sabemos praticar o exercício de escutar?

Quando alguém começa a expressar algum sentimento/emoção, tenta trazer-nos algum tema que lhe parece importante compartilhar… como tem sido a nossa atitude?

Prestamos atenção para compreender bem a essência do que está sendo oferecido?

Buscamos assimilar o contexto da abordagem?

Experimentamos alguma emoção de conectividade com relação ao conteúdo e contexto e, principalmente, com a pessoa que nos deu a oportunidade desse encontro?

Diz-nos o professor, teólogo, pedagogo, escritor, poeta, cronista, Rubem Alves, em o texto “Escutatória”:

“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…”

Acrescenta Rubem Alves:

“Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. Ouçamos os clamores dos famintos e dos despossuídos de humanidade que teimamos a não ver nem ouvir. É tempo de renovar, se mais não fosse, a nós mesmos e assim nos tornarmos seres humanos melhores, para o bem de cada um de nós.”

Percebemos hoje em dia grande dificuldade em as pessoas estarem de fato conectadas às outras, sejam filhos, pais, amigos, relações de trabalho e outras.

São as atividades de trabalho cada vez mais intensas, o corre-corre para atingimento de metas. Esse movimento interfere sobremaneira nas relações familiares: marido / mulher, pais / filhos, filhos / pais. Como também outras.

A expectativa de atender aos “chamados” das redes sociais. Excessiva “cobrança” quanto à expertise em nossas atividades. São alguns dos componentes mais expressivos a nos levarem a essa “indiferença” para com nossos semelhantes, muitas vezes necessitados de serem ouvidos por nós.

Tudo forma um turbilhão no nosso interior deixando-nos incapacitados para escutar nosso silêncio interior, o silêncio da Alma.

Inúmeras são as circunstâncias em que pessoas procuram nosso apoio tão só para serem ouvidas. Precisam externar o que lhes ocorre interiormente. Elas precisam expressar-se, expor o que lhe faz sofrer a Alma que por vezes resulta em casos de depressão, de baixa autoestima, de desvalorização do próprio “Eu”.

Quando estamos conversando com as pessoas precisamos nos aquietar e deixar surgir o silêncio que promove a nossa capacidade de observar o que nos ocorre, bem como ao que se faz à nossa volta.

Esse silêncio é que nos permite a condição de observadores mais atentos, deixando os pensamentos “egoísticos” em segundo ou terceiro plano.

Voltamos a pensar… e o que o “Vós sois o sal da Terra” e o “Saber escutar alguém” tem a ver com o tema “Suicídio”?

Sermos o sal da Terra é agirmos como instrumentos de semeadura do bem, do equilíbrio, da incorruptibilidade; como cristãos… sermos semeadores do amor, da mansuetude, tolerância.

Como deverão ser nossas atitudes?

Absorver as instruções do Evangelho do Mestre de Amor e espalhar seus ensinamentos por onde seguirmos, em forma de bênçãos. São os frutos pelos quais seremos conhecidos na semeadura do bem.

O Mestre foi um ouvinte prestimoso em toda a sua jornada terrena, e o é, desde sempre – o Cristo enviado pelo Criador como nosso Mentor e Guia.

Lembrando a Questão 625 de o Livro dos Espíritos:

  1. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?

“Jesus.”

Aprendermos a manter o silêncio interior sempre que um companheiro de jornada nos procurar para expressar sua dor, suas dificuldades, necessitando do nosso “ombro amigo”. Por vezes tão só ouvir é a maior graça que precisamos disponibilizar naquele momento.

Deixar a Alma desafogar as mágoas, expressão que por vezes usamos para dizer da necessidade de nos libertarmos de dores emocionais que pesam no nosso íntimo, já é uma terapêutica suficiente para levantarmos o moral de um companheiro, um amigo.

Mais uma vez lembrando Rubem Alves:

“É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra.”

(*) Nas pegadas do Mestre, Cap. O sal da Terra, FEB

Sugestões de leitura

Nas pegadas do Mestre – Vinícius (Prof. Pedro de Camargo), FEB

A importância de escutar alguém – Revista O Reformador, janeiro 2012

 

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