Posted por em 8 out 2018

Segundo Mahatma Gandhi, a Grande Alma da Índia, que não era cristão, afirmou que se todos os livros sagrados da humanidade se perdessem, mas não O Sermão da Montanha, nada se teria perdido. “Quando nos unirmos com base nos ensinamentos de Cristo no Sermão da Montanha, teremos solucionado os problemas, não só de nossos países, mas do mundo inteiro.” De um outro autor temos a seguinte afirmação: “Os ensinamentos de Jesus sobre o amor, se aplicados, podem sanar os males da humanidade. O Sermão da Montanha: esta é a mais linda sonata de amor contida nos Evangelhos.” (Joanna de Ângelis)

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

Há uma interpretação do que seja humilde (ou pobre) de espírito que poderemos considerar especial. Seriam aqueles que se reconhecem frágeis e carentes de elevação espiritual.

Sou humilde espírito quando reconheço que tenho ainda muito a aprender. Quando reconheço que não sou sábio, que não detenho a verdade e tenho muito a crescer. Eu me disponho a buscar o meu progresso espiritual.

Desses é o reino dos céus. Porque essas pessoas estão verdadeiramente dispostas a buscar a sua elevação espiritual. Somente quando eu reconheço a minha fragilidade intelectual e espiritual é que eu me disponho a buscar o meu crescimento. Quando eu me conscientizo de que ainda tenho muito a aprender eu procuro me empenhar no caminhar em busca do conhecimento, do aprendizado, da minha elevação.

Aqueles que têm consciência da necessidade do aprendizado e da busca pelo crescimento espiritual são os simples de coração que reconhecem a necessidade de encontrar, nos ensinamentos, o seu progresso.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

O choro a que se refere essa bem-aventurança seria o choro em razão do sofrimento?

Há também uma interpretação a respeito, que merece uma reflexão. Podemos entender como sendo os que choram por um arrependimento sincero diante do erro cometido. Não só com relação a si, ao próximo, mas também com relação a Deus.

Choram por terem errado, mas não se mantêm na dor do erro. Buscam o crescimento, a evolução, o aprendizado, novos caminhos. Buscam a sua reforma íntima. Eles se empenham na correção do seu erro.

 Esses serão consolados porque verdadeiramente percebem o quanto precisam mudar e estão arrependidos de coração.

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

Alguns interpretam o manso como uma pessoa que não tem coragem de enfrentar a vida.

No entanto, mansidão não é sinal de fraqueza. Alguém já afirmou que “mansidão é a força tornada gentil”. Ter força, ter coragem e determinação na busca de um objetivo, mas com mansidão. Mesmo quando temos convicção de algo, de um caminho, não devemos impor ao outro nossas convicções. No conviver, podemos mostrar ao outro nossas ideias, com confiança e fé, mas de uma forma gentil.

Precisamos ser fortes, ser confiantes para conseguirmos ser mansos, pacíficos. Quando não somos mansos, nós demonstramos a nossa fraqueza espiritual.

Voltando a citar Gandhi, “Tolerância mútua é uma necessidade em todos os tempos e para todas as raças. Mas tolerância não significa aceitar o que se tolera.”

Quando nos sentimos prejudicados pela atitude de alguém não devemos reagir de forma agressiva. Deveremos ser tolerantes, no sentido de sermos compassivos com essa pessoa. No entanto, isso não quer dizer que concordamos com o que ele fez, mas que reconhecemos que essa pessoa ainda tem muito a caminhar e que precisa de uma mão amiga, da nossa tolerância, da nossa compaixão.

Com a nossa mansidão nós podemos promover uma mudança de comportamento nessa pessoa. Sermos tolerantes com a pessoa, mas não com o que ela fez.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.

A expressão “sede de justiça” remete-nos ao sentimento de o quanto queremos que as coisas sejam corretas, o quanto gostaríamos que o mundo funcionasse melhor. O quanto gostaríamos que existisse mais paz no mundo, que a humanidade fosse mais consoladora e compassiva. É uma forma de sede de justiça.

Se nós temos sede de justiça nesse sentido, vamos tentar ser pessoas que levam essa mensagem, que buscam transmitir isso às outras pessoas.

Agindo assim seremos fartos. Fartos porque vamos exercitar o bem e estaremos tentando fazer com que o bem ocorra à nossa volta. Mas é importante que esse processo seja de forma mansa, sem imposições nem agressividade.

É ainda difícil, para nós, conseguir esse comportamento ideal. No entanto, o reconhecer que ainda somos frágeis espiritualmente não pode ser justificativa para que nos mantenhamos no mesmo patamar.

Na condição de humildes de espírito, reconhecendo que somos imperfeitos e frágeis, não podemos nos permitir permanecer nesse estágio. Devemos buscar a nossa mudança de comportamento e ajudar na mudança da sociedade em que vivemos. Buscar a justiça de que estamos sequiosos e famintos, para então sentirmo-nos fartos por termos conseguido alcançar nossos objetivos.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia

O que é ser misericordioso? É ter compaixão.

Muitas vezes entendemos compaixão e pena como sentimentos iguais. No entanto, alguém disse certa vez que existe fundamental diferença entre eles. Isto porque, quando sentimos pena de alguém nós nos colocamos em condição superior, como se nos encontrássemos em situação melhor por não estarmos passando pelo mesmo sofrimento; é não reconhecê-lo como alguém que pode encontrar um novo caminho e melhorar sua condição.

Compaixão, em contrapartida, é compreender o outro, acolher sem julgamento; é reconhecer no outro um Ser com condições de se reerguer, de aprender e evoluir; é envolvê-lo de forma a proporcionar oportunidade de superar suas dificuldades.

Assim, concluímos que o sentimento mais adequado em relação às pessoas e às suas limitações e dificuldades é a compaixão. É quando reconhecemos no outro alguém que, apesar de ser frágil espiritualmente ou intelectualmente, tem ainda muito a evoluir, tem potencialmente capacidade de se reerguer e encontrar o seu caminho.

Devemos ter pelo outro o sentimento de compaixão, reconhecer no outro alguém com capacidade própria para mudar, necessitando talvez só de um pequeno impulso. Oferecer a ele uma ajuda, seja na forma de uma palavra amiga, de um livro que possa levar a ele um aprendizado ou um simples abraço.

Passemos a sentir compaixão pelas pessoas, acreditar que elas têm capacidade de mudar. Vamos ter compaixão por nós mesmos, acreditando que somos capazes de fazer uma grande mudança em nossas próprias vidas. Vamos reconhecer em nós Seres com condições de buscar a sua evolução seja intelectual, seja espiritual.

Ter compaixão, ou ser misericordioso, é sentir: eu estou em você e você está em mim; eu sinto o que você sente e você sente o que eu sinto. É perceber, com um simples olhar, quando o outro está triste ou alegre. Quando eu sinto uma dor não é só eu quem a sente, sentem todos os que estão conectados pelo sentimento da compaixão. Sentem a mesma emoção, têm a mesma percepção.

Se formos mais perceptivos quanto ao que ocorre à nossa volta estaremos em condição de promover um mundo melhor. Não é fácil, no estágio em que ainda nos encontramos, mas poderemos tentar promover mudanças que nos impulsionem a melhores condições de convívio. Sempre é tempo para alcançar novas metas e encontrar novos caminhos, mesmo que seja um pequeno passo de cada vez.

Vamos nos reconhecer humildes de espírito e reconhecer a nossa potencialidade de promover a nossa mudança.

Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

Limpos de coração, de coração puro. Aquele que reconhece o seu erro, reconhece os seus limites. Acolhe qualquer aprendizado, qualquer ensinamento, de coração aberto.

Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

Anteriormente falamos da mansidão. O pacificador está além do manso, pois, pacificador além de ter a paz interior, ele procura promover a paz.

Quando conseguimos ter a paz em nossos corações, nós passamos a ser pacificadores, pois refletimos à nossa volta a energia que está contida em nossa alma.

Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós.

O que poderemos entender por ser perseguido por causa da justiça?

Afirmam que quando mudamos nossos conceitos, caminhamos em busca do conhecimento, nossa jornada é solitária. Estamos sozinhos por que o evoluir é buscar o seu próprio caminho.

Quando buscamos um caminho novo, nesse caso um caminho com Cristo, nós somos olhados de forma diferente pela sociedade em que estamos inseridos.

Podemos não ser exatamente perseguidos, mas de certa forma poderemos ser marginalizados, segregados, ou mesmo apenas observados como diferentes.

Bem-aventurados somos porque, apesar de as pessoas à nossa volta não nos acolher como seus iguais, em razão de estarmos mudando, permanecemos no nosso caminhar em busca da nossa evolução.

Por vezes nossos amigos e familiares também estão buscando a sua evolução espiritual, mas de forma diferente e não nos compreendem. Talvez também não os compreendamos, mas precisamos compreender as escolhas de cada um e ser compassivos.

O objetivo é o mesmo, mas os caminhos são diferentes, pois cada um deve procurar o caminho com que mais se identifique para o seu encontro com Deus, pois o Pai está em toda parte e com todos igualmente.

Mesmo tendo esse olhar diferente das pessoas para conosco, devemos nos manter no caminho que escolhemos com confiança e fé, de forma tolerante, compassiva e misericordiosa. Esse é o nosso caminho verdadeiro. É só um olhar diferente para as mesmas verdades, para o mesmo Evangelho.

É muito consolador ter o Cristo em nossas vidas. Porque nos dá conforto, paz, confiança.

Não importam as dificuldades e vicissitudes que ocorrem em nossas vidas. Devemos ter a certeza de que Deus só quer o nosso bem. Quem ama só quer o bem do outro. Queremos o bem para os nossos filhos e Deus, como o Pai maior, só quer o nosso bem.

Se há dificuldades em nossas vidas, se há obstáculos para transpor, se há alguma coisa que não conseguimos administrar muito bem, vamos pedir força, coragem, fé, confiança. Porque o que ele nos oferece, com certeza é o melhor para nós. É aquilo de que necessitamos para alcançar o patamar espiritual que queremos, que o Cristo gostaria que alcançássemos um dia.

Melhores condições surgirão em nossas vidas, desde que aprendamos com as experiências que temos hoje.

A chave da nossa evolução é o aprendizado.

Não é suficiente sabermos a história de Jesus, conhecer o Evangelho, saber as bem-aventuranças e buscar a interpretação para todas elas.

O que vai fazer a mudança efetiva é o aprender e aplicar o aprendizado em nossas vidas. Aí está a nossa elevação em patamares espirituais. Que sejamos humildes de coração, compassivos, misericordiosos, tenhamos realmente sede de justiça em um mundo melhor. A verdade do Cristo realmente floresça e frutifique em toda a humanidade, e que façamos parte disso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *