Posted por em 4 mar 2019

Estudo oferecido na FEB Federação Espírita Brasileira, em 4-03-2019

Folheto distribuído ao público (PDF) – O Reino de Deus e o Trabalho

Áudio do Estudo (mp3) – Reino de Deus e o Trabalho


Ao longo de nossas vidas muitas vezes ouvimos sobre os ensinamentos do grande Mestre e médico de almas – Jesus.

Lemos os textos evangélicos, assistimos a palestras, participamos de estudos. No entanto, ainda estamos jornadeando, pelos caminhos terrestres, inseguros, cheios de dúvidas e indagações. Cercamo-nos dos aspectos teóricos, expressamo-nos de forma intelectualizada sem, contudo, falarmos com o coração.

Nossas ações muitas vezes são tão-somente a expressão exteriorizada de um conhecimento vazio de convicção, sem emoções verdadeiras que dariam ao nosso discurso uma expressão de confiabilidade. Não somos convincentes na verdade, pois não há ainda internalização dos ensinamentos, somente as informações contidas nos evangelhos. Em muitos momentos somos só oradores, mas não somos divulgadores de fé da essência dos ensinamentos.

Precisamos refletir sobre o que representa ser trabalhador do Senhor.

O significado da palavra trabalhador: aquele que realiza uma obra, que transforma. Podemos dizer: aquele que realiza uma ação útil.

Questão 675 do Livro dos Espíritos:

“Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?

“Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.”

Será que temos sido trabalhadores ou simplesmente executores de tarefas?

Para sermos transformadores precisamos estar impregnados de confiança e boa vontade no que queremos realizar. Executarmos tarefas além do que se espera de nós. Conduzirmo-nos como cristãos verdadeiros, impregnados do sentimento de caridade, do amor em ação, do anseio de ser um transformador, um mobilizador do bem.

Na parábola do Senhor da Vinha Jesus falou sobre vários grupos de trabalhadores convidados ao trabalho ao longo de várias horas do dia. Todos foram contratados pelo dono da vinha com a promessa de salários de valores iguais, independente do horário da contratação e início do serviço no campo.

No entanto, ao final do dia, ao receberem o pagamento, houve questionamento daqueles que começaram suas tarefas na primeira hora do dia, sentindo-se injustiçados por terem trabalhado por mais horas do que aqueles que só foram contratados na última hora.

Há muitas interpretações a respeito desta parábola. Observo por vezes que as interpretações se detêm tão-somente no aspecto material do pagamento pelo serviço prestado. Justifica-se, por exemplo que os que trabalharam apenas a partir da última hora teriam oferecido um serviço de melhor qualidade e, por isso, teriam merecido um pagamento de igual valor. Teriam sido mais eficientes. Há mesmo aqueles que dizem de o trabalho daqueles da primeira hora ter sido desperdiçado em alguns momentos, por isso precisaram trabalhar mais para merecerem o mesmo salário dos outros.

Trago uma reflexão que entendo estar no próprio Evangelho Segundo o Espiritismo (1), de uma forma bem expressiva, mas por vezes não muito externada ao se interpretar a parábola. Precisamos acolher o significado de salário não pelo seu aspecto material, mas sim, e principalmente, pelo aspecto espiritual.

Substituindo o termo salário por recompensa, teremos uma visão melhor da mensagem que Jesus veio nos oferecer com esta história – a recompensa é a nossa vitória sobre nossos vícios, nossas ambições, nossos afazeres inúteis; é alcançarmos a nossa reforma íntima com a transformação moral e espiritual; é verdadeiramente assimilar e internalizar os ensinamentos do Mestre no nosso íntimo; é promover o encontro com a grande luz que brilha por nós e em nós, sem que a percebamos na maior parte do tempo em nossas vidas.

O salário é o encontro com o reino de Deus em nós. Independente do tempo que abracemos a essência dos ensinamentos do Mestre, como mola propulsora de nossa jornada terrena, a recompensa é a mesma para todos nós – encontrarmo-nos todos no Mundo Celestial em algum momento na eternidade.

Este momento será diferente para cada um, pois depende unicamente de como promovemos nossa jornada de evolução. Quanto mais e melhor nos dedicarmos ao trabalho na seara do senhor, mais célere será a nossa ascensão – menor será o período dedicado ao trabalho na “vinha”. Outros campos de trabalho ser-nos-ão oferecidos.

Também podemos acrescentar, a esta reflexão, que todos nós já estivemos trabalhando por algumas encarnações. Certamente já prestamos serviço na “vinha” por várias vezes ao longo de nossas várias existências.

Somos trabalhadores de todas as horas e neste momento de nossas vidas estamos mais conscientes, mais maduros espiritualmente. Já passamos por várias fases  e estamos cada vez mais perto da meta esperada para nós espíritos em evolução.

Alcançaremos o momento da recompensa sim, depois de completarmos o nosso trabalho na “vinha”, seja em que momento for o atingimento da nossa meta, mas conscientes de termos trabalhado, todos, desde a primeira hora até o último momento, podendo este ser diferente para cada um de nós.

Poderemos neste dia dizer como o apóstolo Paulo na sua segunda carta a Timóteo 4:6-8:

Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo.

Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.”

(1)        (…) “Estes, que por último vieram, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa. Que digo? Recompensa maior. Últimos chegados, eles aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque o homem tem de herdar do homem e porque coletivos são os trabalhos humanos: Deus abençoa a solidariedade. Aliás, muitos dentre aqueles revivem hoje, ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora. Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um propagador da fé cristã se encontram no meio deles, porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não já na base e sim na cumeeira do edifício. Receberão, pois, salário proporcionado ao valor da obra.

O belo dogma da reencarnação eterniza e precisa a filiação espiritual. Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o Espírito se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada. Ele vê, sente que apanhou, de passagem, o pensamento dos que o precederam. Entra de novo na lida, amadurecido pela experiência, para avançar mais. E todos, trabalhadores da primeira e da última hora, com os olhos bem abertos sobre a profunda justiça de Deus, não mais murmuram: adoram.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, item 3, texto de Henri Heine)

Jesus ainda acrescenta:

“Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mt 20:16)

Todos nós, sem exceção, somos chamados ao aprendizado.

Tenho por certo que Jesus, ao dizer que muitos são chamados, mas poucos os escolhidos, estaria a dizer que todos nós, sem exceção, somos chamados ao aprendizado e, por isso: Todos somos chamados e poucos se permitem ser escolhidos.

Deus, em Sua infinita misericórdia, não faz distinção entre Seus filhos. Seu amor por nós envolve-nos a todos independente de raça, credo ou cor. Ele espera por nós por toda a eternidade, e espera de nós o aprendizado e a evolução – todos somos chamados.

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