Posted por em 22 ago 2020

Estudo inspirado no texto “Caridade e raciocínio”, de Emmanuel, no livro Opinião Espírita, por Chico Xavier

Vídeo com o poema “Caridade, amor em ação – https://youtu.be/t0dv5i8pEGs

 

Partindo de reflexões sobre o tema Caridade, podemos tomar as palavras de Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, lembrando que a palavra Caridade também representa o sentimento maior: o Amor. No Espiritismo, temos o conceito de Caridade como sendo: Amor em Ação.

Bem, voltando à referência às palavras de Paulo em I Coríntios 13:

“1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

(…)

11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”

Tomando a definição de Caridade como o sentimento maior por excelência – Amor –, há muitas considerações a serem expressas.

Muitas vezes assumimos ser caridosos quando estendemos nossas mãos (ainda que de forma simbólica) para auxiliar companheiros da jornada terrena. Em boa parte, oferecendo bens materiais que identificamos serem de extrema necessidade para que esses irmãos possam conduzir suas vidas com algum conforto e tranquilidade.

Nossos olhares se restringem ao que podemos identificar mais claramente, ao que nos saltam aos olhos quando nos defrontamos com uma realidade difícil e dolorida, no nosso cotidiano.

A nossa mente, em boa parte do tempo, ainda está sensibilizada ao que se mostra visível a olho nu.

Ainda é-nos difícil, de uma forma geral, olhar além do que nossos olhos identificam à volta. As aparências costumam definir a direção do sentimento e acolhemos estas, as aparências, como suficiente para tirarmos conclusões. Neste caso, frágeis, incompletas e inconclusivas… não atingem o que seria ideal para avaliarmos sobre como deveríamos nos conduzir em algumas circunstâncias.

O impulso que nos toma é: preciso separar o que não preciso mais e vou doar.

Nem sempre temos o cuidado de avaliar se o que estamos separando poderá ser útil realmente, ou se não seria um excesso para a pessoa que viria a receber a doação. Até mesmo se estaria em condições de ser usado. Será que não seria adequado fazermos uma avaliação preliminar e distribuir de forma consciente o que temos?

Certa vez, ouvi sobre um fato protagonizado por Francisco Cândido Xavier. Uma de muitas outras histórias que contam a respeito desse grande personagem, na jornada do Espiritismo no Brasil.

Um grupo, comandado pelo Chico, preparava-se para levar algumas doações – alimento entre outras coisas – a uma família que estava passando por grandes dificuldades.

Ao chegarem perto da casa onde iriam deixar os bens arrecadados, observaram grande movimento nas casas vizinhas. Chico, então, orientou seus companheiros a não entrarem pela porta da frente, deveriam dar a volta e seguirem para a porta de trás. Alguém, então, perguntou-lhe por qual razão não entrariam por ali, pois seria mais cômodo e fácil.

Chico então respondeu, com o seu jeito simples e direto: Os vizinhos não precisam saber que nossos amigos estão em dificuldades, devemos ser discretos para não constranger.

Por certo tendo como referência as palavras de Jesus (Mt 6:1-4)

Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; (…)

Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, (…)

Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”

Precisamos estar atentos quanto ao modo como procedemos ao querer sermos úteis a alguém ou apoiarmos alguma causa. Devemos ser discretos. Lembrando a história com Chico Xavier, o trabalhador incansável… termos o cuidado de não expor pessoas para não virmos a criar situações constrangedoras a quem queremos ajudar.

Normalmente, temos o costume de comentar quando fazemos algo em favor de alguém. No afã de querermos ajudar, nós poderemos criar situações que virão levar a problemas, até mesmo sérios, para a vida da pessoa. Acabamos por exceder os limites do aceitável, indo além do que deveríamos.

Por vezes, não percebemos que, ao divulgar nomes e contar histórias a respeito de alguém, poderemos estar tornando público fatos que a pessoa, em questão, só nos revelou em confiança e quer manter em particular.

Nesses casos, poderão estar presentes o orgulho e a vaidade, mesmo que vestidos em roupagem de uma ação aparentemente meritória de querer ajudar, resolver um problema para alguém.

Deveremos ser cuidadosos e estarmos atentos quando escolhemos realizar uma boa ação. Fazermos algumas reflexões como:

– quando uma pessoa me conta algo, ela quer ajuda ou simplesmente está expondo uma situação que ela mesma tem condições de resolver? Ou ainda, refletir se quer tão somente uma sugestão ou está efetivamente pedindo uma ajuda material, ou a buscar um ombro amigo em que se aconchegar.

– ao escolhermos ajudar, realizamos uma análise no sentido de saber como fazer isso?

– estamos procedendo além do razoável, tentando demonstrar, de uma forma ostensiva, que somos bons, indo além do necessário?

– nossa atitude em favor de outrem está baseada em sentimento de caridade, ou simplesmente oferecendo algo sem envolvimento fraternal, como que cumprindo uma obrigação ou desobrigando-nos de um encargo?

– em suma, estamos buscando efetivamente auxiliar, ou o comportamento está fundamentado mais precisamente no nosso orgulho ou vaidade?

Por vezes, questionamo-nos se devemos falar a respeito de algo que tenhamos feito em favor de alguém ou instituições, preocupados em sermos mal interpretados. Vale aqui refletir que nem sempre o informar alguém de uma ação de socorro e auxílio é vangloriar-se com soberba, com ostentação. Por vezes, estamos tão-somente comentando um fato, até mesmo para buscar novos adeptos a um projeto que  nos parece importante e ao qual demos nosso voto de confiança, e queremos intensificar essa ajuda.

Querer fazer o bem é estar pronto para o exercício da Caridade:

– para consigo mesmo, para com o próximo, para com todos os seres, a Natureza, o mundo em que vivemos. Estarmos conscientes de que todos somos um só, independente de estarmos vivenciando experiências em lugares distintos, em cidades diferentes, em outro país, não obstante estarmos no mesmo mundo, no mesmo Universo.

Há aqueles que já sentem, em si mesmos, algo que vai além do precisar e do oferecer aquilo que podemos tocar e perceber com os cinco sentidos do nosso ser.

A partir deste momento, os que alcançaram uma certa consciência do que seja caridade, sentirão uma força interior que os remeterá não simplesmente a doar, mas principalmente ao doar-se.

Estes perceberão que as necessidades mais prementes, pelas quais passa a quase totalidade da humanidade, estão na carência do acolhimento fraterno, no aconchego de um abraço amigo, na valorização do Ser como um bem maior, no reconhecimento de que, antes de estarmos aqui como uma Alma em exercício do aprendizado e buscando seu crescimento moral, somos um Espírito eterno que necessita de fazer contato com o amor, como instrumento de sua profunda transformação.

É louvável quando prestamos auxílio buscando deixar a impressão de sermos nós a estarmos gratos pela oportunidade que se apresentou para sermos úteis.

Um outro olhar sobre o como nos comportarmos ao pensar em oferecer uma ajuda a alguém…

Quando tivermos de tomar uma decisão em nossas vidas, poderíamos tomar como referência a reflexão: Como Jesus agiria em um momento assim? Por certo não conseguiríamos agir como Jesus agiria, no entanto, estaríamos mais próximos da ação mais apropriada para o momento que se apresenta no momento.

No Evangelho de Lucas (Lc18:35 a 42):

“35 E aconteceu que chegando ele perto de Jericó, estava um cego assentado junto do caminho, mendigando.

36 E, ouvindo passar a multidão, perguntou que era aquilo.

37 E disseram-lhe que Jesus Nazareno passava.

38 Então clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim.

39 E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

40 Então Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe,

41 Dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja.

42 E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou.”

A sabedoria e cautela do Mestre se mostram ali quando, antes de realizar a cura, pergunta qual era motivação do cego ao procurá-lo. Mostrou-se ser não só a expressão da própria vontade, como também o demonstrar sua convicção quanto ao que Jesus poderia fazer naquele momento.

Quando estivermos sensibilizados por alguma situação que se mostra para nós, ensejando uma mobilização no sentido de prestarmos ajuda a alguém, seria de bom alvitre que refletíssemos sobre alguns aspectos ali eventualmente envolvidos: (2):

– a empatia é que nos impulsiona a agir;

– tivemos o cuidado de observar bem a situação:

– estaremos respeitando o momento da pessoa a ser assistida;

– consideramos bem os limites de como agir nessa ação;

– estaremos agindo com lucidez nessa empreitada;

– temos consciência de estarmos respeitando a liberdade de escolha do outro: ele quer, expressou a vontade de ser ajudado;

– estaríamos invadindo, de alguma forma suas crenças, religiões;

– agindo por impulso ou estaríamos conscientes de nossas ações.

Ao alcançarmos condições mais salutares quanto à consciência ética e nos desvencilhamos de expressões de autossatisfação, egoísmo, e assemelhados, elevamos nosso olhar para a busca pela real felicidade, a percepção quanto ao que verdadeiramente é importante no caminhar evolutivo.

O real sentimento humanitário perpassa pelo atingir a condição do bem-estar que se expande e envolve o ambiente à nossa volta. O alcançar horizontes mais amplos, estendendo a capacidade de envolvimento de outros seres que partilham conosco a grande esfera azul a que damos nome de Terra.

A esse nível de consciência, assumimos um senso de responsabilidade pelo que somos, pelo que representamos nesse contexto. Identificamo-nos com o Ser ético em germe e deixamo-lo começar seu despertar em nós como agentes do progresso. Transformamo-nos em seres úteis.

Diz-nos Joanna de Ângelis, no livro O Homem Integral (psicografia de Divaldo Franco), no capítulo A busca da realidade, subtítulo “Consciência ética”:

“A consciência ética é a conquista da iluminação, da lucidez intelecto-moral, do dever solidário e humano.”

 

 

História do mendigo à porta da Igreja

Um mendigo se encontrava à porta de uma Igreja e fez uma prece:

Oh! Deus, peço que alguém venha me oferecer uma dádiva e que seja boa ao Seu olhar.

Passou um senhor muito rico. Ao ver o mendigo, abriu uma bolsa e despejou sobre suas mãos algumas moedas e joias. Ao tocar as mãos do mendigo, as joias e moedas transformaram-se em folhas secas.

Em outro momento passou uma pessoa muito simples que, vendo as condições do mendigo, tomou algumas tâmaras e colocou nas mãos dele. Tão logo as tâmaras tocaram as mãos do mendigo, transformaram-se em moedas e joias.

As joias da pessoa rica eram tão somente folhas secas aos olhos de Deus. As tâmaras da pessoa simples eram joias aos olhos de Deus.

Vale aqui uma reflexão: como estão nossas ações aos olhos de Deus?

  • Do livro Aprender com o Mestre – Sobre o Amor, Elda Evelina, Bookess Editora
  • O Homem integral – pags. 59 a 64, Joanna de Ângelis, por Divaldo Franco, Editora Leal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *