Hoje eu ouvi alguém a dizer: “Agradar os outros é fórmula para ser infeliz.”
Fiquei refletindo sobre esta afirmativa…
É verdade que ele também disse que os verdadeiros amigos gostam de nós como verdadeiramente somos. Que não devemos fingir gostar de algo só para agradar alguém.
O que exatamente essa pessoa quis dizer com agradar e ser infeliz?
Primeiro vejamos o significado de agradar: Contentar, satisfazer, causar prazer, fazer carinhos, afagar, ter encantos.
Sinônimos: deliciar, comprazer, cativar, regozijar.
Poderíamos encontrar algumas opções, então, para esta análise:
Agradar – poderíamos ampliar a significação:
– ser agradável, gentil, tentar fazer o outro feliz, fazer carinhos, afagar – creio que neste caso é perfeitamente saudável a prática do agradar;
– ter encantos – fazer-se gentil, ser encantador (de forma sincera), ser acolhedor, amigável, cativar também me parece digno de consideração, como atitude de alguém que é feliz.
Talvez a pessoa tenha feito sua afirmação na acepção de contentar, causar prazer, satisfazer. Aí poder-se-ia refletir…
Quando procuramos contentar, causar prazer, satisfazer o outro em detrimento de nossos sonhos, nossas aspirações, deixando-nos envolver pela imposição do outro para agradar-lhe, aí sim poderíamos talvez afirmar que não estamos nos permitindo ser feliz.
Ainda assim, podemos ampliar nossas reflexões a respeito.
Se no que o outro está pedindo a nós está demonstrada uma necessidade justificada e legítima para que venhamos a agir conforme nos é solicitado; se reconhecemos essa pessoa ser digna de lhe acolher o pedido de coração aberto, com carinho, com afeto sincero… não estaremos nos subjugando a alguém, estaremos sendo carinhosos, acolhedores, fraternos, amoráveis.
Então, por conseguinte, estaremos felizes por ter a oportunidade de fazer alguém querido também feliz.
Há uma coisa importante que sempre me leva a pensar… precisamos interpretar algumas afirmativas que nos chegam; buscar entender os conceitos que estão subliminarmente inseridos na questão ali apresentada.
Precisamos pensar bem antes de acolher uma ideia, uma justificativa, um conceito. Por vezes, deixamo-nos envolver por palavras “bonitas”, que nos cativam de momento. No entanto, se procuramos o significado possível implícito no contexto oferecido, é bem possível que mudemos nosso olhar para o que antes nos pareceu promissor, belo, oportuno.
Aqui uma reflexão esclarecedora de Rudolf Steiner, educador, filósofo , artista, fundador da Antroposofia, da Pedagogia Waldorf e outras. Assim disse ele quanto ao comportamento de muitos de nós a respeito da palavra e do pensamento:
“A maioria das pessoas não têm pensamentos e, geralmente, não se percebe essa lacuna lamentável. Por quê? Porque para perceber isso com seriedade, necessita-se precisamente do pensamento. Começamos chamando a atenção para o seguinte: aquilo que, em amplas esferas da vida, nos impede de ter pensamentos, é que as pessoas, todos os dias, não sentem o desejo de avançar até o pensamento, mas em vez disso, estão satisfeitas com a palavra. Normalmente, a simples discussão de palavras é levada como pensar: se pensa em palavras, e é assim muito mais do que imaginamos. Há muitas pessoas que, ao solicitar explicação sobre isto ou aquilo, se dão satisfeitas por qualquer palavra que lhes soe conhecida e lhes recorde isto ou aquilo; Tomam por “explicação” aquilo que a palavra lhes sugere e a recebem como se fosse um pensamento.”