Posted por em 28 jun 2018

Estudo oferecido no Grupo Espírita Casa do Caminho, em 28-06-2018

Folheto do estudo (PDF) – Obediência e resignação

Áudio do estudo (mp3) – Obediência e resignação

 

“A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração…” (1)

É provável que, diante de contextos diferentes deste em que nos encontramos no momento – estudo ao olhar do Evangelho -, possamos ter tido contato com outras definições com relação aos conceitos: obediência e resignação. Por isso, cremos ser importante encontrar a mais aplicável ao estudo em questão.

Obedecer, sob o ponto de vista cristão, é acolher as Leis Divinas, sempre tendo como referência seu entendimento e implicações.

Resignar-se, muitas das vezes, é entendido como aceitar, mostrar-se submisso a uma situação, ao desejo e vontade de outrem, como sendo inevitável, inexorável, do destino.

Resignar-se, sob a ótica do Espiritismo, é acolher uma situação, um fato, de maneira amorável.

Encontramos no Evangelho Segundo o Espiritismo que não devemos confundir a obediência e a resignação com a negação do sentimento e da vontade. Obedecer é concordar conscientemente e resignar-se é aceitar de bom grado, sem mágoa, angústia ou contrariedade.

Quando fazemos o que outrem nos pede, sem uma concordância racional, sem aceitação amorosa, nós entramos em conflito e nos ferimos profundamente, como talvez venhamos a ferir o outro também.

Um conceito relativamente atual é a resiliência. Podemos identificá-la como uma extensão ao conceito de resignação:

“Do ponto de vista religioso e espiritual, a resignação e a resiliência são dois conceitos que aparecem relacionados entre si.”

No ramo da psicologia, por exemplo, a resiliência é interpretada como a capacidade “de um indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, algum tipo de evento traumático etc. – sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades.“ (2)

Ao estar em uma situação que nos parece não ter solução, o que normalmente fazemos? Desistimos e abrimos mão da possibilidade de novas oportunidades e aprendizados, ou aguardamos o momento de agir e transformar as condições para solucioná-la? Saber contornar e tentar buscar alternativas para agir favoravelmente é ter uma atitude resiliente.

Na Parábola do Filho Pródigo podemos identificar a aplicação da obediência, da resignação e da resiliência.

– Quanto ao pai

– podemos crer, por certo, que o pai deverá ter tido algum sentimento quando ao pedido do filho mais moço.  Preocupação e tristeza, pelo menos. No entanto, resignação diante do pedido do filho, respeito à sua vontade. Mais ainda do que resignação, soube lidar com a questão e superar uma situação adversa para um pai diante de tal experiência. Podemos identificar também como uma atitude resiliente.

Quanto ao filho mais novo, depois de sair de casa e enfrentar experiências de dissolução de bens e escassez de recursos, não obstante seu posicionamento de início.

– Ao experienciar adversidades extremas, repensou sua atitude e, ao invés de se desesperar, recorreu à lembrança das condições dos empregados de seu pai e resolve voltar para casa e pedir a este que o acolha como um de seus servidores – uma atitude estratégica para enfrentar e superar aquela situação. Reconheceu os erros cometidos e não se achou digno de voltar a ter as regalias de antes;

– mais do que o reconhecimento de seus erros e a busca pela superação… é a confiança de que o pai o acolherá e dará a ele nova oportunidade em seu convívio. Um texto do Papa Francisco(3) traz-nos a reflexão sobre a Parábola do Filho Pródigo: “Deus sempre espera por nós (…) Jesus mostra-nos essa paciência misericordiosa de Deus. (…) a paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro (…)”

Quanto ao filho mais velho

– Apesar de sempre ter se mostrado obediente aos ditames da sua convivência com o pai, servindo criteriosamente, não expressara uma atitude nem resignada, muito menos resiliente. Não soubera acolher a situação que se apresentara com o retorno do irmão. Achou-se injustiçado com a atitude do pai com relação àquele que abandonara tudo, tendo dispendido os bens e haveres que levara em sua viagem. Não percebera a bênção de ter de volta o irmão que houvera perdido.

– Não é bastante que cumpramos com alguns dos preceitos básicos se não acolhermos outros subjacentes como a fraternidade, o amor, que se expressam na forma de respeito, aceitação.

Há uma reflexão interessante que li certa vez: “Quando acatamos uma lei podemos fazer a seguinte pergunta: obedecemos por respeito à própria lei ou por temer o castigo?”  (4) 

Na recomendação do Mestre sobre oferecer a outra face:

«Tendes ouvido que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te dá na face direita, volta-lhe também a outra; ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e quem te obriga a andar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.» (Mt 5:38-42)

Também podemos encontrar a obediência, a resignação e a resiliência.

Qual seria a reflexão sobre esta questão?

Obediência

Ao reconhecermos a sabedoria do Mestre e acolhermos sua recomendação quanto ao mostrarmos a outra face àquele que venha a nos agredir.

Resignação e resiliência

Ao interpretarmos que o oferecer a outra face seja mostrarmo-nos de forma diferente do que se poderia esperar. Não é o simples apresentar a outra face para ser agredida tal como aconteceu na primeira vez.

Sermos resilientes é encontrarmos em nossos corações o acolhimento amoroso, fraterno, não obstante a atitude impulsiva e inadequada do outro. Quem sabe até mesmo ser instrumento para o desabrochar da consciência naquele que nos agrediu.

Oferecer a outra face é mostrarmo-nos pacientes, resignados: virtude companheira da doçura(5). Diz-nos o Mestre: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra.” (Mt 5:5)

Alguns personagens do Novo Testamento que são verdadeiros representantes da Obediência, da Resignação e da Resiliência:

Maria: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” Lc 1:38

Saulo, depois chamado Paulo:

“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.

E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.

E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça?” At 9:3-6

O maior de todos eles… o próprio Jesus:

“Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.

E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.

Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.

Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.

Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.

E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” (Jo 12:44-50

“Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.

Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.

O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.

Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.” (Jo 159-15)

(1)       Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. IX item 8

(2)       https://pt.wikipedia.org/wiki/Resiliência_(psicologia)

(3)       A Igreja da misericórdia – Minha visão para a Igreja, Papa Francisco, Editora Paralela

(4)       https://conceitos.com/obediencia/

(5)       Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, item 8

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