Posted por em 22 out 2020

AGEÍSMO

Este termo pegou-me de surpresa.

Confesso que não havia pensado a respeito até que este termo me foi apresentado há pouco tempo.

É fato eu já ter pensado sobre a questão do preconceito com relação a idosos, quanto a poderem se apresentar mais frágeis – física e intelectualmente –, serem mais lentos ao andar, ao pensar. Referências a perdas de memória. Até mesmo por não demonstrarem habilidades a aprender ter uma relação amigável com a tecnologia. A questão é identificar esses aspectos de forma pejorativa, ao invés de um simples processo de envelhecimento natural das condições físicas e cognitivas a que estamos todos sujeitos.

Poderíamos refletir a respeito… será que foi sempre assim? No passado, ao longo dos tempos? Como a sociedade reagia a respeito dessa relação entre gerações?

Como os jovens percebiam as pessoas mais idosas?

Como os idosos percebiam os jovens?

Por vezes observamos, em referências históricas, o quando havia de discriminação no relacionamento entre essas faixas etárias! Reações por vezes adversas entre o idoso e o jovem, entre o homem e a mulher, entre pessoas de classes sociais bem específicas e culturalmente distanciadas por orgulho conceitual e valoração intelectual e social.

O Ser Humano se mostra, até hoje, um agente que se apresenta discriminatório.

Este mesmo Ser, ao longo do tempo, tem olhado para essa realidade de forma mais consciente, ainda de forma pontual, sem a abrangência devida. E, a cada intervalo de tempo mais encurtado, tem conseguido abrir-se a um despertamento interessante a respeito de suas percepções discriminatórias.

Levamos muitos séculos para reconhecer a igualdade consciencial do homem e da mulher. É verdade que ainda identificamos, em algumas sociedades e culturas, a manutenção de uma escala de valores entre os sexos, mas já evoluímos razoavelmente nesta questão.

Por vezes também temos preconceito com relação aos jovens, crendo serem inarticulados, sem experiência para assumir certas questões ou funções no dia a dia. Quando deveríamos levar em conta a sua capacidade de realização. ao invés de simplesmente colocar a referência etária para qualificação ou não.

Assim também com relação aos idosos. Há uma catalogação da capacidade de realização tomando como referência um único ponto: a idade.

Com relação ao idoso, há muitos aspectos que devemos levar em conta nessas reflexões – o conteúdo cultural, intelectual e experiencial que este Ser traz em si. Sua vivência é um arcabouço a ser considerado e valorizado. O quanto o idoso e a idosa têm a compartilhar, a oferecer sobre o aprendizado que não é viabilizado em sala de aula, nem em grandes Universidades. Aprendizado que a vivência oportuniza, mais ainda quando intercambiada entre gerações – aprendendo uns com os outros, trocando experiências e agregando cultura.

Aprendi com meus pais o respeito pelos meus avós, meus tios. Identificar em cada um deles capacidades muito especiais que deveriam ser acolhidas por mim, para a minha jornada pessoal.

Certo dia presenciei um diálogo entre um primo e seu pai (meu tio). Meu primo dizia de não gostar de conversar com o avô porque ficava contanto histórias sem interesse, e o meu tio não corrigiu meu primo, fez foi reforçar o sentimento dele. Eu fiquei chocada, à época eu tinha talvez uns dez anos. As conversas do meu avô era o que eu mais gostava de ouvir – sua vida, coisas que fez em sua juventude, relações com seu pai, e tantas outras coisas que, até hoje, são referências na minha vida. Histórias que proporcionam meu sentimento de orgulho por tê-lo tido como avô. Fez toda a diferença em minha vida.

Penso hoje o quanto jovens perdem oportunidades incríveis por não valorizarem esse intercâmbio cultural. Muitos talvez percam por não terem alguém que mostrem a eles a importância desse relacionamento mais estreito entre as faixas etárias. Principalmente a busca pela vivência experiencial do idoso.

Certa vez, pesquisando para oferecer um estudo sobre A Criança e a Mídia, encontrei uma referência interessante sobre a identificação do não reconhecimento do valor do idoso, considerando só a dificuldade que muitas vezes ocorre de este adquirir habilidade no manuseio de equipamentos eletrônicos.

Salientava o autor – Valdemar W. Setzer no livro Os Meios Eletrônicos e a Educação – que precisamos passar para nossos jovens a importância do relacionamento com nossos avós, os idosos de nossa convivência. Pois estes têm uma vida rica em experiências e aprendizados colhidos ao longo dos anos. Ao invés de serem desqualificados tão somente por não terem facilidade na assimilação das habilidades em manusear um computador. Atualmente, podemos estender ao uso dos celulares e tablets (não existentes à época dos estudos que levaram à publicação do livro sob referência). Identifiquei esta observação do autor de extrema importância. O quanto o idoso tem a oferecer e não aproveitamos a oportunidade para crescermos e irrigarmos nosso intelecto.

O quanto, muitas vezes, os próprios pais desses jovens podem estar proporcionando um “olhar” distorcido para esse relacionamento entre gerações (lembrando aqui o meu comentário sobre meu primo e meu tio, seu pai).

Há um caminhar por certo longo e ainda complicado nessas relações, isso é fato, mas o quanto antes nós nos conscientizarmos da necessidade de nos abrirmos para a esta realidade – precisamos aprender uns com os outros e nos valorizarmos – mais perto estaremos de uma convivência mais sadia e útil no desenvolvimento humano.

Ocorreu-me um fator que me pareceu interessante nessas reflexões.

A denominação que criamos a um conceito costuma facilitar o entendimento de sua existência. Por exemplo, quando identificamos a mobilização pelo respeito às escolhas que fazemos, passamos a ter mais consciência para o fato de existirem diferentes olhares para a questão sob foco.

Mobilização para aceitar-se como natural as questões denominadas de gênero e respeitar as escolhas que fazemos.

O termo Ageísmo traz-nos um momento importante para refletirmos sobre o tema e buscarmos entender, sem empeços culturais e emocionais. A realidade a que a vida nos desperta.

E para esse despertar e tomada de consciência faz-se necessário não termos preconceito em olhar de frente e compreender o que ocorre. Proporciona o nosso evoluir como Ser Humano que somos e oportuniza novos despertares para obstáculos que ainda detemos em nós e nem nos damos conta ainda.

A palavra-chave para o entendimento e conscientização é Amor. Sem este sentimento, dificilmente conseguiremos alcançar uma situação de equilíbrio entre as gerações.

Quanto ao envelhecer com sabedoria, a melhor maneira é compreender que é um processo natural. Não há como manter o corpo físico eternamente, mas podemos manter jovens o espírito e a mente. É a melhor maneira de vivermos saudáveis, independente da idade.

Uma reflexão interessante é: só há duas opções, ou envelhecemos ou deixamos a vida física ainda jovens.

Qual seria a sua escolha?

Por que não aproveitar da melhor forma possível o tempo que ainda temos de vida?

Perguntaram-me: “Se a senhora pudesse dar alguma mensagem para o seu “eu” no passado sobre envelhecer, o que a senhora diria? Tem alguma dica para os jovens de hoje sobre envelhecer?

Não é simples responder a esta questão. Primeiro eu teria de promover um encontro comigo mesma no passado e conversarmos francamente. Não sei se, mesmo que fosse possível este encontro, eu teria condições de engendrar esta conversa e colher informações confiáveis. O meu Eu hoje poderia interferir no conteúdo da conversa, como o meu Eu no passado não teria percepções suficientes para me orientar quanto ao tema.

O imaginário aqui sugerido poderia vir a ser “contaminado” por minhas percepções do presente, decorrentes de aprendizados colhidos a partir experiências ao longo desses muitos anos.

Quanto ao que eu poderia dizer aos jovens, lembrando aqui a segunda parte da pergunta formulada.

Basicamente diria:

Viva sua vida. Aprenda o mais que puder sobre vários assuntos. Aprenda não só os conteúdos que lhe sejam oferecidos. Seja um observador do que ocorre à sua volta e faça conexão dos acontecimentos à sua volta, à luz do conhecimento que venha a adquirir.

Aprender não é só conhecer. É apreender informações colhidas, tornando-as parte de si.

Quando fazemos isso, temos capacidade de análise que nos torna observadores em sintonia fina com o mundo, as pessoas, as possibilidades de conexões finas que nos promovem como Seres sociais mais efetivos.

Viver é importante, conviver é mais significativo, porque interferimos e somos interferidos enquanto Seres sociais.

Observar o outro, respeitar, aprender com ele, agregar não só conhecimento, mas também sua maneira de ser e agir no contexto social. E esta convivência efetiva deverá ser ampla no que diz respeito à diversidade de culturas, costumes, conceitos, escolhas, faixas etárias e outros aspectos. O aprendizado acontece a todo momento, podemos dizer até mesmo a cada segundo.

Estejamos atentos sempre a tudo o que acontece, não desperdicemos oportunidades de observar e aprender.

Estarmos imersos nesse contexto do aprendizado abre nossos horizontes e nos permite ter mais empatia, compreensão, respeito, entendimento, solidariedade.

Não podemos nos fechar em uma casca rígida onde nem compartilhamos, nem acolhemos.

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