Posted por em 30 mar 2020

Estudo que viria a ser oferecido na FEB Federação Espírita Brasileira, em 30-03-2020

Folheto (PDF) que seria distribuído ao público – Evangelho, Aflições humanas – Morte de Lázaro

Áudio do Estudo (mp3) – Aflições humanas – Morte de Lázaro

Por condições sociais importantes, a palestra não ocorreu. Gravei o áudio do texto do folheto que seria distribuído.

Introdução

Nos momentos finais do ministério de Jesus, estava ele em região a leste do rio Jordão. Ali recebeu a notícia de que seu amigo Lázaro estava enfermo.

– Lázaro –Lâzâr , diminutivo de Ele’azar ̶ “Deus socorreu”. Era de Betânia, da tribo de Benjamin. (1)

Nos arredores de Betânia ficava a casa de Marta, Maria e Lázaro.

Adverte-nos Roustaing, em Os Quatro Evangelhos, que devemos estar atentos quando da intenção de interpretar as narrações evangélicas em que sejam apresentadas as palavras e atos do Mestre. Não podemos confundir com as impressões e apreciações humanas, pois que poderíamos fazer parecer entrarem em contradição. Como também não devemos buscar compreender de forma isolada, devemos sim considerar no conjunto em que se encontram para que, ao invés de virem a ser interpretados como se contradizendo, formem um conjunto harmonioso.

A amizade de Jesus e Lázaro

Havia forte laço de amizade entre Jesus e esses personagens.

Quando o Mestre viajava por aquelas paragens, costumava ficar na casa de Maria, Marta e Lázaro.

Encontramos em Lucas 10:38:

“E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa:

E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.

Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude”

E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, está ansiosa e afatigada com muitas coisas, mas uma só é necessária;

E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.”

Em Jo 11:5 encontramos:

Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro”.

Neste caso, a expressão utilizada para o sentido de amar foi ágape – agapáô – significa “amar com predileção”. (1)

Jesus é chamado por Maria e Marta

“Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.” Jo. 11:1 e 2.

As irmãs de Lázaro enviaram um mensageiro a Jesus para informar-lhe que Lázaro estava doente:

“Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. ” (Jo 11:3)

Pastorino relata que o verbo aqui utilizado no sentido de amar foi philein que tem o significado de “amar com amizade”.

O tempo de viagem entre o local em que estava o Mestre e a casa dos irmãos Maria, Marta e Lázaro, era de dois dias.

Avalia-se então que o mensageiro levou dois dias para chegar até Jesus e entregar-lhe a mensagem.

Em Jo 11:6 diz:

Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava.” Isso antes de seguir para Betânia.

Depois são mais dois dias para chegar ao seu destino, a casa de Maria, Marta e Lázaro. Entre o chamado de Maria e Marta e a chegada do Mestre, havia decorrido seis dias. Lázaro já estava morto há quatro dias. Em João 11:39 :

Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias.

Palavras de Jesus

Ao saber que Lázaro estava enfermo, Jesus disse:

Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus e para que o Filho de Deus seja glorificado.” Jo 11:4

Pastorino relata que seja mais provável que a expressão de Jesus tenha sido: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus.

Por qual razão seria mais provável? Tendo em conta que Jesus não teria trazido para si o desejo de ser glorificado, pois seria uma demonstração de vaidade, orgulho. Em outras curas que promoveu recomendava que nada dissessem a pessoa alguma.

Não faria sentido O Mestre buscar o glorificar-se ao “acordar” Lázaro de seu “adormecimento” pela enfermidade.

Depois de dois dias ali, Jesus chama seus discípulos para seguirem para a Judeia.

O Mestre queria que a humanidade reconhecesse Sua missão por meio de Suas obras (Jo 10:37 e 38). Citando João 14:13:

E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.”

Entendimento dos discípulos

Em Jo.11:8-15:

“Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?

Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;

Mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.

Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.

Mas Jesus dizia da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.

Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto;

E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.”

Buscando entendimento:

Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;

Mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

Diz Pastorino: “A resposta é enigmática; durante as doze horas do dia não se tropeça porque “se vê a luz do mundo”, mas se andar à noite, tropeça-se, porque a “Luz não está nele”. Já não se trata mais da luz do mundo, mas da luz própria intrínseca à criatura.” (1)

Se andamos à noite, simbolizando a sombra que existe em nós (expressão por vezes utilizada por Joanna de Ângelis, referindo-se à nossa escuridão espiritual, falta de esclarecimento, de iluminação interior), nós tropeçamos, pois falta-nos a luz própria proporcionada pela fé, pela esperança, pelo conteúdo evangélico em nossa Alma.

Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.

Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.

Mas Jesus dizia da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.

Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto;

E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.”

Precisou Jesus de esclarecer os discípulos de que Lázaro já estava morto, ainda que houvesse utilizado a expressão “dorme, mas vou despertá-lo do sono.”

Quando então afirma que “Lázaro está morto”, ele acrescenta uma reflexão de suma importância no contexto desse estudo:

E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.”

Não estando presente enquanto Lázaro estivera enfermo, foi-lhe oferecida ao Mestre a oportunidade de mostrar a glória e o poder de Deus através do seu amor. Citando aqui Jo 10:37 e 38:

Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu n’Ele.”

Chegada a Betânia

Jo 11:20 e 23:

“Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa.

Disse, pois, teu irmão há de ressuscitar.”

Aqui nós identificamos uma fé firme e inabalável. A fé que tem em si a esperança da realização. Confiança plena em Deus e em Jesus como Seu instrumento para expressão do amor, do poder e misericórdia.

Não obstante não ter Jesus estado presente, de forma imediata, à solicitação de sua presença para atender ao chamado das irmãs Maria e Marta, elas mantiveram a certeza de que, estando ele presente, mesmo após a morte do irmão, o Mestre pediria ao Pai a vida de Lázaro e esta lhe seria concedida.

Reflexões complementares

Esta passagem traz-nos importantes reflexões sobre nossas próprias vidas.

Ao longo de nossa existência, por inúmeras vezes vemo-nos em dificuldades, situações por vezes consideradas sem soluções, erros que não conseguiríamos reparar por nós mesmos por sentirmo-nos frágeis tanto emocional, quanto física e espiritualmente.

Percebemo-nos sem norte, sem apoio. Entregamo-nos ao desânimo e consideramo-nos desvalidos.

Buscamos apoio em informações disponíveis a respeito de trabalhadores na Seara do Cristo.

São-nos apresentadas várias personalidades de vulto no trilhar terreno, que se mostraram fortes, com fé verdadeira e efetiva, determinados no trabalho edificante e de caridade no seu sentido mais profundo “amor em ação”.

Buscamos conhecer suas histórias, encantando-nos com seus feitos e sua dedicação na divulgação do Evangelho do Cristo, temos admiração por suas capacidades de desapego por questões pessoais, dirigindo suas ações principalmente para o outro, para o próximo, como apregoou o Mestre.

Esta admiração, por vezes, deixa-nos tão conectados a eles que nos esquecemos da participação que nos foi oportunizada para esse caminhar, como compromissos assumidos em planos sutis, na preparação do nosso retorno ao plano material, para a nossa própria busca pela elevação espiritual e moral. Metas a serem cumpridas por nós, indelegáveis.

Devemos nos lembrar sempre de que essas oportunidades fazem parte de um Plano Divino para nossas vidas. O Pai tem uma missão muito especial para cada um de nós – encontrarmos o Reino de Deus em nós, atingirmos a condição espíritos puros e sermos felizes.

Chega um momento em que buscamos o auxílio de Deus, oramos, mas ainda sem convicção de sermos atendidos.

Mesmo assim, somos acolhidos pela misericórdia do Pai, através de seus prepostos – nossos amigos espirituais, como um ombro amigo que nos ouve e consola, seja em atendimento aos nossos anseios de cura, ou em solução a alguns de nossos problemas.

O alcance de uma presença efetiva, no atendimento pleno de nossos anseios, depende de vários fatores como por exemplo:

– o atendimento ao nosso pedido estaria em consonância ao programado para a existência presente?

– poderia ser um desvio dos nossos compromissos assumidos ou a nós oferecidos para que alcancemos melhores condições espirituais no processo evolutivo?

– está contemplado nas diretrizes preconizadas pelo Mestre em seus ensinamentos?

– outras circunstâncias previstas no Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. XXVII Pedi e obtereis.

Devemos ter consciência de que o Pai sempre tem como meta o encontro de nossa Alma com os fundamentos indispensáveis ao atingimento da pureza do Espírito que somos.

É certo que sempre temos o auxílio do Plano Maior da vida, em qualquer circunstância, mas nem sempre temos consciência dessa graça pois, por vezes, não corresponde exatamente ao que pedimos e cremos não ter obtido a ajuda solicitada.

Devemos, por certo, crer que o auxílio sempre está presente em nossas vidas, mesmo que se apresente tão somente como um lenitivo às dores pelas quais somos acometidos.

Por vezes queremos a cura de nossos males, das doenças. No entanto, devemos ter presente que muitas das dores e doenças fomos nós mesmos que as solicitamos por remédio para nossos resgates e reparações.

Faz-se imprescindível que compreendamos e acolhamos como certo:

– somos sempre agraciados pela misericórdia do Pai;

– invariavelmente nossas preces são sempre ouvidas e respondidas;

– a coragem, a força de vontade, a esperança são-nos inspiradas para que prossigamos no nosso caminhar com mais segurança e determinação.

Quando uma cura, ou uma graça tão intensa quanto esta é-nos proporcionada, devemos ter um olhar especial para o que nos acontece.

É quando Deus opera em nós uma grande bênção e podemos estar sendo instrumentos para a Glória do Pai e não percebemos, creditando nossos sucessos a nós mesmos.

Esta bênção poderá se apresentar na forma como nós retomamos nossas vidas a partir da descoberta da beleza dos ensinamentos do Mestre e da renovação que esta percepção proporciona, doravante, para o nosso caminhar. Traz-nos segurança, esperança, fortalece a nossa fé.

O Pai é glorificado em nós e por nós. Seremos instrumentos de sensibilização daqueles com quem convivemos. Novos olhares se dirigem a nós ao nos identificarem como um Ser novo que se apresenta, e desperta em nossos companheiros de jornada a curiosidade para compreender o que se deu, mesmo que não estejam ainda preparados para compreender de forma plena.

Por vezes estamos conscientes da grandeza da graça recebida e chegamos até a dizer: O que fiz para merecer? E a resposta que nos é oferecida pode ser: Não fez ainda. É quando então devemos assumir novos propósitos, novos caminhos.

A sinceridade no comprometimento na seara do Mestre é o nosso estandarte para abertura de novos caminhos. A verdadeira transformação espiritual, moral e emocional será a nossa apresentação por onde transitarmos.

A felicidade se fará presente em nossas vidas por reconhecermo-nos como novas Almas, o Ser que se mostra renovado, renascido – “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (Jo 3:3)

Temos ainda as palavras de Jesus em Jo 11:41:

“Pai, graças te dou, por me teres ouvido.”

Finalizando nossas reflexões deixamos aqui uma indagação: será que também manifestamos nossa gratidão a Deus?

  • Sabedoria do Evangelho, Volume VI – Ressurreição de Lázaro – I Doença de Lázaro, Carlos Torres Pastorino

Em o livro Aprender com o Mestre – Sobre o Amor, vol. II – Elda Evelina Vieira, Observatório do Texto

 

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