Posted por em 19 jul 2014

Decors-Evangelho-10Link para ouvir a palestra na íntegra (mp3)Orgulho e Humildade

Vamos refletir sobre dois aspectos da nossa personalidade – Orgulho e humildade.

O tema está abordado no Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo VII, em Bem-aventurados os pobres de espírito, e dois de seus itens falam especificamente sobre o orgulho e a humildade.

Vamos analisar primeiro como poderíamos interpretar a expressão pobres de espírito.

A definição encontrada no dicionário é:

– pobre – desprovido ou mal provido do necessário;

– espírito – entre outras, faculdade de compreender, conhecer.

Normalmente a interpretação que se dá, por decorrência, é que pobres de espírito são aqueles que não têm condição de aprender, de refletir.

No entanto, estudando o Evangelho, seu significado em nossas vidas, e tentando alcançar, entender o que o Mestre realmente estaria buscando nos ensinar, há um outro olhar para oferecer com relação à expressão.

Nós aprendemos na doutrina espírita que estamos aqui para evoluir e a evolução se dá ao longo de várias encarnações. Essa evolução também se dá com a aquisição de conhecimento.

Nesse processo evolutivo faz-se necessário que mantenhamos o equilíbrio com o desenvolvimento de duas asas: a do conhecimento e a da evolução moral.

Se nos detivermos só no desenvolvimento intelectual não estaremos no nosso processo evolutivo. E se nos ativermos tão-só na evolução moral, também algo estará faltando.

Nós aprendemos que na individualização do espírito Deus nos concedeu a razão. É nesse particular que nos diferenciamos dos outros animais. É o que caracteriza o Ser Humano.

Para que serve a razão? Qual a sua utilidade?

É a de buscar conhecimento, de refletir sobre o que aprendemos, fazer bom uso do aprendizado. Em suma, evoluirmos intelectualmente. Com a aquisição do conhecimento temos condições de refletir sobre nossa evolução moral. São as duas asas que têm de estar equilibradas.

Voltando à expressão pobres de espírito, qual o motivo de Jesus tê-la usado?

Vamos considerar o contexto em que Jesus estava inserido. Ele falava a todas as pessoas indistintamente, independe do grau de evolução intelectual ou moral; independente de cargos ou funções naquela sociedade.

No entanto, quem mais buscava ouvi-lo e prestar atenção aos seus ensinamentos? Qual o tipo de pessoa que acolhia com mais facilidade os ensinamentos que Ele transmitia?

Eram as pessoas mais simples, mais humildes. Qual seria a razão?

Se considerarmos que muitos intelectuais da época teriam melhores condições para analisar e refletir sobre os ensinamentos, por que eram as pessoas simples as mais sensíveis e absorviam melhor os seus ensinamentos?

Um dos motivos é por estarem mais necessitadas daquelas mensagens que Jesus se propunha a trazer, como também eram pessoas que tinham puro o seu coração, que não resistiam a novos ensinamentos. Pessoas que estavam ávidas por aprender.

Por outro lado, os Fariseus e estudiosos das Leis resistiam a esse aprendizado. Qual a razão de isso acontecer? O seu orgulho. Eles se achavam conhecedores de tudo, eram chamados Doutores da Lei. Eles detinham o conhecimento intelectual da época. Seria muito difícil para eles, por causa do orgulho e da vaidade, reconhecerem que havia ainda algo a aprender. Pensavam em como uma pessoa tão simples e que demonstrava relacionamento aconchegante, acolhedor e amoroso com as pessoas simples teria algo a ensinar a eles?

As pessoas que eram mais humildes tinham muito mais vontade de aprender e as pessoas que detinham grande conhecimento não queriam aprender mais, ou não queriam demonstrar que precisariam aprender. Estariam reconhecendo que não sabiam tanto quanto se diziam detentores do conhecimento.

Vamos nos lembrar da Parábola do moço rico. O moço procura Jesus, diz que gostaria de segui-lo e pergunta o que deveria fazer. Jesus dá a ele, como condição, oferecer toda a sua fortuna aos pobres e o jovem, muito triste, retirou-se porque era dono de muitas propriedades.

Podemos usar essa parábola para compreender melhor a questão de ser pobre de espírito. Muitas vezes não seguimos a Jesus porque temos grandes propriedades e não queremos abandoná-las. Aqui não estamos nos referindo ao sentido de riqueza material, de dinheiro ou bens imobiliários, porque a maioria das pessoas não estaria nessa condição, mas porque temos grandes posses, como por exemplo, ideias preconcebidas que nos impedem de refletir sobre buscar um outro olhar para o que entendemos conhecer. Ao longo de vários anos mantemos esta ou aquela informação e não nos permitimos olhar de uma forma diferente; não queremos refletir a respeito.

Nós temos muitas vezes preguiça mental, até mesmo inércia mental. É mais fácil recebermos uma informação, acolhermos e não pensarmos a respeito. Não usamos aquele dom que Deus nos deu de exercitar a nossa razão.

Há também a excessiva confiança em nossa capacidade de julgar e nas ideias que nos são familiares. Em função de ideias pré-concebidas, nós passamos a julgar e até a condenar as pessoas porque elas pensam diferente. Ao invés de nós buscarmos compreender o que ela quer dizer com aquele pensamento ou reflexão nós simplesmente assumimos que ela está errada. É um tipo de posse, de propriedade que nós deveríamos abandonar para seguir Jesus.  

Nós temos muitas riquezas nesse sentido em nossas vidas.

Outro aspecto, apego sentimental ou material a instituições ou organizações e a hábitos. Estamos acostumados a agir de determinada forma e aceitar que está tudo bem. Nós nos acostumamos a esta condição e não queremos mudar. É mais fácil seguir como está, porque se decidir mudar eu tenho que mudar meu comportamento, minha maneira de ser e, às vezes, até mesmo enfrentar pessoas que pensam ou pensavam da mesma forma que nós e por agora querermos pensar diferente temos receio de perdermos amizades, relacionamentos, de sermos vistos de forma diferente em instituições e organizações, até mesmo religiosas. Muitas vezes concluímos que é melhor nos mantermos sem mudanças.

Temos outros tipos de apego, como o intelectual. Aprendemos um determinado caminho na escola, em uma leitura e achamos que está bom para nós. Valorizamos conceitos oferecidos por intelectuais, cientistas, filósofos. Escolhemos pensar de acordo com eles. Em determinado momento nós nos deparamos com uma outra corrente de pensamento que oferece uma outra alternativa de reflexão sobre o mesmo assunto. Muitas vezes temos receio de nos permitir pensar a respeito. É apego.

Isso se dá também com o caminhar com Jesus. Há momentos em que ouvimos uma reflexão diferente a respeito de Jesus e seus ensinamentos e não queremos, às vezes, nem mesmo pensar a respeito.

Não devemos nos deter na ideia de que o diferente é errado. Não é uma questão de ser certo ou errado. Existem formas de vermos o que Jesus nos trouxe.

Há momentos em que estamos mais aptos a aceitar um determinado caminhar mas, ao aprendermos mais coisas e refletirmos sobre elas, poderíamos pensar na possibilidade de caminharmos diferente ou acolher novos conhecimentos, novos olhares sobre os ensinamentos do Mestre. No entanto, temos medo, medo de como as pessoas irão nos olhar. Como iríamos administrar esse fato?

Precisamos estar sempre utilizando a nossa razão sem apego a conceitos e preconceitos. Termos um olhar lúcido e escolhermos um caminho, seja ele qual for, por estarmos mais afinizados a esta reflexão, crermos que esse olhar sobre os ensinamentos seja melhor. Pode não ser melhor para outras pessoas, mas não pode ser uma questão de ser errado ou certo. Está no olhar e no caminhar de cada um.

Estamos todos em momentos diferentes de evolução. Não estamos em idênticos níveis nesse processo. Alguns estão em uma direção, estão em determinado grau evolutivo, outros mais avançados, outros nem tanto. Não é porque alguém está errado, ninguém é dono da verdade!

Nosso caminhar depende de como estão as nossas duas asas. O quanto já adquirimos de conhecimento intelectual e o quanto já conseguimos evoluir moralmente. Por exemplo, eu posso estar mais avançada no conhecimento intelectual e não estar moralmente evoluída em relação a outras pessoas. As experiências da vida, ao longo das encarnações, proporcionam essa diferenciação. Não é uma questão de certo ou errado, ninguém é dono da verdade. Só estamos em momentos diferentes e com capacidade de observação e absorção distintas.

Não podemos ter esse orgulho de sermos melhores. E nem fazer julgamentos de que os outros estão distantes de nós. Estamos todos no mesmo caminhar, com o mesmo objetivo – evoluirmos e nos encontrarmos com Cristo. Alcançarmos a nossa perfeição que o Mestre espera de nós, como também Deus espera de nós. Estarmos unidos nessa energia maravilhosa de Deus, em que estamos imersos, como nos diz Emmanuel.

Ainda sobre o orgulho e a vaidade, há mais uma parábola – O fariseu e o publicano. Ambos entram no Templo com um só objetivo, orar, falar com Deus.

Qual é a atitude do fariseu? Ele só se enaltece: eu sou um Doutor da Lei, eu conheço toda a Lei e os profetas, eu cumpro todos os rituais religiosos, eu sou conceituado, sou respeitado. Em nenhum momento em sua prece ele louvou a Deus, nem agradeceu, nem mesmo pediu. Ele ficou o tempo todo só dizendo o quão importante ele era diante daquela sociedade.

E o publicano? Ele nem levantou o seu olhar. Só pediu perdão a Deus.

Essas duas atitudes exemplificam as duas faces. O fariseu só se enaltecendo – o orgulho, a vaidade. O publicano – a humildade de se colocar à frente de Deus pedindo perdão.

Isso mostra o olhar que trouxe no início do por que Jesus usou a expressão pobres de espírito para aqueles que teriam acesso ao reino dos céus. Porque as pessoas humildes é que estão mais disponíveis a receber o ensinamento, aprender e praticar em suas vidas.

Será que estamos sendo humildes ou orgulhosos?

Na realidade, neste patamar em que estamos de evolução, somos tanto humildes como orgulhosos. Alguns mais orgulhosos do que humildes, outros mais humildes do que orgulhosos, dependendo da circunstância. Todos temos essas duas faces.

Estamos em um mundo de expiação e provas, ainda, mas estamos caminhando para merecer estarmos em um mundo de regeneração. No de expiação e provas ainda há muito do orgulho, do apego, e temos pouca disponibilidade para aprendermos mais.

Quando nos são oferecidas oportunidades para aprender algo diferente em nossas vidas, para que tenhamos consciência e aceitemos que temos mais conhecimento a adquirir, a primeira coisa que temos de aceitar é: eu não sei tudo, ainda há muito a conhecer. Humildade para crescer, que ainda há muito a caminhar.

Há uma história no livro Jesus no Lar, cujo título é A coroa e as asas. As histórias contadas neste livro são ensinamentos trazidos por Jesus em reuniões como Culto no Lar. Tenho especial carinho pela história em questão.

Assim conta a história. Havia um homem que tinha o objetivo de conquistar todo o conhecimento existente no mundo. Sabia ele que, ao final da jornada, encontraria uma montanha e, subindo esta montanha, encontraria um Anjo que lhe ofereceria a coroa e as asas reservadas àqueles que alcançassem todo o conhecimento e com a coroa e as asas ele poderia ascender ao paraíso.

Durante o seu caminhar, aqui e ali ele deixava à beira do caminho sua capa já gasta pelo uso, ou sua sandália, acolhendo uma nova capa ou sandália para prosseguir. Nesse caminhar ele conseguiu alcançar todo o conhecimento disponível.

Chegando ao pé da montanha, subiu e no alto encontrou o Anjo. Disse-lhe que havia conseguido amealhar todo o conhecimento e sabia haver conquistado o merecimento de receber a coroa e as asas.

O Anjo disse-lhe que realmente ele havia conquistado o direito à coroa, mas para obter as asas ainda havia algo a ser feito. Pediu-lhe, então, que se virasse e olhasse o caminho que havia percorrido.

O homem virou-se e começou a observar as pessoas que percorriam o caminho pelo qual viera até a montanha. Percebeu que algumas pessoas, por não terem o que vestir ou calçar, recolhiam as capas já bem gastas, ou as sandálias que o ele deixara pelo caminho. Sua reação foi de crítica, desconsideração e até mesmo de rejeição pelo que observava, desqualificando as pessoas que passavam a usar o que abandonara à beira do caminho.

A cada interjeição do homem, nesse sentido, o Anjo demonstrava mais e mais tristeza.

O Anjo então diz a ele que deveria retornar ao caminho por onde viera e só mereceria as asas depois de haver compartilhado, com as pessoas que se encontravam no caminho, todo o conhecimento adquirido ao longo da sua vida. Depois de ter cumprido esta etapa ele voltaria até o alto da montanha e receberia as asas para poder se elevar ao Paraíso.

No meu entender o texto nos leva a pensar em situações como a de uma pessoa que aprende noções básicas de matemática. Depois tem acesso a conhecimentos mais complexos e acaba por desconsiderar o conhecimento inicial. Algumas chegam até a desconsiderar a importância desse conhecimento básico não percebendo que elas só conseguiram alcançar o novo aprendizado depois de terem passado pela fase inicial. Mais do que isso, por vezes até mesmo desqualificam alguém que ainda esteja na fase inicial crendo que são menos inteligentes em razão de não conhecerem o que elas já alcançaram. É a atitude do homem da história.

Isso ocorre em todos os aspectos da vida. Precisamos entender que cada um tem o seu próprio tempo e que tem de ser respeitado. O nível de conhecimento intelectual de cada um, o seu próprio patamar evolutivo em aspectos morais tem de ser respeitado. Estamos no mesmo caminhar.  Todo o conhecimento é importante. O que já foi importante para mim é ou será importante para o outro também. Em determinado momento adquirimos um novo conhecimento e conseguimos ter um olhar mais abrangente sobre o que ocorre à volta. Isso ocorre porque aprendemos algo antes. E esse conhecimento adquirido nesse momento será a base para novas aquisições.

Não podemos ser orgulhosos. Temos que ser humildes. Porque nós temos muito ainda a aprender. Nosso conhecimento está distante daquele que está disponível no Universo.

Há vários níveis de conhecimento. Níveis de evolução, intelectual e moral. Estamos todos nessa caminhada e deveremos ser respeitados e respeitar o outro com relação ao seu modo de caminhar, e auxiliar o outro a alcançar patamares que nós já conseguimos alcançar. Precisamos ter esse olhar do compartilhar. Sermos úteis à sociedade em que estamos inseridos. Sermos úteis aos nossos irmãos de caminhada, independe da escala evolutiva em que ele esteja. Independente de que religião ele professe, a que filosofia ele seja adepto. Se ele já está ou não em condições de absorver plenamente o que está sendo oferecido, sempre fica uma semente desse conhecimento. Utilizando a razão ele irá trabalhar essa informação, refletir e adquirir novo conhecimento em função desse exercício mental a que se dedicar, prosseguindo sua jornada evolutiva de forma saudável.

Compartilhar é nossa meta. O que Jesus fez enquanto esteve conosco? Ele compartilhou o que sabia, aquilo que queria que aprendêssemos – amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.

O amar ao próximo como a si mesmo está nesse ato de compartilhar. Porque se eu amo o outro eu quero que o outro tenha as mesmas condições que eu tenho e que considero saudáveis para mim. Isso não quer dizer que eu tenha de impor ao outro o que eu sei, porque aí não é amor, é orgulho de achar que sabe tudo e é dono da verdade.

Precisamos compartilhar, sermos úteis, para termos as duas asas equilibradas. Adquirirmos o conhecimento dentro do possível, o melhor que pudermos e buscar a nossa evolução moral para aplicar o nosso conhecimento intelectual de forma útil, amorosa.

Quando falamos de evolução moral nós estamos falando é de amor. A essência da evolução moral a que Jesus se refere é amor. Esse é o grande ensinamento.

Autoconhecimento, desapego, abandonar preconceitos, adquirir novos valores, virtudes. Amar o próximo depois de nos amarmos. Quando conseguirmos alcançar essa meta teremos conseguido cumprir o segundo grande mandamento. Com a conquista desse objetivo consequentemente estaremos amando a Deus.

Este é o nosso maior objetivo. Amando a Deus, dessa forma, estaremos nesse grande manancial de Amor Divino.

Imersos na energia Divina nós já estamos, a dificuldade é nós percebermos e sentirmos esta bênção.

Quando nós conseguirmos alcançar esse amor maior aí nós vamos sentir essa energia de Deus que nos envolve em todos os momentos de nossas vidas.

Um Comentário

  1. 20-7-2014

    Tenho certeza de que este material é de uma utilidade imensa para aqueles que se dispõe a estudar, refletir e ampliar seu conhecimento em relação aos assuntos tratados com tanta sabedoria e ao mesmo tempo de maneira simples ao alcance de todos! Mais uma vez parabéns. Grata por compartilhar!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *