Posted por em 12 out 2016

Aprender com o Mestre - Ilustração msg siteEstudo oferecido no Centro Espírita Casa do Caminho, em 27-08-2016

Áudio do Estudo ofecerido (mp3) – Parábola do Semeador – Casa do Caminho

Estudo oferecido na Federação Espírita do DF, em 11-10-2016

Áudio do Estudo (mp3) – Parábola do Semeador-Semear e ser semeado – FEDF – Neste caso, há reflexões adicionais após a reflexões originais 

separador-AprenderMestre

A Parábola do Semeador proporciona a todos nós oportunidades de reflexão sobre nossos caminhos e o que nos acontece ao trilhar por eles.

Como nos comportamos quando surgem oportunidades para o trabalho e quais as raízes que  surgem a partir do nosso semear.

Assim nos fala Mateus no capítulo 13 de seu Evangelho, dando início à Parábola do Semeador:

1 No mesmo dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se à beira do mar;

2 e reuniram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco, e se sentou; e todo o povo estava em pé na praia.

3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo:

Eis que o semeador saiu a semear.

Para realizar a sua tarefa Jesus saiu de casa.

Isso é muito significativo, pois é necessário “sair de casa” para executar um trabalho. Muitas vezes nós ficamos fechados “na casa” dos nossos interesses particularistas, optando pela comodidade no nosso conforto. Por receio do que nos possa acontecer, nós nos trancamos no individualismo, não arriscamos. Não somos capazes de sair da nossa segurança, do espaço e das coisas que controlamos.

Para semear precisamos sair como Jesus saiu e como também saiu o Semeador.

No entanto, antes de sairmos para o trabalho precisamos traçar nossos propósitos e prepararmo-nos para a tarefa a cumprir.

Qual o tipo de semente que pretendemos semear? Ao escolhermos, precisamos selecionar as que melhor se adequem aos nossos propósitos. Para que nossas escolhas sejam as mais acertadas, faz-se necessário que tenhamos adquirido conhecimento para podermos delinear as estratégias para o serviço.

Um plano de trabalho é essencial para a eficácia de qualquer missão que venhamos a abraçar.

O Semeador não guardou a semente, “ele saiu a semear”. A semente não deve ficar guardada, escondida, ela precisa ser lançada ao solo para que brote e produza frutos. A semente guardada pode perder-se por ficar velha e estéril.

Precisamos nos conscientizar de que a semente contém em si o mistério da frutificação. Ela contém tudo o que é necessário para a formação de uma árvore e sua capacidade de produção dos frutos.

Muitas vezes nós acreditamos que não vale a pena sair a semear por não valer a pena tentar mudar as coisas. Tememos não conseguir transformar o mundo à nossa volta e, por isso, não vale a pena o risco.

É quando nos fechamos no nosso egoísmo, ficamos enclausurados no nosso medo.

Precisamos sair desse casulo que formamos em torno de nós, precisamos “sair de casa” e acolher a esperança de conseguir transformar nossos caminhos.

Lembro-me de uma frase do Padre Júlio Lancellotti: “Nós acolhemos para transformar e nos transformamos para colher.” Diz ele ainda que quem confia “sai de casa” para semear.

A semente é um ótimo exemplo para essa reflexão. Ela acolhe a terra, acolhe a água e se transforma, exuberante. Torna-se uma árvore, ou mesmo um arbusto, e eclode os botões que surgem produzindo frutos que são colhidos para iniciar um novo ciclo de acolhimento, transformação e colheita. Acolhimento representa o amor em ação, caridade, responsabilidade e compromisso.

Sair a semear requer empenho, determinação, atitude de confiança. Precisamos também escolher o caminho a trilhar.

Jesus, quando saiu de casa, veio a sentar-se à beira do mar. “reuniram-se a ele grandes multidões…”, sabendo que o Mestre poderia vir a oferecer-lhes algo de importante.

Jesus se apresentou com autoridade moral por todo o tempo em que esteve conosco. A multidão se acercava dele atraída por sua vibração de amor.

Quando nos colocamos à disposição da renovação e do trabalho no bem, com o coração fraterno, nós percebemos a aproximação de pessoas, em torno de nós, à busca de aconchego, carinho, amparo, orientação e segurança.

Com essa constatação, mais responsáveis devemos nos reconhecer pelo que sentimos, pensamos, fazemos, falamos e demonstramos no dia-a-dia.

Ao sair a semear o semeador distribuiu suas sementes, independente do tipo de solo que estava pelo seu caminho. Não se preocupou se o solo era estéril ou fértil. Não ficou questionando se valia a pena o risco ou se o seu trabalho produziria resultados. Ele simplesmente cumpriu a missão a que se propôs – semear as sementes.

A semente é a mensagem do Evangelho, os ensinamentos de Jesus, o Cristo. Nós somos o solo em que as sementes são lançadas. Há vários tipos de pessoas e diferentes são seus níveis de evolução e de receptividade à mensagem do Evangelho do Cristo.

e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram.

As pessoas que ficam à beira do caminho são as que ficam dispersas, à margem dos acontecimentos, insensíveis aos ensinamentos. Não prestam atenção ao que lhes ocorre e não tentam “acolher as sementes” em seus corações.

Protelam a oportunidade de aprender, ficam alheias aos ensinamentos contidos na semente do Evangelho do Cristo; preferem permanecer no comodismo e não percebem a grandiosidade e importância do viver com Cristo.

E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.

Aquelas que foram “semeadas” em lugares pedregosos são superficiais na sua visão da vida. De pronto recebem a mensagem, mas logo a esquecem e seguem o seu caminho. Não deixam que os ensinamentos criem raízes. São pessoas que se encantam com a mensagem, respondem de imediato aos chamados ao trabalho. Apesar disso, diante de qualquer obstáculo se afastam e desistem de prosseguir com o aprendizado.

No entanto, vale ter também um outro olhar sobre essa questão. Mesmo nesses lugares há terra entre as pedras e pode haver sementes que ali se enraízem. Essas sementes representam pessoas que aceitam o Evangelho, apesar de eventuais circunstâncias adversas e embaraços que as envolvem. Normalmente são essas que mais se afirmam no acolhimento da semente em suas vidas, pois essas sementes quando brotam entre as pedras fixam suas raízes de forma profunda e dificilmente se deixam arrancar.

E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.

As “semeadas” entre os espinhos representam as pessoas que são frágeis em seu entendimento e facilmente são envolvidas pela falsa luz das facilidades, pelo brilho dos falsos tesouros e acabam sufocadas na busca pelas realizações fáceis e conquistas materiais.

Quando mantemos o conhecimento sem exercitá-lo, ele se perde pela inércia mental. Acaba sendo colocado em segundo plano como se sem importância.  

Mas outra caiu em boa terra,

As “semeadas” que vêm a frutificar são aquelas que acolhem a semente em seu coração, confiam e se transformam em novos semeadores. Colhem os frutos da semeadura e se comprazem com o resultado do seu trabalho. São aqueles que “acolhem para se transformar e se transformam para colher”.

… e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.

Precisamos identificar qual é o nosso caminho e dedicarmo-nos a ele de corpo e alma, confiar.

O conhecimento é algo que precisa ser semeado, compartilhado. De preferência não ser simplesmente transmitido.

Com a interação entre as partes ele será enriquecido pelas experiências expostas e todos serão beneficiados com novos aprendizados, ampliando a abrangência do conhecimento.

Será um movimento de semear e ser semeado e, por certo, em solo que veio a ser tratado adequadamente, tornado fértil com esta dinâmica.

Todos nós já nos encontramos, em algum momento, na condição de solos “à beira do caminho”, ou “pedregosos”, “entre espinhos” e até mesmo como de “boa terra”.

Há momentos em que estamos refratários a algum tipo de aprendizado por não querermos mudar a nossa rotina; preferimos a facilidade do usufruir as conquistas materiais e protelamos o nosso caminhar à luz do Evangelho do Mestre.

Em outras circunstâncias, vemo-nos sufocados pela intolerância, autoritarismo; enfim, pelo orgulho e pela vaidade. Valorizamos mais o Ter do que o Ser melhor.

Há, no entanto, a grande esperança na reformulação dos nossos conceitos e valores. Todos estamos em processo de crescimento espiritual e, em algum momento, iremos acordar para o que realmente importa em nossas vidas – reencontrar o Ser puro que existe em nós, a luz que brilha em nossa alma e agregar os ensinamentos maiores em nossas vidas.

Não só nos reconhecermos como solos férteis, mas também, e principalmente, transformarmo-nos em Semeadores da Boa Nova – acolher para se transformar e se transformar para colher.

separador-AprenderMestre

Reflexões adicionais oferecidas quando da apresentação na FEDF

Sempre que pensamos na Parábola do Semeador temos em mente as interpretações  baseadas  na divulgação do Evangelho do Mestre.

Há outros olhares sobre o semear .

Como reconhecermo-nos semeadores constantes e efetivos?

Está na lide diária, no convívio com nossos semelhantes em toda e qualquer circunstância.

Tanto para o semear os ensinamentos do Mestre, quanto para o semear simples de uma semente no solo, precisamos acreditar na semente a ser semeada. Não acreditando que esta poderá brotar e produzir frutos, resistimos em dispender energias para esse trabalho.

Também há o semear que está no como nos comportamos nos relacionarmos com as pessoas, com o mundo à nossa volta.

Se as nossas relações interpessoais estão baseadas na discórdia, no rancor, nas dissidências em suas mais variadas expressões, é esta a semente que estamos semeando em nossas vidas e os frutos que irá produzir será de mesma espécie. Lembremo-nos das palavras do Mestre quando nos aleta:

Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz  frutos maus.

Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons..” (Mt 7:17-18)

Chega um momento em que precisamos decidir quanto a acordarmos para a necessidade do encontro com a nossa essência de amor e luz.

Há também a necessidade de buscarmos um novo olhar com relação às nossas relações com o plano espiritual.

Qual a maneira como vemos  nosso caminhar como espíritos.?

Muitas vezes nós nos preocupamos com as companhias espirituais, temos estes como adversários a nos prejudicarem. Olhamo-nos como vítimas  a sofrerem assédio espiritual.

A verdade é que esses companheiros trilharam conosco em outras vivências e nossas relações nem sempre foram afáveis e respeitosas. É este olhar que devemos buscar para essas relações espirituais difíceis que muitas vezes experimentamos.

A melhor maneira para termos um convívio saudável com esses companheiros é ir ao encontro da autotransformação, a nossa reforma interior a partir do aprendizado e exercício dos ensinamentos do Mestre.

No caso de estarmos empenhados em aprender e buscar o nosso caminhar com Jesus, esses companheiros também terão a oportunidade de seguir em jornada de aprendizes conosco.

A nossa transformação moral, espiritual, será para eles a constatação de que nós seguimos um caminhar diverso daquele de que se lembram e que provocou o sentimento de inimizade, de rancor.

Eles passarão a nos observar de forma diferente e provavelmente mudarão também o seu caminhar a partir do aprendizado que vierem a conquistar em nosso convívio.

Não mais seremos adversários, teremos sido transformados em amigos.

Ao invés de quererem nos prejudicar, procurarão ser nossos companheiros nessa jornada evolutiva.

É um semear e ser semeado constante. Este intercâmbio profícuo de energias e atitudes nobilitantes é que verdadeiramente proporcionará transformações profundas em nossas vidas.

Aprender, transformar-se e amar

Onde está, companheiro?

Estivemos juntos em passado remoto,

Vivenciamos experiências

Por vezes difíceis.

Incompreensão,

Desamor,

Injustiças,

Paixões desmedidas.

Não sei qual a nossa ligação!

Por certo estamos ligados,

Conectados por sentimentos,

Emoções nem sempre nobres,

Por vezes até inconfessáveis!

É até constrangedor reconhecer

E confessar a mim mesma.

Quero dizer a você, companheiro,

Que tenho tentado me conhecer,

Buscar no recôndito da minh’Alma,

Meus erros, meus deslizes,

Dos mais variados matizes.

Preciso encontrá-los,

Reconhecê-los,

Mais do que simplesmente isso,

Preciso resgatá-los!

Para tanto, meu primeiro passo

Está no me transformar, de certo.

Sei que me acompanha,

Olha para mim com os olhos do seu espírito,

Talvez com rancor, com mágoa,

Ódio até, talvez.

Nem sei o que lhe fiz,

Mas algo existe no seu Ser,

Marcado pela minha insensatez.

Volto a dizer, meu amigo,

Que busco me encontrar.

E no me encontrar,

O me transformar.

Quem sabe você,

Ao ver o meu novo ser,

Poderá perceber meu novo caminhar,

E nesse novo caminhar

Encontrar a minha busca

De aprender a amar?

Quem sabe, meu amigo,

Companheiro de vidas idas,

Venha até mesmo conseguir

Se descobrir como alguém

Capaz de também se encontrar

Ao me ver em novo proceder?

E podermos juntos, então,

Olhar um para o outro,

Abrindo novos sentimentos,

Emoções tocando o nosso novo Ser

Emoções de arrepender,

Do aprender e do se encontrar.

E nos abraçarmos,

Ainda que seja em sonhos

Ou em percepções sutis.

Um dia, quem sabe?

Poderemos nos encontrar em corpo,

E nos reconhecermos,

Não como desafetos

Mas como grandes amigos

Que aprenderam a se amar.

Do livro Aprender com o Mestre – sobre o Amor, Elda Evelina, Bookess Editora

2 Comentários

  1. 28-8-2016

    A Parábola do Semeador…
    Acabo de escutar o áudio. Confesso que o fiz com cuidado. Mas entendo que tenha que escutá-lo de novo, para reforçar certas partes que me tocaram mais profundamente, ou que tenha que me deixar tocar mais profundamente. Vai ser bom ouvir de novo!

    O fato é que tem uma parte em especial que é muito interessante explorar. Esta parte é a que diz respeito ao que você, Elda, diz “ousar” acrescentar. Que é quando, no texto em que Jesus fala sobre o semeador, em que elas, as sementes, caem nas pedras, entre as pedras. Este detalhe captado, por você, pode e deveria gerar um livro. Tamanha a reflexão que o assunto desperta. Em mim despertou.

    Uma vez que, para cumprir a sua missão, a pessoa tem que buscar conhecimento, então, entende-se que, esta pessoa, já tem uma noção,_ de onde está, ou onde estão suas sementes, ou como é como semeador, ou a terra que se constituiu: Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (na ordem de: semeador, semente, terreno, invertendo, a cada momento, entre todas as possibilidades possíveis) _, para cumprir com este percurso.

    E caso se reconheça entre as pedras, que são os obstáculos, procurar, paulatinamente, ir se ajeitando entre elas e fazer valer o seu enraizamento. Buscar os melhores ganchos, da terra, para se enraizar a semente caída em sua terra.

    Uma vez que, também, qualquer espaço em que se possa enganchar, com sua raiz, ainda sem tantas certezas de que vai dar certo, é de uma importância ecumênica. A pessoa se lança sem saber do destino.

    Mas é a chance que tem.

    O ato de se permitir arriscar a entrar na terra, de se aterrar, enquanto planta, enquanto possibilidade humana, a faz mais forte e mais determinada, a partir do momento em que decide fazê-lo.

    Então, esta marginalidade, aparente, se desobstrui e se infiltra. Porque tem direito de se infiltrar, porque se permitiu infiltrar. Aterrar.

    Quer dizer, é uma vida que antecede à própria vida.

    É um viver que se permite viver. É um ser que se permite estar.

    Nesta linha, de atitude, está o estrupiado, o de comprometimento do mais díspare.

    Muitos de nós estamos com sementes nas pedras. Um “ventinho” pode nos aconchegar entre elas, nas pedras. Ou já estarmos entre elas e lá buscarmos permitir que as sementes se enraizem de tal forma para nos fortalecemos mais ainda, ao nos vermos como aqueles em quem ninguém coloca a mínima fé de que vai se permitir crescer,florescer e dar frutos. Florescemos e damos, não só frutos, mas frutos saborosos.

    Este detalhe, Elda, em que ousou observar é simplesmente maravilhoso. Sublime. Deve investir mais nesta descoberta. Há muito o que desvendar.

    Porque afinal… Cair em, terra fértil, berço esplêndido é tudo de bom… Mas fazer da queda, na terra, um berço esplêndido apesar das vicissitudes, é para se buscar entender como fazer a sua própria missão apesar dos pesares.

    Tem uma música da Elza Soares, “Chora”,_ cuja interpretação é magnífica _, que sempre pensei em “trabalhar” como performer, que termina assim: “Ah, desabafe a melancolia.”

    A palavra “melancolia”, no primeiro momento deixaria como Elza pretende. Mas no segundo momento o final “lia”, da palavra, dela seria “i” no sentido de “e”, e “a” seria a expressão “Ah!”, deixando para trás, o sentido primeiro, e emergindo numa outra conotação “e… Ah!” No sentido de que dela devemos sair. Interessante como neste caso o “Choro” se torna um belo sorriso.

    Uma forma de permitir que a raiz, entre as pedras, possa entranhar na terra e ser uma bela árvore.

    Portanto, quem se reconhece nascido nas ou entre as pedras, Ah! E se enraize, com a força para ficar firme.

    Reforço a beleza do texto e do áudio. Muito preciosos.

    É só beber da fonte.

    Grata Elda.

    VJ.

    • 28-8-2016

      Oi Vânia, adorei suas reflexões. Com a sua sensibilidade percebeu bem a ideia de as sementes que encontraram a terra, apesar das dificuldades, buscarem fincar suas raízes para realização de suas missões.
      Quanto à sua proposta de um livro a respeito desse “ousar”, quem sabe? Vou refletir a respeito e, se o fizer, terei suas reflexões como referência.
      Agradeço com muito carinho.
      Abraços fraternos,
      Elda

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *