Posted por em 10 out 2016

Aprender com o Mestre - Ilustração msg siteEstudo oferecido na FEB Federação Espírita Brasileira, em 10-10-2016

Áudio (mp3) – A cura do enfermo em Betesda

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Traz-nos o evangelista João em 5: 1-5:

(…) e Jesus subiu a Jerusalém.

Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.

Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.

Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.

E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.

O nome Betesda pode ser traduzido por Casa da Misericórdia. Nome bem significativo para o que ali se procurava – a cura.

Havia uma crença de que, uma vez ao ano, um Anjo fazia as águas se movimentarem e, quando isso acontecia, o primeiro enfermo a se colocar em contato com as águas alcançava a graça da cura de seus males físicos.

Encontrava-se, próximo a esse tanque (ou piscina), um enfermo, por vezes referido como tetraplégico ou paralítico. Em João, a referência ao nosso personagem é de ser um enfermo há trinta e oito anos, sem explicitar qual a doença de que fora acometido. Estava em um leito e não tinha quem o levasse ao tanque para que pudesse buscar a sua cura.

João, em seu Evangelho, menciona que naquele local encontrava-se uma grande multidão de enfermos, padecendo de vários tipos de males.

Ao se encontrar naquele local, Jesus observa aquele homem deitado no leito. Sabia o Mestre que ele estava enfermo já há muito tempo e, aproximando-se, disse-lhe: “Queres ficar são?” (Jo 5:6)

Por certo o enfermo queria encontrar a sua cura, mas, como ele mesmo disse a Jesus, em resposta, não havia como colocar-se na água, pois não havia quem o levasse até lá.

Assim está no Evangelho de João 5:7:

“O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.”

Poderíamos até tentar imaginar o quanto fora difícil para aquele homem estar ali à busca de sua cura, crendo nas histórias que se contava a respeito do lugar, do Anjo e do alcance da graça de ser curado. À medida que as águas se agitassem, outros com mais condição de mobilidade alcançavam o tanque (ou piscina) e banhavam, sabendo-se, no entanto, que só o primeiro a tocar as águas seria curado.

No texto evangélico há menção de os enfermos buscarem ali provável cura. No entanto, não há referência de alguém efetivamente ter alcançado a graça almejada.

Ao ouvir o enfermo Jesus lhe diz: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” (Jo 5:8)

Tão logo ouviu as palavras de Jesus o homem ficou são. Tomou o seu leito e andava. No texto evangélico encontra-se uma observação que pode parecer de pouca expressão para um desconhecedor dos costumes judaicos – “E aquele dia era sábado.” (Jo 5:9)

Um detalhe importante a se conhecer a respeito. Com relação ao sábado, há regras a serem severamente respeitadas pelos judeus: trinta e nove proibições de trabalhos e, entre elas, expressamente mencionada a do transporte de um leito, com alguém deitado nele ou vazio.

Em razão disso, o que estivera enfermo por trinta e oito anos foi repreendido por judeus que ali se encontravam, pois lhe disseram:

“É sábado, não te é lícito levar o leito.” (Jo 5:10)

Respondeu-lhes ele: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda.” (Jo 5:11)

Aqueles judeus ainda perguntaram-lhe:

“Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda?” (Jo 5:12)

Segue-se, então, o registro feito pelo evangelista João 5:13-15:

“E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão.

Depois, Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.

E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara.”

Podemos observar, pelos relatos dos evangelistas, que em vários momentos Jesus promoveu atendimentos em dias de sábado.

Por certo o Mestre conhecia as regras impostas aos judeus. Não obstante esse conhecer, ele não se esquivava a prestar uma ajuda, promover uma cura, realizar algum feito importante.

Esse proceder deve servir como alerta para todos nós, quando damos mais importância aos obstáculos que se nos apresentam para realizar algo em prol de alguém, do que a expressão de afeto, um gesto fraterno, um socorro amigo, uma palavra de consolo.

A atitude de Jesus não pode ser interpretada como uma atitude de desobediência e sim de prioridade para a situação que se lhe apresentava no momento.

Seria como se nós, tendo a oportunidade de prestar socorro em situação de risco, até mesmo de morte iminente, não o fizéssemos em razão de uma certa lei não nos permitir agir desta ou daquela forma: entrar na contramão no trânsito (por certo observados limites de segurança) ou parar em local proibido, por exemplo. Até mesmo algum acontecimento que nos faça relegar a segundo plano a assistência a outrem. Algo que venha a alterar nosso senso de prioridade, talvez em razão do nosso orgulho ou fraqueza moral.

Ele mesmo dissera certa vez que não viera para descumprir a lei, e sim para dar-lhe cumprimento. E a lei mais importante que devemos observar e cumprir é a lei do amor.

Respondeu Jesus a um Doutor da Lei: “Ame o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.” (Mt 22:37)

Também afirmou, quando da celebração da última ceia com seus discípulos: “Novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.”

Esta é a lei maior. Não devemos deixar de exercitar o amor, o maior dos ensinamentos que o Mestre nos deixou.

Com mansidão, entendimento, misericórdia, amor, ele relacionou-se com todos aqueles com que teve contato enquanto conosco.

Mesmo quando se mostrou severo, intenso, firme, ele o fez por amor a todos nós. Para trazer-nos a consciência do reto proceder; alertar-nos quanto a eventuais atitudes indevidas, contrárias ao que Ele espera de nós.

Buscando mais um ensinamento, a partir dessa passagem sobre a cura do enfermo em Betesda, lembremo-nos de um texto de Emmanuel:

“Em soerguendo o enfermo desditoso do leito de provação, convoca-nos Jesus a levantar-nos, todos, do ninho de imperfeições, em que nos comprazemos, de coração cansado e mente corrompida.” (1)

Também importante citar mais um trecho de Emmanuel:

“O enfermo pretenderá o reajustamento das energias vitais, entretanto, cabe-lhe conhecer a prudência e o valor dos elementos colocados à sua disposição na experiência edificante da Terra.

Há criaturas doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitas, não porque desejem renovar concepções acerca dos sagrados fundamentos da vida, mas por se sentirem impossibilitadas de prolongar os próprios desatinos.

É sempre útil curar os enfermos, quando haja permissão de ordem superior para isto, contudo, em face de semelhante concessão do Altíssimo, é razoável que o interessado na bênção reconsidere as questões que lhe dizem respeito, compreendendo que raiou para seu espírito um novo dia no caminho redentor.” (2)

Esses textos remetem-nos a refletir profundamente para aspectos do nosso proceder diante da dor, das dificuldades, das enfermidades:

– observarmos nossas atitudes com senso crítico lúcido e atentos. Buscarmos a autotransformação e erguermo-nos confiantes e ciosos da verdadeira missão que nos cabe na nossa trajetória espiritual;

– na tentativa de irmos ao encontro da libertação das nossas dores e dificuldades, cabe-nos ter a consciência do quanto se promove para que alcancemos essa dádiva; da responsabilidade que passamos a acolher em nosso Ser; dos compromissos a serem assumidos com o plano superior da vida, de onde procederiam essas bênçãos;

– não lastimarmos as dores que porventura tenhamos ainda a vivenciar por mais algum tempo. Por certo ainda não saberíamos nos beneficiar de algum legado promissor e permaneceríamos nos desatinos. Elas, as dores, são os freios de que ainda precisamos para impedir novas responsabilidades não nobilitantes no nosso caminhar;

– ao recebermos a cura de algum mal de que fomos acometidos, devemos vislumbrar o esplendor do abrir-se, para nós, novos horizontes de oportunidades e de luz, como espíritos em busca da própria redenção.

(1)       Ideal espírita, Ed. Comunhão Espírita Cristã, Cap. 42)

(2)       Pão Nosso, capítulo Curas

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