Homem em sépia

Homem em sépia

Deixar-me guiar pela força dos pincéis.

Movimentos intensos, ágeis, seguros.

Por vezes, suaves, leves, sensíveis.

Observar o ir e vir de vontade própria

Não minha, mas das minhas mãos.

Como se minha mente não fosse minha

Tão-somente.

Meus olhos em movimentos intensos

A acompanhar minhas mãos e os pincéis,

Nem percebia bem o que fazia,

O que sentia,

Tão-só agia, repito, não eu,

Talvez o meu Eu

Que sentia por si só,

Mas não me dizia

Comandado por não sei quem

Ou o quê!?

Alguém pode estranhar

Ou estranhar-se por não entender

Eu até tento… compreender.

Pois por vezes minhas mãos

Têm como vontade própria

E agem, seja por pincéis,

Ou tinta sobre papeis.

Querem se expressar.

Eu? Deixo-as me dizerem

A que vêm.

Querem me dizer algo?

Ou simplesmente…

Não me dizem só dizem

A alguém?

Pode ser, quem o sabe?

Sou eu a permitir

Sou dona dos meus anseios,

Por vezes quero devaneios

E me faço navegar por sonhos,

Por imagens ou por símbolos.

Minhas mãos, minhas amigas,

São os instrumentos de que me faço utilizar.

Fazem parte do meu corpo,

Mas por vezes

Não são parte,

São o próprio corpo a esgueirar-se a criar.